segunda-feira, 14 de março de 2022

PARA QUE SERVEM AS “TESES”...

 

... e  dissertações dos universitários?

No dia da inauguração da placa que colocamos na casa onde nasceu o nosso Landi, em Bolonha, encontramos uma senhora nos esperando. Antes que o padre abençoasse a placa e antes mesmo que iniciasse a cerimonia, ela pediu a palavra.

Apresentou-se: além de professora da Universidade de Bolonha, era uma condessa, soubemos depois, e disse que a sua tese de doutorado, em 1958, tinha sido sobre Landi, e que muito se admirava que, “quem teve a ideia de colocar essa placa aqui”, não a tivesse procurado.

A pessoa que financiou a colocação da placa, era presidente de um órgão chamado Consulta Regionale da Região Emilia Romanha, o qual, entre outras coisas, SE OCUPAVA DOS ITALIANOS QUE VIVERAM/VIVEM NO EXTERIOR. Quando ele começou a falar fez questão de dizer mais ou menos isto: “Bom saber que a senhora estudou o bolonhês Landi, que no século XVIII foi-se para a Amazônia, e nunca mais voltou para cá... Somos da opinião, porém, que teses e outros estudos acadêmicos se ficam trancados nas gavetas ou em arquivos das universidades, de nada ajudam o próximo... De fato, quem nos apresentou o senhor Antonio Giuseppe Landi foi a Dra. De Bacelar Rocque. Ela nos contou tudo o que fez lá naquela área do Brasil, quando nem sabiam ainda se era portuguesa ou espanhola...”. (https://civviva-cidadevelha-cidadeviva.blogspot.com/2018/10/aniversario-do-landi-antonio-giuseppe.html ).  Corria o ano de 2003 quando colocamos essa placa na casa onde ele nasceu.

Contamos essa história porque, de vez em quando, tomamos conhecimento de algum estudo feito nas universidades, que não chegam ao conhecimento público...como deveriam. Estudos esses contidos em teses de mestrado ou doutorado, chatérrimos de ler com todas aquelas citações de professores famosos, mas que em alguns casos tem informações importantíssimas para o simples mortal e também para um melhor governo da cidade.

Os autores dessas teses, algumas vezes, se preocupam em publicá-las, mas não sabemos quantas copias vendem. O valor disso é o estudo feito, enquanto o leitor preferiria ter um resumo, sem as citações, contando, concretamente o resultado do estudo que, em verdade fica entre as quatro paredes de quem estuda o argumento.

Realmente, precisamos conhecer mais, por exemplo, sobre as espécies nativas da Amazônia. Ao longo da vida brasileira,  outros sujeitos acabaram se aproveitando do que é nosso, mesmo se hoje já temos esse conhecimento, mas está trancado em algum lugar. Como exemplo recente temos o ... Fisalis .

Descobrimos o CAMAPÚ, hoje chamado Fisalis, que era mato até uns ciquenta anos atras, e quase não o encontramos mais em lugar nenhum, mas não por motivos nobres, já que ninguém conhecia o seu valor. Um dos motivos de sua importância e seu valor está no extrato da raiz, do caule e da folha, como antibacteriano...,  mas também é diurético, antioxidante, antitumoral e bom para controlar a pressão arterial. Daí descobrimos que pode ajudar na luta conta o “Mal de Alzheimer, mas nãodinheiro dinheiro para investir em ciência  .

De vez em quando os pobres mortais descobrem, por exemplo que: dois terços ou mais das plantas que enfeitam nossas ruas, são “exóticas”, estrangeiras, a começar pela  mangueira, que Landi trouxe de Mariuá (hoje Barcelos no Amazonas), mas é originaria da Índia.

Nos dois anos que passou em Mariuá, esperando a Comissão Espanhola para discutirem de quem era o domínio de toda aquela terra que ficava pra lá do Tratado de Tordesilhas..., Landi provou tudo de “novo” que encontrou na floresta. Ajudado pelos índios, por exemplo, descobriu o guaraná, que o teria deixado dois dias acordado. Aliás, de todas as frutas que provou, preparou mudas que trouxe para Belém, inclusive a da manga.

Minha avó contava que membros da sua família hospedaram várias vezes, nas fazendas situadas nos paranás entorno a Obidos,  os cientistas que andavam pela Amazonia  estudando o nosso patrimônio biológico e etnológico. No início do século XIX, Von Martius e Von Spix estudaram e catalogaram mais de 20 mil espécies, o que levou a divisão do território brasileiro  nos seus cinco biomas: Mata Atlântica, Amazônia, Caatinga, Cerrado e Pampa.

Pensar que no  entorno do Largo do Redondo,  situado no cruzamento da av 16 de Novembro com a rua de Óbidos, tivemos, primeiramente, o Horto das Caneleiras. Ali eram  depositadas as plantas que chegavam de Caiena durante a ocupação portuguesa, entre 1809-1817. Era, praticamente um jardim de aclimatação de plantas que depois eram mandadas ao Jardim Botânico do Rio de Janeiro. O poder público ainda não teve o cuidado de providenciar qualquer indicação dessa situação do passado nas vias atuais, o que deveria ser corrigido, o mais breve possível.

Ao que vinha de fora se acrescentava o que cientistas brasileiros também continuavam a escobrir. Hoje temos conhecimento, de muitas espécies vegetais amazônicas, para poder escolher aquelas que devem ser usadas na arborização e no paisagismo de nossos logradouros públicos..., caso a opção seja a de usar somente as espécies nativasAliás, os cidadãos podiam ser ouvidos a respeito.

Se formos procurar nas gavetas, armários e arquivos virtuais que guardam teses e dissertações feitas nas nossas universidades, encontraremos, com certeza, propostas interessantes que bem poderiam ajudar a fazer as opções para serem votadas  pelos cidadãos, na busca pela melhoria generalizada da qualidade de vida.

O município de Belém dispõe de um Manual de Orientação Técnica de Arborização Urbana de Belém. A PMB não tem esclarecido publicamente se esse documento tem sido usado nas novas ações de intervenções em áreas verdes de Belém. Tomara que sim!

Já há vasto conhecimento acadêmico acumulado e aplicado sobre conservação de edificações de relevância cultural e sobre mobilidade urbana, mormente em centros históricos, que requerem tratamento especial devida às vulnerabilidades desses sítios. Em Belém, porém, continuam em uso os anacrônicos, prejudiciais e ineficientes sistemas de mobilidade nas áreas mais sensíveis do Centro Histórico, onde são permitidos o acesso e trânsito de veículos automototes e outras atividades incompatíveis com as estruturas físicas e com as características da paisagem urbana local. 

Essas atividades têm acelerado o processo de degradação das edificações (erigidas em sistemas construtivos que não suportam a trepidação e as ondas sonoras causadas pelo trânsito de veículos muito pesados e grandes). Tanto ou mais prejudiciais são as atividades autorizadas a se estabelecer na parte tombada da Cidade Velha, que atraem grandes fluxos de pessoas e veículos. 

Tantas são as sugestões de cidadãos, seja com teses, dissertações ou mesmo opinando, inclusive, sobre normas vigentes, a respeito dessa realidade e que são ignoradas. O poder público deveria ser mais atento ao cumprimento da legislação vigente e, também, procurar ajuda na produção intelectual local  (arquivada), além  das  manifestações legítimas da sociedade civil, em suas decisões sobre ações da gestão pública. 


A gestão democratica sugere a participação da população e de associações representativas  dos vários segmentos da comunidade na formulação, execução e acompanhamento de planos, programas e projetos de desenvolvimento urbano (Estatuto da Cidade  art. 2 inciso II)... coisa que nem sempre vemos acontecer.


Um comentário:

  1. Teses não difundidas, plantas exóticas, plantas nativas, arborização urbana, mobilidade, participação popular, legislação e democracia, tudo num artigo só, mas bem concatenados.

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