Estes dias apareceu na internet um vídeo que evidencia as cidades mais faveladas do Brasil.
Nós crescemos ouvindo falar das favelas do Rio de Janeiro, e as conhecíamos porque compunham as paisagens de alguns cartões postais da cidade. Cabe lembrar que aqui, a nomenclatura desse tipo de aglomerado humano subnormal é "baixada".
Paralelamente, porém, tal realidade se espalhava, principalmente pelo Norte/Nordeste do Brasil.
Agora, resulta desse vídeo que o Rio de Janeiro está em décimo lugar quanto à área favelada, e é seguido por: Recife, Teresina, Fortaleza, Macapá, São Luiz, Vitoria, Salvador, Manaus e ... Belém com 55,49% do seu território ocupado por favelas...
Todos ficamos maravilhados, pensando, talvez, que favela somente havia em morros, e não também em beira de rios e igarapés (por isso, o termo "baixadas")...
O certo é que todos ficamos chocados, principalmente ao ver que a COP-30 ignorou totalmente essa realidade, e se preocupou em enfeitar dois canais dos muitos que existem na malha urbana de Belém. A maioria desses canais se originam de igarapés, que foram inpermeabilizados e retificados, uma prática ultrapassada de intervenção urbana, mas que continua a ser usada entre nós.
Começamos a ver obras surgirem sem nunhuma discussão com a cidadania, como previsto pelas leis em vigor. E pior, sem placas indicando início e fim das obras, valor investido, e os responsáveis pelas obras, também...
No exterior, todos queriam saber que cidade era essa Belém..., no meio da floresta. Todos sempre ouviram falar da floresta amazônica, além da publicidade há anos do Hotel Amazonas (dizendo desde fevereiro de 1942 na revista de nome "Seleções do Reader's Digest", que era no meio da floresta), em Manaus. De Belém, bem pouco se sabia. Lógico que os interessados em publicidade, com a COP-30, principalmente, começaram a se preocupar em saber que cidade era essa...
E vieram, aos poucos e incógnitos, conhecê-la.
foto de Bruno Cecim ag. Pará
É logico que rodando por Belém, se depararam com as nossas “baixadas”, que para nós eram apenas bairros das classes mais pobres... Devem ter voltado decepcionados, primeiro porque não estávamos bem no meio do mato, dormindo em galhos de árvores, como pensavam e esperavam todos os futuros visitantes. E tínhamos até edifícios.
As “baixadas”, porém, que ocupam mais de 55% do nosso território, os impressionaram, segundo o referido vídeo que viralizou.
Como é que os organizadores locais desse evento não lembraram, ao menos de “melhorar” a Cidade Velha, para mostrar ao mundo onde Landi criou o neo-classicismo..
Se preocuparam com a... banda de lá, longe do rio. O Mercado de São Brás, a conversão da área do antigo aeroclube em um grande parque urbano, foram as principais preocupações, não a nossa memória histórica, mais representada na Cidade Velha e entorno, ou... os arrabaldes, completamente abandonados, e sem a infraestrutura mínima.
Quem vem de fora notou isso, e levou essa notícia para lá, incluindo o fato de aqui não ter espaço nem "em árvores" para tantos visitantes...
É lógico que podiam estar nos programas de intervenções, a requalificação dos canais selecionados e suas margens, para investir recursos públicos, mas não prever as obras necessárias para melhoria das condições de habitação nas áreas de baixadas, foi um tiro que saiu pela culatra...
A vista do Rio Guamá, no Portal da Amazonia deveria ter sido mais aproveitada, mas o que se vê no seu entorno precisa muito de atenção do poder público. Ali encontramos a Baixada da Estrada Nova, um conglomerado
urbano favelizado, localizado nas antigas terras de várzea da região central da
capital paraense... que nos leva até a zona da UFPa que, dentro e fora precisa de mais atenção e muitas melhorias, também.
A cura da nossa orla seria uma ajuda enorme para o incremento do turismo depois da COP-30..., mas ignorar as baixadas foi um contrasenso... frente, inclusive, aos investimentos que, privados, estão fazendo na área da orla frente a praça do Arsenal e no Beco dos Cardoso, onde um portão, ha anos fecha a orla da Joaquim Távora....
Desse jeito os ribeirinhos vão ser substituidos pelos...novos ricos, com suas marinas.