quarta-feira, 17 de janeiro de 2024

Adquirindo mais experiência...

 

Os arquitetos mais sérios, com certeza, gostariam de estar no meu lugar neste momento, seguindo os trabalhos de restauro de uma “villetta” anos 20, ou seja de cem anos atrás, construída em Roma. Trata-se de uma construção tipo “Barocchetto Romano” a ser salvaguardada, num bairro onde muitas outras ainda estão de pé, bem conservadas.

Este prédio depende da  “Soprintendenza Speciale Archeologia Belle Arti e Paesaggio di Roma” que tem como atividade a tutelaconservação e valorização dos bens imóveis ou moveis de interesse artístico, históricoarqueologicodemoetnoantropologico, arquitetonico e paisagistico pertencentes a orgãos públicos ou institutos legalmente reconhecidos.  

É o equivalente ao nosso IPHAN, na Itália, e sua atividade abranje também,os bens pertencentes a privados cidadãos, se declarados de interesse particularmente importante e notificados de forma administrativa aos proprietários como previsto no  Decreto Ministerial emanado de acordo com a lei 1 de junho de 1939, n. 1089 (em vigor  até  2004) ou através de quanto estabelecido no D.Lei. 22 de  janeiro de 2004, n. 42: Codice dei Beni Culturali e del Paesaggio.

Em toda Italia são  43 esses órgãos e dependem do Ministério da Cultura. Cuidam da catalogação dos bens de interesse cultural presentes no território de sua competência, indispensavel para a formulação de ações orgânicas de  tutela dos mesmos. Com ato do superintendente, autorizam a execução de obras e trabalhos de qualquer gênero nos bens culturais; seja para os bens de propriedade pública, seja aqueles de propriedade privada já com declaração de interesse. O pedido é feito pelo proprietário do bem cultural e autorizado entro 120 dias.

Vamos abrir um parentese: para quem faz um pedido, esperar 120 dias é chato, mas se pensarmos na quantidade de prédios e monumentos que tem em Roma, com toda a história que carrega nas costas... Um absurdo seria pretender tanto em Belém, para o tão pouco que temos para salvaguardar...

O bairro onde se encontra o prédio em exame é Città Giardino, que, mesmo se acabou de completar 100 anos, mantém uma forte identidade histórica e arquitetonica tendo no seu entorno ruas movimentadas  como  a Nomentana. A Praça Sempione foi o centro das festas desse centenário e, até uns anos depois da Segunda Guerra Mundial,  era ainda rodeada de villette como esta em exame.

A parte externa das obras, são aquelas mais controladas pela Superintendencia em questão. Internamente, o proprietário do bem, tem maior liberdade de ação. No caso em exame o assoalho, na maior parte da casa é de ladrilho tipo marmorite, e pode até  ser mantido, como antes. As telhas devem ser as tradicionais: teto solar é proibido. No momento de escolher a cor do prédio o proprietário deve fazer duas propostas ao ente que vai decidir a cor... O arco íris não está em exame: ao redor, todos os prédios são de tonalidades amarela, bem claras e dessa gama devem sair as tonalidades a  serem escolhidas para os muros externos.



Diferentemente, em Belém
  o arco iris é usado a-go-go- em área tombada. Não é necessária uma lei para determinar as cores, bastariam as palavras: salvaguarda, proteção e defesa da nossa memória histórica, para evitar que o roxo, o vermelho ou o verde bandeira, sejam permitidos na área tombada até em frente o do lado de prédios tombados. Acontece que, independentemente de ter titulo de Master ou PHD, seja o português, que o Direito, são pouco conhecidos por quem decide esses absurdos, assim cada um pinta a casa da cor que quer... mesmo se a área é tombada e a cor nada tenha a ver com nosso passado. Imaginem o Coliseu rodeado de casas coloridas...

Mesmo viajando por países com  história antiga, os turistas brasileiros nem notam esses detalhes. A parte a Grecia onde em suas ilhas o branco é dominante, nas cidades históricas europeias, as cores das casas variam de acordo com a tonalidades das pedras ou da queima do tijolos, usados durante a construção. Na Italia, Bolonha, chamada “la rossa” (vermelha).é conhecida assim pela tonalidade da queima dos tijolos, quando não faziam ainda o reboco... e não, por ter sido governada por comunistas durante 50 anos... Ali se encontram todas as tonalidades da queima dos tijolos do amarelo pálido ao vermelho sangue  de boi... e não é um erro, é a realidade em tantos anos de história. Agora, roxo ou verde bandeira, em Belém, da onde vem é que não sabemos....

Sabem o que notam os nossos turistas no exterior? Que os bares usam as calçadas... sem notar se passam carros, onibus e, pior, sem saber o custo que é para o dono do bar aquele uso... cobrado ao turista, depois. Lá se paga, em muitos casos, o uso da calçada que é pública, para pedestres.   Aqui é de graça esse abuso que tira um direito ao cidadão, em troca de nada... Na nossa lei  está escrito "calçada é para pedestre", mas, la vem a história de conhecer a lingua... ou, a de respeitar a lei. E ainda se acham "civilizados".

Ao viajar, olhar  o entorno com mais atenção, seria interessante para descobrir como defender nossa memória sem exageros, superficialidades, distrações ou... se deixar levar pelas  pretensões de categorias economicas.



terça-feira, 9 de janeiro de 2024

NOVO ANO...

 ... novas postagens.

Minha neta está estudando os verbos. Chegou em casa perguntando sobre alguns tempos do verbo AMAR... em italiano.

Juntamente com meu genro, tentamos declinar os vários tempos de verbo, dando exemplos com frases... "io t'ebi amata" nos fez parar e refletir sobre aqueles tempos que não se usam mais nem em poesia.  De fato notamos quantos tempos de verbo nunca usamos...  descobrimos que no nosso dia-a-dia, usamos apenas 300 palavras entre todas as existentes...

O artigo abaixo foi providencial, ao menos para nós, mais velhos...

"O desaparecimento progressivo dos tempos (subjuntivo, passado simples, imperfeito, formas compostas do futuro, passado participativo ... ") dá origem a um pensamento do presente, limitado ao momento, incapaz de projeções no tempo.
A generalização da tutoria, o desaparecimento de letras maiúsculas e pontuação são golpes mortais para a sutileza da expressão.
Remover a palavra "saudade" não é só desistir da estética de uma palavra, mas também promover a ideia de que não existe nada entre uma menina e uma mulher.
Menos palavras e menos verbos combinados significa menos capacidade de expressar emoções e menos capacidade de formular um pensamento. Estudos mostraram que alguma da violência nas esferas pública e privada decorre diretamente da incapacidade de colocar palavras sobre emoções.
Sem uma palavra para construir um raciocínio, o pensamento complexo querido por Edgar Morin é dificultado, tornado impossível. Quanto mais pobre a língua, menos pensamento existe.
A história é rica em exemplos e escritos abundam desde Georges Orwell em 1984 até Ray Bradbury em Fahrenheit 451, que contava como as ditaduras de toda a obediência impediram o pensamento reduzindo e torcendo o número e o significado das palavras.
Não há pensamento crítico sem pensamento. E não há pensamento sem palavras.
Como construir pensamento hipotético-dedutivo sem domínio da condicional? Como imaginar o futuro sem conjugação com o futuro? Como compreender uma temporalidade, uma sucessão de elementos no tempo, quer tenham passado ou vindo, e sua duração relativa, sem uma linguagem que faça a diferença entre o que poderia ter sido, o que foi, o que é, o que poderia ser, e o que será depois disso o que pode acontecer, aconteceu? Se hoje fosse ouvido um grito de comício, seria aquele, dirigido aos pais e professores: deixem os vossos filhos, os vossos alunos, os vossos alunos falarem, lerem e escreverem.
Ensine e pratique a linguagem nas suas mais variadas formas, mesmo que pareça complicado, especialmente se for complicado. Porque nesse esforço está a liberdade. Aqueles que explicam ao longo do tempo que é necessário simplificar a ortografia, purgar a linguagem dos seus "defeitos", abolir gêneros, tempos, nuances, tudo o que cria complexidade são os túmulos da mente humana. Não há liberdade sem exigências. Não há beleza sem o pensamento de beleza".
Christophe Clavé