quinta-feira, 30 de maio de 2013

SABE LA COM QUEM CASARAM?


Estamos em Belém, fins de 1800, exatamente  1892. Presente “O Doutor Geraldo de Souza Paes de  Andrade, Juiz de direito da segunda vara Civel na Jurisdição reciproca da de Orphãos da Comarca da Capital do Estado Confederado do Pará.”

Motivo:  o  registro da “...minha muito fiel e verdadeira Carta de Sentença Civel de Formal de Partilha extraída e fielmente resumida dos respectivos autos...”.

Trata-se de um documento de 70 folhas, escrito a mão de ambos os lados onde “se trataram, correram, e processaram, sendo finalmente sentenciados uns autos cives de inventario e partilhas, dos bens deixados pelos finados Doutor Carlos Alberto Quadros e sua mulher Dona Amelia de Miranda Quadros...”

Este particular ato tem inicio  quando no “Anno do Nascimento de Nosso Senhor Jesus Christo de mil oitocentos e noventa e um, aos nove dias do mez de Outubro, n’esta cidade de Belém do Pará, em meo Cartorio, autoei  portaria que segue, do que faço este autoamento.”

Eles tinham falecido, “o Doutor Carlos Alberto Quadros em Portugal no mês de Agosto próximo passado e Dona Amelia de Miranda Quadros em Paris, no corrente mez.”  ....” deixando duas filhas de nomes Umbelina de Miranda Quadros de dezesseis annos de idade e Amelia de Miranda Quadros de treze annos de idade...”

 Para inventariante dos bens deixados pelo casal foi indicada a mãe da falecida, ou seja  Dona Amelia Augusta  Mendes Chermont a qual nomeou “Aos onze dias do mez de Dezembro do anno do Nascimento do Nosso Senhor Jesus-Christo de mil oitocentos e noventa e um n’esta cidade de Belem do Estado do Pará...seu bastante procurador nos presentes autos o senhor Doutor Domingos Antonio Raiol, Barão de Guajará, para por ella outorgante na qualidade de inventariante dos bens deixados pelos seus finados genro e filha...”.

Prosseguindo a leitura do ato vimos a saber que a viúva, após a morte do marido, tinha providenciado  a “...nomeação de tutor testamentário  das órphãs...”  Isso acontecia “...aos trinta dias do mez de Setembro n’esta cidade de Lisboa e Hotel Borges rua Garret numero cento e oito, aonde eu tabelião vim, ...  Que pelo presente instrumento nomeia tutor das referidas suas duas filhas: em primeiro lugar o seo primo Doutor Pedro Chermont de  Miranda, ... actualmente  residente em Paris rua Euler numero  doze; em segundo lugar o senhor Doutor Domingos Antonio Raiol, Barão de Guajará, actualmente  residente na cidade de Belem no Pará, casado e, em terceiro lugar seo primo o doutor Vicente Chermont de Miranda...”.

Acontece que o primo “Pedro Chermont de Miranda, Bacharel em direito e capitão da Guarda Nacional” morava em Paris, assim sendo resolve constituir “...por meo procurador na cidade de Belem do Pará, ao doutor Domingos Antonio Raiol, Barão de Guajará, especialmente para, por mim, prestar juramento da tutoria das menores...”. As meninas-herdeiras, foram então chamadas no “Consulado Geral dos Estados Unidos do Brazil em França”, Paris, onde residiam,  para assinarem a relativa  procuração.

Essas informações estão contidas nas quinze primeiras paginas do ato em exame. Nas paginas seguintes vamos ver desfilar  outros sobrenomes famosos na história do Pará, como Gentil A. de Moraes Bittencourt, Aniceto Francisco  da Gama Malcher, além do diretor da Coletoria Municipal de Belém do Pará, João Malcher que certifica o pagamento de “decimas do segundo semestre’, e algumas vezes, multas, dos inúmeros prédios de propriedade da família.

A partir da pagina 81, começamos a encontrar  descrição de alguns imóveis. Começam com a “...casa de sobrado, sob numero nove pela numeração moderna sita a rua Conego Siqueira Mendes, canto da Vigia, medindo pela frente dezenove metros e de fundos  vinte e sete metros e  dez centimetros  limitando pela dita rua  com o prédio dos herdeiros de José Maria de Paiva Osorio e pela travessa com o sobrado fulano Magalhães...” e prosseguem descrevendo como era dividida a casa, seja embaixo que em cima; de que material era feita; onde as paredes e divisorias eram de pedra e cal e aquelas de enchimento de madeira e terra; a madeira do assoalho etc. Quem sabe é a atual Casa Rosada?

Outra “...casa de sobrado, sob numero cincoenta sita ao Largo do Carmo, com duas frentes, medindo treze metros e dez centímetros pelo lado do largo e trinta e seis metros pela travessa do mesmo nome...’ com todos os detalhes possíveis. Será o Forum Landi???

O mesmo fazem com o sobrado numero 42 do Largo do Carmo, com fundos em terreno de marinha e “...limitando por um lado com o predio  do padre José Pinheiro Lobato e por outro com o de dona Joaquina de Mattos Cunha..." . Depois uma casa sita na Frutuoso Guimarães sob numero 121; outra na Dr. Assis n. 79; outra casa térrea  na Trav. da Barroca n. 29; metade da “puchada do sobrado a Travessa dos Ferreira, sob numero trinta e trez...” alias, nesta travessa dos Ferreiros, inúmeras eram as casas de porta e janela de propriedade da família: numeros 35, 39, 41, 43, 45.

Esse detalhamento continua por várias paginas falando inclusive  ”... da Olaria Sant’Antonio da Pedreira,   situada a margem  direita do rio Guajará, com meia légua de terrenos de frente, a começar do igarapé Chermont até  o igarape   Tocunduva, com fundos até a sala que serve de hospital dos lázaros...”     
     
Para encerrar relacionamos os outros prédios resultantes da partilha e sitos na 15 de Novembro n.26;  Siqueira Mendes n. 9; Dr. Assis ns. 81 e 83;  rua d’Alfama, 17; Sant’Anna, 69; das Flores, 21; Dr. Malcher ns. 95. 97. 99, 101, 103, 105 e 107; trav. da Barroca 14 e 29; D’Atalaia 14; Dr. Frutuoso Guimarães 121; Tv. Dos Ferreiros ns. 21, 23, 25, 27, 28, 29, 31, 33,  37, alé das acima citadas; largo do Carmo ns. 6, 12 e 14, trav. 7 de setembro 5. Ainda o Capinzal da Estrada do Arsenal,  uma fazenda/sitio Cutrin situado na  freguesia de Santo Filomeno do Cutrin, na cidade de S.Luiz do Maranhão, entre os riachos dos Bebados e Cutrin...e várias dezenas de contos de reis nos bancos.

Vários argumentos podiam servir para discussão. Me limito, hoje,  a pensar como era a vida naquele tempo, para alguns...e como algumas coisas se repetem ainda hoje.

Pobres moças: quem sabe se tinha fila na frente da casa delas, para namora-las !!!
Quem sabe com quem casaram? 


segunda-feira, 27 de maio de 2013

O PAINEL DE MOSAICO DO AEROPORTO DE BELÉM



Em meados dos anos 50 Douglas Marques de Sá, artista musivo, recebeu  encomenda para fazer um painel d 60 metros para o novo aeroporto internacional de Belém.  Nesse período, principalmente em Copacabana, era de moda adornar as fachadas dos edifícios com painéis em mosaico.  Se tem conhecimento que, praticamente “toda a constelação modernista, de Di Cavalcanti a Portinari, de Carlos Bracher a Quirino e Hilda Campofiorito, de Antonio Carelli a Flávio Shiró, de Volpi a Clóvis Graciano, de Burle Marx a Calabrone” foi atraída pelo trabalho com mosaico.

A elaboração do painel de mosaico para o nosso aeroporto durou dois anos sendo concluído em 1957. Era todo ele em pastilhas de vidro e,  antes de sua entrega, foi  exposto no Museu Nacional de Belas Artes no Centro do Rio de Janeiro. O Diário de Noticias no dia 8/5/1957 publica a opinião da “nossa” Eneida a respeito: Vi o mural de Marques de Sá e fiquei contente. Lá estão nossas aves, nossas flores, um jacaré anuncia que não se brinca com os nossos rios, há um gavião tão real que já prepara seu vôo, e vai ser bonito quando o turista ou mesmo o natural do país chegar a Belém e tiver a saudá-lo no aeroporto nossa flora e fauna.

Em 1957 o painel de mosaico foi colocado na entrada do Aeroporto de Belém onde ficou até 1964. Uma bela manhã, depois do golpe militar, o painel foi encontrado no chão...demolido sem alguma motivação plausível.

O autor não fez fotos da obra, mas um “cartão postal” do painel já instalado no aeroporto de Belém, foi feito e colocado em venda em Belém por alguns anos. Sobraram porém os esboços originais da obra que H. Gougon, jornalista e mosaicólogo conseguiu trazer até nós.

Quem sabe algum colecionador tem o cartão postal  do painel do aeroporto? 


douglas3estudos.jpg

O Painel ganhou muitos estudos antes da forma final.

A obra foi destruída, mas os esboços permanecem intactos.

FONTE: http://mosaicosdobrasil.tripod.com/id17.html


sexta-feira, 10 de maio de 2013

O livro que não saiu


Relembrando a Mostra: COM EIRA, BEIRA E...RAMO DE MANGUEIRA

Minha avó, quando falava de alguém que considerava pobre e sem
origens, costumava enfatizar dizendo que era: sem eira, nem beira, nem
ramo de figueira. Hoje, a parte final deste ditado foi esquecida, mas,
quando parei de banalizar o olhar, ele me voltou em mente por inteiro.

Isso aconteceu quando decidimos fazer um livro de fotografias do nosso
patrimônio, onde a intenção era mostrar o que sobrou dos vários estilos
arquitetônicos existentes em nossos bairros. Além do colonial, queríamos
lembrar aqueles produzidos por aquela “nova elite” pertencente aos
setores privilegiados da população que aqui viveram no tempo da
borracha. Era nossa intenção, inclusive, resgatar elementos decorativos
de estilo barroco, rococó, eclético, até chegar ao muito mais recente “raio
que o parta”. Praticamente, queríamos mostrar algo do remanescente de
pouco menos de duzentos anos de arquitetura feita em Belém, que,
distraidamente, olhamos... não vendo.


A
s fotografias começaram a ser feitas e os problemas começaram a
aparecer. A impossibilidade de retratar alguns imóveis a causa de
publicidades e pichação em seus frontões se materializou concretamente.
Postes e fios elétricos eram outros inconvenientes que encontrávamos.
A medida que avançávamos na pesquisa, mais difícil se tornava o
nosso intento. Mesmo mudando de estilo e de bairro a situação não
melhorava. Seja no Reduto que na Campina ou na Cidade Velha, o
problema se apresentava igualmente, com pequena exceção para a
Avenida Nazaré.



A insensibilidade, a especulação imobiliária, a incúria,
reduzia, portanto, de muito nossas fotos. Até o clima não nos ajudava,
certamente. O Palacete Pinho, com seu restauro inacabado, já
apresentava um pé de apuizeiro no telhado.
Ao passar pela Rua XV de Novembro nossa ilusão se
dissipou definitivamente. Como a maior parte dos imóveis ainda é
“original”, ela tinha sido escolhida como uma das ruas para este
levantamento. Foi ali que ficou ainda mais do que claro a total
impossibilidade de fotografar a fachada inteira das casas a causa da
poluição visual: publicidades, poste e fios elétricos as cobriam,
praticamente, por inteiro.


Aquela rua, assim como a João Alfredo, a Santo Antonio e
outras ruas do comércio, ainda tinham muitos imóveis bonitos para
deixá-las de lado. Alí podia-se intuir como o Código de Postura
vigente na época da construção daquelas casas tinha sido seguido
a risca: as beiras estavam la presentes... muitos era ainda possível
reconhecer o estilo e até encontrar a beleza de alguns detalhes.
Resolvemos então nos preocupar em fotografar a parte de cima, os
andares superiores daqueles casarões onde postes e fios elétricos
não chegavam.


Começamos a evitar uma casa, a causa de um ramo de planta no
telhado, outra, pelas plantas que tinham na janela, outra ainda pela
grandeza da arvore que tinha se desenvolvido na parede lateral, e assim
por diante... não sobrava quase nada. Outro problema tinha se
materializado, pesadamente.




Aquelas casas não tinham sido construídas por pessoas sem eira
nem beira... como previa a concepção da minha avó. Algumas ainda
eram do tempo em que o Código de Postura previa aos habitantes da
cidade a obrigatoriedade de “fazerem limpar as testadas de suas
habitações sempre que estiverem sujas...” (1), triste e difícil, portanto,
retratá-las, sem demonstrar a situação de abandono em que se
encontrava aquela herança cultural, testemunha do nosso passado.
Não tivemos outra opção: vimo-nos assim obrigados a centrar nosso
foco de atenção na realidade, sem nada esconder. Se queríamos
fotografar nosso patrimônio, necessário era demonstrar em que
situação se encontrava.



 Como nunca tivemos a tradicional “eira”, ou seja, aquela área
externa mais ensolarada do terreno ao redor da casa e usada para
secar grãos, sementes, milho, etc., decidimos substituí-la,
imaginariamente, com nossas calçadas de lioz, na triste situação
em que se encontram hoje. E, como estamos em Belém, onde todas
essas casas tem beira, como pretendeu o Intendente Antonio
Lemos, em vez de ramo de figueira, e abusando da licença poética,
resolvemos unificar o tipo de vegetação encontrado . Nasce assim
o nome deste trabalho
.

É portanto com imensa tristeza que, além de poucos imóveis
bem tratados, apresentamos também alguns exemplares do que
sobrou do patrimônio arquitetônico do nosso centro histórico, na
situação em que se encontram:


com eira, beira... e ramo de mangueira.

Dulce Rosa de Bacelar Rocque
Presidente Associação Cidade Velha-Cidade Viva

terça-feira, 7 de maio de 2013

A PROPÓSITO DE PUBLICIDADE


'Como a publicidade não consegue vender felicidade, passa a ilusão de que felicidade é o resultado da soma de prazeres: 'Se tomar este refrigerante, vestir este tênis,¬ usar esta camisa, comprar este carro, você chega lá!' O problema é que, em geral, não se chega!'

Esta é uma frase do artigo DO MUNDO VIRTUAL AO ESPIRITUAL de Frei Betto e serve para confirmar o que aconteceu na Italia, nos anos 90. Vou contar:
O muro tinha caído e os países socialistas, pouco a pouco começaram a se transformar em capitalistas. O consumismo chegou, e com eles, também, a possibilidade de ver os programas das tvs europeias. 

Não foram, porém, os programas em si, mas as publicidades que acompanhavam os programas, a chamarem a atenção daqueles  povos. Automóveis lindos e mulheres maravilhosas, parece que se encontravam gratuitamente pelas estradas... Motocicletas possantes, roupas lindas, bebidas diferentes, tudo era novidade para eles.

Em poucos meses, começaram a chegar, timidamente, do lado de cá do Mar Mediterrâneo, gente muito branca falando línguas desconhecidas. Não eram alemães, aqueles ‘turistas’ sem dinheiro que vagavam pelas ruas das cidades a beira mar como Rimini, Ricione, Cattolica, olhando vetrinis...

Chegavam e ficavam. O pouco dinheiro que tinham trazido acabava em dois dias e, então, saiam procurando trabalho, sabendo dizer, somente ‘tchau’. Acabavam indo trabalhar por metade do salario ganho pelos italianos, arrumando cadeiras e guarda sois nas praias ou indo recolher tomate, melancia ou a fruta que estava na época da colheita.

Isso acontecia, principalmente no norte da Italia, por que no sul, quem chegava eram os africanos, os árabes, e a questão era bem diferente. Logo que descobriram a época da colheita, que dependendo da fruta, começava em maio, se despencavam em naves velhíssimas que não conseguiam atracar em nenhum porto pois se quebravam no meio do mar e a metade deles acabava morrendo afogada.

Nos primeiros anos, nem se notou muito essa realidade, pois os navios eram pequenos e os desastres que combinavam, quase não chegavam na mídia. Com o tempo, os ‘vucumprá” apelido dado aos negros que vendiam tapetes nas praias tentando perguntar em italiano “Vuoi comperare?” (queres comprar?), chegaram ao norte da Itália, atravessaram as fronteiras e...invadiram a Europa.

Eles também chegavam a procura daquela mensagem que a TV passava. Procuravam aquela felicidade que não tinham e em vez acabavam engrossando o numero de desvalidos estrangeiros que começou a preocupar os europeus. Foi assim que começaram a notar essa realidade e a quantidade de navios que afundavam, cheios de gente, antes de chegarem num porto qualquer das ilhas ou da costa italiana.

As ruas começaram a se colorir. A prostituição dos “viados” brasileiros teve que dividir espaço com russas, polacas, africanas...

Os anos passaram e as publicidades acrescentaram os celulares, computadores, ipod, ipad... e as novas gerações queriam isso também. 

Nessas alturas é o caso de perguntar: 'Qual modelos produz felicidade?
“ Há uma lógica religiosa no consumismo pós-moderno. Na Idade Média, as cidades adquiriam status construindo uma catedral; hoje, no Brasil, constrói-se um shopping center. É curioso: a maioria dos shoppings centers tem linhas arquitetônicas de catedrais estilizadas; neles não se pode ir de qualquer maneira, é preciso vestir roupa de missa de domingo. E ali dentro sente-se uma sensação paradisíaca: não há mendigos, crianças de rua, sujeira pelas calçadas...”

Aconselho a leitura desse Passeio Socrático do Frei Beto. Servirá, ao menos, para pensar a respeito de nos mesmos.
PROCUREM O ARTIGO NA INTERNET.

domingo, 5 de maio de 2013

APRENDENDO COM A PRIMEIRA REVISTA DO IHGPa


É em fase de construção o site do Instituto Histórico e Geográfico do Pará. Para quem gosta de história, porém, clicando  ihgp.net.br já se encontra bastante material interessante a disposição.
Curiosa,  iniciei a minha visita abrindo o primeiro numero da revista do IHGPa, datado 1917, a qual começava com a Ata de (re)constituição do Instituto, seguida por uma Alocução de Ignacio Moura, depois um artigo de H. Santa Rosa sobre Dados dos geólogos e Hydrografia Paraense.
Na pagina 16 encontro Annaes Históricos do Estado do Maranhão, reflexões de Palma Muniz (Bernardo Pereira de Berredo).  Comecei a ler e parei neste paragrafo; “Em 1507, Martins Waldscemuller, jovem professor de Geografia do Colégio de Saint-Dié, na Lorena, propoz, em uma pequena obra intitulada Cosmographiae Introductio, dar ao Novo Mundo o nome de AMÉRICA.”
Essa informação foi uma descoberta para mim. Sempre me perguntei quando tinham decidido isso e quem? A partir dai, a minha curiosidade aumentou. O que mais  poderia encontrar de interessante na revista? Esforçado a vista, continuei minha consulta.
Na pagina 38 no artigo “Uma execução Capital” de João Victor G. Campos,  descubro que  “Foi em 1851 que na cidade de Santarém, pela ultima vez matou-se um homem legalmente, derrubando-se para sempre, em fevereiro o patíbulo que se usava levantar em praça pública.” Essa informação eu também não conhecia.
Mais adiante na pagina 42 encontrei um artigo que meu amigo José Varella com certeza conhece “Ilha de Marajó, sua origem” (Pedro Bezerra da Rocha Moraes, engenheiro civil).
De Theodoro Braga, em vez, poderemos ler na pagina 49 “A arte decorativa entre os selvagens da Foz do Amazonas” e mais adiante na pagina 52,  Bento de Figueiredo Tenreiro Aranha, jornalista, neto do Patrono da cadeira no. 11 do IHGPa, escreve sobre “Terra, as cousas e o homem da Amazonia”.
Inédito, temos na pagina 71, de Palma Muniz, Os Contemplados (não contemplados com documentação). Trata-se do resumo em índice das doações feitas a algumas pessoas que não constavam do ‘catalogo das sesmarias, registradas nos 20 volumes existentes no nosso Archivo do Estado e, como appendice, uma nota sobre as doações feitas aos contemplados com as terras e fazendas que pertenceram aos religiosos expulsos e sequestrados com a lei pombalina de 1755.” Outro argumento interessantíssimo, principalmente para quem estuda a ilha de Marajó.
Me prometi ler o “Diário abreviado da viagem que fez o tenente-coronel Valério Corrêa Botelho de Andrade, da cidade do Pará para a capitania de S. José do Rio Negro, por ordem do Ilm. Exm. Snr. Manoel Bernardo de Mello e Castro Governador e Capitão General do Estado.” Esse manuscrito (pag. 93) encontra-se na correspondência com o governo entre 1759 e 1762 e foi copiado por Palma Muniz. O meio irmão do Marques de Pombal já tinha ido embora, mas o Landi ainda estava aqui quando esse Governador mandou fazer essa viagem...
O último artigo trata uma “Ressurreição Histórica”, oferecida  “Ao egrégio historiador Rocha Pombo”. Descubro assim que, naquela época,  existia uma Comissão encarregada de julgar as... ‘Memórias históricas da fundação de Belém’ e que o Pedro d’Almeida Genú, da Universidade La Sapienza de Roma pede ao IHGP de ‘fornecer uma nota oportuna’ ao historiador que, ‘vem de mui e longe colhendo, aqui e ali,  subsídios reais ao seu honroso trabalho,....a fim de que o ilustre hospede possa acima de outro qualquer subsidio levar o da verdadeira data de fundação da nossa capital, questão por várias vezes debatida e até hoje, infelizmente, inda não cabalmente resolvida,  feito que irrefutavelmente se realizou a 26 de janeiro d 1616, pelo capitão Francisco R. Caldeira Castello Branco, embora tenha aqui chegado dia 25 ao entardecer”.
Mais uma descoberta feita: Belém teria sido fundada dia 26 de janeiro de 1616. Essa noticia, porém, deve ter provocado uma bela discussão. Com certeza encontrarei o  porque da data que festejamos hoje em outro numero da revista.
É interessante nesse artigo, também, o  que ele,  Dalge (como se assinava o autor do artigo),  conta sobre o que leu num livro publicado em Roma (De Orbis magnitudine et antiquitate )  em 1692 do escritor árabe J.P. Eldrissi.  Este afirmava que ‘antes da tomada de Troia e da fundação de Cartago,  em Africa,  já na America, n’esta região que hoje corresponde á Amazonia,  existia o reino de Merope, o Parvaim..’. Desde  a frota de Salomão é citada.
Valeu, por hoje, essa leitura.  Eu aprendi muito. A distancia de quase cem  anos, aconselho dar uma olhada nessas revistas, tem argumentos muito intrigantes. O nivel é muito alto. 

Que bom que agora todos  poderão ter acesso. Parabéns a direção do Instituto e ao curador do site.