sexta-feira, 24 de outubro de 2014

QUE PENA ESSE NOSSO PATRIMÔNIO...

Eu ando a pé ou de ônibus, assim olho com mais calma o entorno por onde passo,  não tendo que guiar nenhum veiculo. De ônibus, sentando na frente, tenho a possibilidade de ver do alto o que me passa  ao lado o que, nem sempre, porém, resulta em imagens gratificantes.

Nos fundos da Igreja das Mercês tem um semáforo que, por coincidência, fecha sempre quando chega o ônibus onde eu estou. Desde a sede da Paratur, porém,  pela Boulevard Castilhos França acompanho o rio, la no fundo, quando aparece entre um galpão e outro da Doca. No semáforo, em vez, viro a cabeça a esquerda e só falto chorar de desespero ao ver, ha mais de um mês, o que  fizeram com a Igreja das Mercês...do lado de fora. Pinturas e faixas indicam os horários das missas. Chocante.


Acontece que, do lado de la, a frente da igreja  também não foi poupada, e o desespero toma conta de mim. Como é possível um negócio desse? Onde estão com a cabeça, para usar os muros de uma igreja pluricentenária desse jeito?


Entro na Igreja  e so falto desmaiar: pintaram de vermelho as lajotas do chão, como se fossem de cimento. Um abuso atrás do outro, como é possivel?


Olho estarrecida tudo quanto e faço várias suposições; tento encontrar motivações para tais atos vandálicos (para mim o são). Quem sabe é uma provocação?  Não posso acreditar que o responsável  seja ignorante ao ponto de fazer tais intervenções na igreja esquecendo sua historia, sua origem. Será que não sabem que é tombada? Ou é para chamar atenção daquele verdadeiro jardim suspenso amazônico que se desenvolveu nos seu telhado,  e que, com certeza está abrindo canais de infiltração como aqueles encontrados na recem-restaurada igreja do Carmo?

O pior é que esse não é o único  exemplo, infelizmente. Durante estes dias da nossa maior festa, alguem provou  olhar  a  situação da igreja de Nazaré? Viu o estado dos estuques e de toda a decoração? E como é que permitiram todo aquele aparato tecnológico, telas e led por todo lado e altares novos de gosto duvidoso...enquanto a casa está  caindo, praticamente?
Lembrando outros atos que ocorreram  este ano com o nosso patrimônio histórico, não tombado, aumenta o meu desgosto. Falta algo. Será falta de fiscalização? Ou falta de interesse? Faltará mão de obra nos órgãos que tem a responsabilidade de cuidar dos prédios que representam a nossa memória histórica? 

Não vemos resultado das denuncias que foram feitas de estacionamentos que nascem onde tinha alguma casa antiga, e que foi derrubada num fim de semana ou durante o carnaval... Trepidamos pelo que poderá acontecer com o Palacete Bolonha quando concluírem o que estão fazendo no seu entorno. Não vemos diminuir o numero de carretas que trafegam pela área tombada,
fazendo assim trepidar  prédios públicos e privados. Quem nos garante que a Celpa vai tirar aqueles horrendos  medidores de energia que instalou na Cidade Velha? Por outro lado, vemos aumentar, em vez, o numero de casas antigas pintadas com cores fortes que nada tem a ver com nossas lembranças. Enfim....

Lendo as leis, porém, sentimos que os legisladores das tres esferas de governo, tentaram salvar  nossa memória, usando  palavras claras como: salvaguardar, preservar,  conservar, proteger, recuperar,  etc., e isso, feito através de  "vigilância, tombamento, desapropriação e de outras formas de acautelamento e preservação".

Em nenhuma lei encontramos palavras como "revitalização" ou "embelezamento" pois a idéia principal era salvar a nossa memória, aquela real, não uma inventada, mais bonita ou colorida, como vemos agora acontecer até nas igrejas. 


O que está acontecendo em Belém?  O que leva a essa situação? Insisto com as perguntas: na opinião de vocês, será falta de vontade? desinteresse pela  nossa históriaInvestimento em cultura não rende? falta  dinheiro?  será falta de conhecimento das leis? ou de que mais? Enfim, o que deve ser feito para que não desapareça o que sobrou da nossa história?

Este ano, muitos paraenses foram para a Europa, não somente olhar vitrines, fazer compras ou estudar, mas ver também o "Velho Mundo" com seus palácios, igrejas, praças e quanto mais sobrou de séculos de história. Por que nós não podemos deixar nada para nossos netos  e, quem sabe,  algum turista, verem?

Como vai chegar aos 400 anos de Belém o que sobrou do nosso Patrimônio Histórico se nada for feito, rapidamente?

Dulce  Rosa de Bacelar Rocque

(Colaboração e fotos do arquiteto Sérgio Lobato)


P.S. vocês notaram que nenhum candidato nestas eleições se lembrou de por, no seu programa, algo relativamente ao nosso patrimônio histórico?