domingo, 16 de agosto de 2020

QUESTÃO DE CIVILIDADE...???



                Ja estamos preocupados com a próxima reabertura das três praças da Cidade Velha ‘requalificadas’ nestes últimos meses. 

Gostariamos de saber quais tipos de cura/controle/cuidado/fiscalização do uso  será feito para salvaguardar/defender/proteger esses bens dos maus hábitos que costumamos ver acontecer, a começar pela a poluição sonora, ignorada por todos como causa de danos as pessoas, animais e as coisas.

A total falta de respeito pelo nosso patrimônio é fruto da inexistência de educação patrimonial: não se estuda a história da cidade e muito menos de suas ruas e monumentos. Em alguns cursos universitários se chega a estudar algo a respeito, mas isso deveria começar bem mais cedo, desde que as crianças começam a ir para a escola... incluindo noções de "poluição sonora e ambiental".

A noção de pertencimento e de respeito pela cidade, depende muito do conhecimento que tens dela. A isso se  acrescenta uma série de outros costumes ligados inclusive a educação caseira como, por exemplo,  a produção de “barulho” e de "sujeira". Aqui estamos acostumados a esse tipo de produção, seja de dia que de noite e nem sempre fazemos caso. O tic-tac de um relogio na cozinha, pode disturbar o sono de alguem, também.

Relativamente a medida do ruido ambiental, que aliás pode se transformar em poluição sonora em todas as suas possíveis formas, é algo que se deveria começar  a  aprender em casa. Os costumes que assimilamos crescendo, os carregamos conosco, no bem e no mal e um dia, poderemos nos confrontar com pessoas que, ao se civilizarem, adquiriram noções  bem diferentes das nossas... e pode ser chocante.

 Leiam o exemplo que segue:Aconteceu em Lisboa
(Antonio Carlos Lobo Soares*)

Na semana que passou um casal de amigos me narrou um episódio que lhes aconteceu em Lisboa que, de tão inusitado para nós belenenses, decidi compartilhar com vocês. Eles foram surpreendidos às 3h da madrugada com dois policiais a bater na porta do apartamento onde residem, que foi aberta após superarem o susto inicial.

A visita dos policiais foi motivada por uma reclamação do vizinho do andar de baixo sobre o barulho causado por um ventilador. Como é verão nesta época em Portugal e a temperatura sobe, é comum as pessoas dormirem com as janelas abertas. O casal atendeu de imediato à solicitação dos policiais e o "conflito" cessou.

Quando perguntei se o equipamento era barulhento ou se vibrava o piso ao se movimentar, a resposta foi negativa. Eles até enviaram pelo celular uma gravação do ventilador a funcionar, onde quase não se ouve som algum.

Destaquei quatro aspectos deste episódio para comentar, deixando outros a critério da imaginação de vocês: o nível de exigência de conforto acústico dos vizinhos; o silêncio que impera na madrugada de Lisboa, perturbado por um ventilador; a atuação eficiente da polícia de madrugada; e o respeito à autoridade pública, que levou o casal a desligar o equipamento sem qualquer questionamento.

Um ambiente escuro e silencioso é fundamental para propiciar um sono reparador. Os portugueses sabem disso e prezam muito mais que os brasileiros, acostumados com sons de bares, motocicletas, cães etc. em plena madrugada.

Na Comunidade Europeia há "DIRECTIVAS" (atos legislativos) que exigem que os Estados-Membros como Portugal alcancem um determinado resultado. A Directiva 2002/49/CE, de 25.06.2002, que avalia e gerencia o ruído ambiente, contém um indicador de ruído noturno (Lnight) associado a perturbações do sono. Ou seja, há 18 anos que os europeus se preocupam com a qualidade sonora de suas cidades.

É invejável que o contribuinte português possa contar com o poder público, neste caso representado pelos policiais, em plena madrugada, ou seja, na hora que ele de fato precisava.

Por último, admiro o comportamento respeitoso dos amigos brasileiros diante da autoridade pública. Eles não questionaram naquele horário impróprio o nível de ruído produzido ou a atitude "intolerante" dos vizinhos que sequer lhes comunicaram o incômodo com o funcionamento de um simples e para nós silencioso ventilador. 


  * Arquiteto PhD, Museólogo e Artista Plástico,
Tecnologista Sênior do Museu Goeldi.

2 comentários:

  1. EXISTEM OUVIDOS MAIS SENSIVEIS, AO MENOS NO EXTERIOR, ONDE A POLUIÇAO SONORA NÃO É TÃO APOIADA COMO AQUI.

    ResponderExcluir
  2. Cara Dulce Rosa, que belo artigo chega dá um nó na nossa quase selvagem e sem olhar colectivo da nossa sociedade que pouco e nada nada respeita direitos individuais e colectivos, com carros, motos etc.. buzinando a toda hora, lixo de toda espécie na rua e outras mazelas que enchem nosso olhar de dor e tristeza. Lamento lhe dizer que não vejo uma luz no fim do túnel, quem tem dinheiro paga o miserável, para jogar lixo na via pública.

    ResponderExcluir