segunda-feira, 10 de dezembro de 2018

TURISMO NA CIDADE VELHA


Domingo 09 de dezembro de 2018, o jornal Diário do Pará, em duas paginas inteiras,  apresentou opniniões e sugestões sobre um possivel desenvolvimento do turismo na Cidade Velha. A Civviva, que se preocupa principalmente da salvaguarda e defesa do patrimonio histórico desde 2007, estava entre os entrevistados.

A respeito desse argumento cabe notar que, mesmo se o Dr. Almir Gabriel, a partir de  1995 quando governador do Estado do Pará fez umas tentativas a respeito, a ideia não levantou vôo como se esperava.

Interessante a leitura da Tese apresentada como requisito parcial para obtenção do Título de Doutor em Ciências Sociais pela atual Dra.Cybelle Salvador Miranda: CIDADE VELHA E FELIZ LUSITÂNIA: Cenários do Patrimônio Cultural em Belém. Ali ela nos lembra que o Dr. Almir Gabriel tinha um projeto a respeito de turismo no seu "Novo Pará", o qual "se interliga às tendências mundiais de preservação do patrimônio de sítios urbanos como fonte de valorização da identidade local e de dinamização da economia das cidades via incremento do fluxo turístico."



É nesse periodo que o Arq. Paulo Chaves deu inicio a sua carreira de 'revitalizador' de espaços históricos e ela bem percebe "as  contradições entre a imagem ‘idílica’ implementada na restauração da ‘Feliz Lusitânia’ e as dificuldades enfrentadas pelo restante dos espaços que o contornam, pertencentes ao bairro da Cidade Velha." Bem oportuno, em muitos momentos, o uso do termo "revitalizar" em vez de "restaurar".  A diferença entre ambos é fundamental.

Mais uma informação interessante a ser levada em consideração é a opinião do  prof. Walter Benjamin, quando ela explica  que, segundo ele "a História deve ser lida pela perspectiva dos vencidos, o que rompe a linearidade da história tradicional pela utopia que descobre o mito. A utopia no mundo moderno se corporifica no progresso, nas inovações, que são sempre barradas pelo mito do eterno retorno de formas do passado. A História contada pelas classes dominantes seleciona os eventos a destacar em sua narrativa, de modo que [a] barbárie se esconde no próprio conceito da cultura enquanto tesouro de valores, e mesmo quando ela não é vista como independente do processo produtivo em que surgiu, é vista como independente do processo produtivo em que sobrevive."

Sua tese foi apresentada em 2006, ou seja, dez anos depois do projeto do Dr. Almir, e o turismo não tinha levantado vôo. Não bastou o restauro/revitalização de alguns predios ou locais, algo mais tinha que ser feito, não so no bairro, mas no resto da cidade também.

Por onde começar? Das calçadas que estão em situação penosa, na Dr. Assis, a rua que leva ao Palacete Pinho? Ainda mais, uma parte dessas calçadas, sempre estreitas, ainda são ocupadas com mercadorias ou  artigos e objetos vários que são consertadas fora das lojas. Mas nessa rua também tem o problema do transito, exagerado, que ajuda, com a trepidação, a acabar com os prédios tombados.


Depois de se esquivar de onibus, vans e motores/bicicletas consertados no meio das parcas calçadas da Dr. Assis,  o turista chega ao Palacete Pinho e além de notar o abandono em que está, ainda é capaz de o encontrar fechado a visitação.

Então vamos visitar a Cidade Velha entrando pela Siqueira Mendes, cujas calçadas, além de estreitas e mal conservadas, estão cheias de lixo ou ocupadas com carrinhos de comida ou jogo do bicho de um lado, e do outro os taxistas, em pé ou sentados , aguardam os clientes dos barcos e navios que chegam das cidades e  ilhas do entorno de  Belém. Até no meio da rua é dificil de passar, principalmente quando é hora de saida ou de chegada de barcos nos portos, pois os carros  fazem fila dupla e não tens modo de continuar a tua caminhada. Agora imaginem se os locais de divertimento estivessem abertos a luta que é para obter estacionamento  ou mesmo apenas passar a pé na Siqueira Mendes.


Chegou o turista na Praça do Carmo. A Joaquim Távora com sua calçada de cerca de meio metro de largura, que divide com postes de 40cm de circunferência, também pode estar ocupada com carros estacionados, dependendo da hora. O que sobra da rua dá, mal e porcamente para passar um carro de medio porte.... e o turista deve atravessar para a calçada da praça e, aí se depara com os moradores de rua fazendo os próprios cômodos, como se ninguem estivesse olhando.


Mas o turista deve visitar a belissima igreja do Carmo, restaurada ha poucos anos, e se encaminha para a travessa D. Bosco pela calçada da praça do Carmo. Som de tambores ou musica jamaicana acompanham seus passos até essa igreja tombada... e a encontra fechada. De fato, pouco a pouco as missas começaram a ser canceladas, permanecendo somente uma, no sabado a tarde. A insegurança da praça levou os fieis a procurarem outra igreja para a missa das sete da manhã. Nessas alturas as portas da igreja não se abriram mais, até que decidiram dar uma possibilidade para os visitantes, reabrindo-as, mas  Quem ha-de...?

A rua Dr. Malcher teria suas casinhas post-coloniais e algumas poucas azulejadas para serem vistas, mas vemos pouquissimos acompanhadores de turistas passarem por ela. Como as outras ruas ja citadas, a luta por um estacionamento aumenta quando os locais da Siqueira Mendes estão abertos, ou durante a semana estão funcionando todos os orgãos publico do seu entorno. O turista não consegue, como na Siqeira Mendes, ou Dr Assis, nem andar pelo meio da rua, as proximidades da Praça da Sé, a qual pode estar, inclusive, cheia de onibus enormes de companhias de turismo.


A intenção é visitar a obra-prima do Landi na praça da Republica do Libano? Qualquer uma das vias de acesso estarão cheias de carros, inclusive ocupando parte das calçadas. A presença de vários orgãos públicos (Alepa, Prefeitura, MPE, Tribunal, etc.) e museus sem estacionamento suficiente para todos os seus funcionarios, é a causa principal da situação critica  em que se encontra a praça durante a semana inteira. Um problema manter a igrejinha aberta e, inclusive, rezar missa nela. Com certeza o turista vai encontra-la fechada... mas vai poder sentar nas cadeiras das barracas de venda de comida que ocupam as calçadas da pracinha, deturpando a área... para desespero do turista.

A Praça Felipe Patroni perdeu seus benjaminzeiros que rodeavam uma fonte, hoje transformada em 'vaso'  de planta. Apesar de alguns bancos, a falta de arborização e o  calor não permitem nem que o turista se azarde a sentar para repousar.

Não vamos falar do periodo do carnaval nem do Cirio  pois imaginamos que a inteligencia dos leitores possa chegar a entender, sozinho o que acontece e os problemas que causam ao patrimônio.

Então, as obras revitalizadas pelo Arq. Paulo Chaves na Praça da Sé, levaram os paraenses e alguns turistas a aumentarem o fluxo de carros na Cidade Velha, mas o turismo não decolou...com ou sem o restaurante das 11 janelas cujas bandas musicais faziam tremer todo o entorno.


Viver no bairro, ou seja, na área tombada, piorou próprio por falta de resolução desses problemas que, mesmo sem turismo, atanazam e pioram a vida de todos.

A sugestão, então, é começar próprio por esses ai, porque o numero de turistas a pé, vemos que é bem maior do que  os transportados pelos onibus enormes que nem deveriam entrar na área tombada e que param so na Praça da Sé...


PS: Cibele, obrigada  pela colaboração.


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