segunda-feira, 12 de novembro de 2018

MEMÓRIA: Outro tipo de patrimônio histórico


Vou aproveitar para contar uns fatos que considero uteis à cidadania, visto que este blog se chama "Laboratório de Democracia Urbana" e pode muito bem acolher lembranças e propostas mesmo se o Patrimonio Historico tratado é a MEMÓRIA.

Ano passado fui convidada a participar do  SEMINÁRIO NACIONAL 100 ANOS DA REVOLUÇÃO RUSSA, onde aconteceram debates sobre democracia, socialismo e anarquismo. Tratava-se do PROJETO CONFRONTO DE IDEIAS/FACULDADE DE CIÊNCIAS SOCIAIS/INSTITUTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS/UFPA cuja comissão organizadora era composta por:
MARLY SILVA/FACS/IFCH/UFPA, THAIS AGUIAR/UERJ, PATRICK PARDINI/MUFPA/UFPA, CELSO VAZ/FACS/IFCH/PPGCP, MÁRCIO DE CARVALHO/ILC/UFPA, mas era a amiga Marly Gonçalves da Silva a  COORDENADORA GERAL.

No segundo dia de tal evento participamos das “Memórias Comunistas” onde ouvimos a vivência de: Alfredo Oliveira (médico e escritor), André Nunes (escritor), Hecilda Veiga (profa/UFPA, ex-presa política e anistiada), Nazareno Tourinho (dramaturgo).  Eu fui a  Mediadora. A sala estava cheia de jovens, atentos.

Passou-se um ano e uns 40 dias e dois dos participantes  não estão mais conosco. O André, fez aniversario ontem, e nos deixou órfãos de sua amizade a pouco mais de dois meses atrás. Nazareno Tourinho, também o seguiu e teremos sua missa de um mês daqui a alguns dias.

O prof. Jaime Cuellar Velarde é outro dos poucos que chama essas pessoas, para contar o que viveram no tempo da ditadura aos seus alunos que nem frequentam ainda a Universidade. Até agora a UFPA e a Feira do Livro foram seus palcos. Ele é da opinião que é importante ouvir diretamente a Historia através de quem a viveu  e fez vários encontros sobre a Ditadura com quase todos aqueles ainda vivos. Os que tinham sido presos durante a ditadura e que participaram desses encontros com a juventude, foram: Pedro Galvão de Lima Ruy Antonio Barata, João de Jesus Paes Loureiro, José da Silva Seráfico de Assis Carvalho. Os que não foram presos: Alfredo Oliveira, André Avelino da Costa Nunes, Cláudio de Souza Barradas e eu.

Lembrar o que contaram nesses encontros e viver estes dias atuais sem poder trocar opinião com os que já se foram, me traz um vazio enorme. As pessoas que viveram o ”64” e que tiveram bastante vivência e, consequentemente, histórias para contar,  estão diminuindo a olhos vistos.

O momento que estamos vivendo, todavia, merece atenção e confronto com nossa historia passada. A memória é importante e quem as tem deveria ser seguido de perto, começando por professores da escola obrigatória.  Os exemplos que poderiam dar, foram contados, quem sabe, pela ultima vez, pelos quatro companheiros acima citados... e hoje dois já nos deixaram. Os estudantes presentes naquela ocasião tiveram porém a oportunidade de ouvir de viva voz experiências feitas em tempos difíceis, politicamente falando. 

Esse tipo de  confronto é útil e muito proveitoso para a juventude. Por que temer? Vai acrescer o conhecimento e dar condições a criticas, pro e contra. Aquela memoria que foi transmitida não tem preço e, começamos a perder aqueles que podem passar ao próximo momentos históricos vividos em primeira pessoa e, algumas vezes, até na própria pele.

Essa falta de confronto com quem tem memória, ou seja, os mais velhos, se nota enormemente quando se olha o nosso patrimòno histórico, as nossas áreas tombadas. Um exemplo por todos as cores das casas. Os "antigos", ainda viventes lembram da Cidade Velha com casas de azulejos ou pintadas com cores claras, cores pastél. Memória de quem estão defendendo quando permitem cores fortes nessa área tombada? Qual "velho" disse ao IPHAN ou ao orgão publico que autoriza a pintura das casas com cores  fortes, que eram essas as cores das casas da área tombada? Falta de informação direta, pois as leis falam de defesa, salvaguarda, proteção da nossa memória... não de colori-la.

Na Italia, nos anos 70/80, as pessoas que viveram a guerra contra o fascismo fazendo os ‘partigiani’ eram chamadas nas escolas, do primário ao cientifico/clássico, para contar “a verdade”, ‘suas experiências quotidianas’ , ‘o que acontecia durante o fascismo’, ‘ o que eles faziam com os opositores’ , ‘como se lutava contra’... Todos o faziam gratuitamente e, seja os professores que os pais, eram conscientes da necessidade de fazer isso.

Os nossos "PRACINHAS" estiveram la e até hoje são homenageados, todos os anos, pelos alunos das escolas do periodo obrigatorio no Apenino Bolonhes, coisa que aqui não acontece e com isso apagamos  nossa memória. Até monumentos e  Museus existem em Montese e em Pisa sobre essa participação dos brasileiros a liberação da Italia do fascismo... e aqui?

Cidadãos conscientes de verdade se desenvolvem em sociedades onde a informação fomenta o conhecimento e a possibilidade de critica. O modo acima citado é um deles e aqui podia muito bem ser difundido antes que se perca totalmente essa oportunidade e se finja que o fascismo não existiu... nem aqui, nem fora daqui.


Dulce Rosa de Bacelar Rocque - cidadã.


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