sábado, 13 de julho de 2013

DESTINAÇÃO DE BENS CULTURAIS

Para oportuno conhecimento...
 
Dispõe sobre a destinação dos bens de valor cultural, artístico ou histórico aos museus, nas hipóteses que descreve.
 A PRESIDENTA DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
 Art. 1o  Consideram-se disponíveis para serem destinados ao patrimônio dos museus federais os bens de valor cultural, artístico ou histórico que fazem parte do patrimônio da União, nas seguintes hipóteses:
 I – apreensão em controle aduaneiro ou fiscal, seguida de pena de perdimento, após o respectivo processo administrativo ou judicial;
 II – dação em pagamento de dívida;
 III – abandono.
 Art. 2o  Entende-se por bens de valor cultural os definidos no art. 215 e no art. 216 da Constituição Federal.
 Art. 3o  Os bens disponíveis, quando destinados a unidade museológica da União, integrar-se-ão ao seu patrimônio.
 Parágrafo único.  Não se aplica o disposto neste artigo aos bens de valor cultural que façam parte do acervo de instituições de caráter cultural sob a administração ou guarda de órgãos ou entidades da administração pública federal até a data da publicação desta Lei.
 Art. 4o  Cabe aos órgãos e entidades da administração federal e da Justiça Federal notificar o órgão ou entidade da União responsável pela gestão dos museus sobre a disponibilidade dos bens referidos no art. 1o, a cada novo ingresso.
 Art. 5o  O Ministério da Cultura, por meio do órgão ou entidade responsável, após ser notificado, manifestar-se-á quanto ao interesse na destinação dos bens e cuidará da transferência do bem à entidade a que esse for destinado.
 § 1o  O Conselho Consultivo do Patrimônio Museológico do Instituto Brasileiro de Museus será ouvido previamente sobre a conveniência de se destinar o bem aos museus.
§ 2o  Em se tratando de bens tombados em âmbito federal, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional deverá pronunciar-se quanto à destinação dos bens aos museus.
 Art. 6o  A União, objetivando a adequada preservação e difusão dos bens referidos nesta Lei, poderá permitir sua guarda e administração por museus pertencentes às esferas federal, estadual ou municipal.
 § 1o  Será dada preferência de destinação às instituições museológicas federais.
 § 2o  A União poderá permitir que a guarda e a administração sejam transferidas para museus privados, desde que sem fins lucrativos e integrantes do Sistema Brasileiro de Museus.
 Art. 7o  É nula a destinação dos bens de valor cultural, artístico ou histórico adquiridos na forma das hipóteses descritas no art. 1o sem a observância do disposto nesta Lei.
 Art. 8o  Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
 Brasília,  9  de julho de 2013; 192o da Independência e 125o da República.
DILMA ROUSSEFF
Marta Suplicy

Este texto não substitui o publicado no DOU de 10.7.2013

domingo, 23 de junho de 2013

TESOUROS VIVOS: OUTROS 'S.JOÃOS'

É TEMPO DE FÉRIAS!!!

Um documentário me fez lembrar de quando íamos de férias para o Mosqueiro, nos anos ’50 do século passado. Quando, logo que acabavam as aulas, em fins do mês de junho,  irmãos e primos, íamos para a casa do tio Aguiar, na praia do Chapéu Virado, no Mosqueiro. Ele acolhia  nós cinco, filhos de suas três cunhadas, Suely, Marilia e Myriam, irmãs de sua mulher, a Tia Claudia.

A farra começava no momento de se preparar para ir pegar o navio. Ia conosco uma ‘ama’, a Laura, e, algumas vezes, nossa avó, a 'mamãezinha'. O navio saía do primeiro galpão do porto cheio de famílias com filhos, netos   empregadas.  As bagagens eram colocadas ao redor das cadeiras, onde parávamos somente poucos minutos. Nós queríamos era ir lá para fora. Fugíamos ao controle da ‘ama’ que, afoita, corria a nossa procura e nos recolhia ao redor da mamãezinha.

Não se usava ainda calça comprida.  Íamos com nossos vestidos de cambraia, de algodão, com folhos e laçarotes, e nos pés, sandálias ou sapatos com meias  brancas.  Ninguém pegava o navio de short, nem os homens.

A chegada era outra confusão, pois tínhamos que correr para pegar lugar nos ônibus, que eram somente dois: velhos, mal cuidados, mas enfeitados com corôas de manjericão. Algumas vezes o tio Aguiar mandava o caseiro nos esperar no porto,  guardando alguns lugares no ônibus pra nós, que nunca eram suficientes. Nós cinco crianças, de 5 a 12 anos, nem pensávamos nas maletas,  pacotes e caixas que iam conosco, a nossa preocupação era sentar no ônibus...e lá íamos embora  com gente pendurada por todos os cantos.



Passar pelo Hotel do Russo e a Igrejinha do Chapéu Virado queria dizer que estávamos chegando.  Mais uma parada e estaríamos em casa. Os tios nos esperavam na porta daquela casa de estilo europeu, com sua caixa d’água coberta por uma espécie de chapéu de bico... Nela vivia também um engenheiro de origem austríaca, com suas duas filhas. Assim, com o Franklin,  éramos 8 crianças/jovens de 5 a 15 anos, a correr e fazer zuada pela casa.

No dia seguinte era um corre-corre para tomar o café da manhã e ir para a praia. O pãozinho do Mosqueiro e tapiocas no leite de côco estavam nos esperando na mesa, onde tínhamos que sentar todos juntos, com os adultos. “Será que a maré está cheia?” perguntávamos às empregadas.

A casa ficava na estrada que nos dividia da praia. De fronte, mangueiras enormes  nos separavam da  praia, onde, descendo, encontrávamos outras duas mangueiras que dividiam a paisagem com dois coqueiros, um dos quase  deitado  na areia. Essa era a vista que tinhamos da janela de cima.


Iamos  com as amas para a praia. Pulávamos as ondas; brincávamos de jacaré; corríamos atrás dos tralhotos e dos papagaios e curicas que caiam pras nossas bandas. ... As 11 horas, voltávamos pra casa para tomar banho, almoçar e descansar.. ou deixar descansar os mais velhos.

Uma noite, logo no primeiro fim de semana chegou o “boi”, para dançar para nós.  Era a primeira vez que o via. A sala de visita se comunicava com a sala de jantar, e ficaram cheias de gente nessa ocasião. Meu tio convidava alguns poucos vizinhos para assistir ao “BOI”. Os ‘grandes’ ficavam  sentados e nós, a criançada, se espalhava por trás dos sofás, cadeiras e batentes das janelas  para assistir a ‘peça’.  Curiosos também chegaram apoiando-se do lado de fora nas janelas e na porta apreciando a dança do ‘boi’. 

Ao começarmos a entender a historia do ‘boi’, começava a torcida,  a gritaria e os ‘psius’ dos grandes... Depois, os nossos comentários; a nossa tristeza pela morte do boi; a nossa raiva do patrão; e quem ia ser a 'grávida'? já pensando em organizar o 'nosso boi'.

Num outro ano veio um ‘pássaro’ dançar para nós.  A mesma algazarra do ano anterior, os mesmos poucos convidados e as mesmas comidas e bebidas.  Entre nós surgiu a comparação com o ‘boi’. Qual era o mais bonito? O ‘boi’ diziam uns; o  ‘pássaro’, diziam outros, assim nos dividimos em dois grupos: o do boi e o do pássaro, e durante as brincadeiras nos chamávamos de acordo com o grupo que pertencíamos: Hei, Boi Felix! Hei pássaro Julia...

Foi um documentário feito por Stéfano Paixão, o qual, ao salvar a memória de sua terra, Baião, me fez voltar atrás de algo que mudou no tempo e está quase desaparecendo. Me fez lembrar as histórias que ouvíamos quando íamos para o ‘interior’. Me fez pensar como ‘salvar a memória’ é importante.

Nós temos um PATRIMONIO’ enorme, não somente arquitetônico, que devemos preservar, defender, e principalmente, nos orgulhar... o que nem sempre acontece, e é uma pena".
Obrigada Stéfano por ter-me lembrado de tudo isso.

Assistam: Velhos Baionaras - Tesouros Vivos

sexta-feira, 7 de junho de 2013

Sessão Especial na ALEPA

Neste dia 6 de junho fomos convidados a participar de uma Sessão Especial  proposta pelo deputado Raimundo Santos, destinada a tratar a implosão do prédio da Receita Federal.
Além de alguns deputados, estavam presentes representantes  de Associações, foruns, ongs  que se interessam da cidade. A Civviva, presente com alguns membros da sua Diretoria preparou a seguinte nota:

Bom dia a todos os presentes. 

Agradecemos o convite e principalmente parabenizamos o deputado Raimundo Santos  pela ideia que teve de discutir com a cidadania o problema da implosão do prédio do Ministério da Fazenda, destruído por incêndio. Gostariamos de aproveitar a ocasião e pedir o mesmo para aquele do INSS, da Dr. Morais, também destruído por um incêndio. Agora, no caso fosse  incendiado aquele horroroso da Boulevard Castilhos França, poderíamos já antecipar o pedido de implosão dele também. 

Nenhum desses edifícios foi bem vindo nos endereços em que se encontram, pois so vieram  enfeiar o entorno da nossa história. Me permitam, então, aproveitar  a oportunidade para falar de áreas tombadas, do nosso centro histórico, em particular da Cidade Velha.

Na n/Constituição o Art. 216, V, § 1º: " O Poder Público, com a colaboração da comunidade, promoverá e protegerá o patrimônio cultural brasileiro...".  Promoverá: sublinho essa palavra porque escrita num tempo de verbo totalmente ignorado. O que na verdade acontece é que  até  informações a respeito do que vai ser "promovido”, nós, como  cidadãos, somos os últimos a saber. Não existe o costume de perguntar a opinião dos cidadãos como é em vez previsto em lei. Nos acostumaram ao método de "governo sem diálogo"; agradecemos portanto a possibilidade que temos, nesta ocasião, de falar  dando a nossa opinião.

Os 400 anos da Cidade Velha se aproximam e nós não vemos um programa coerente que seja,  para ‘melhorar’ a salvaguarda da nossa memória e muito menos o modo de  vida de quem mora em área tombada. As leis continuam a falar de  preservação e proteção e nós, moradores e proprietários, concretamente, vemos bem pouco ou nada a respeito.

Outro dia lemos num jornal uma relação de intenções (talvez era + um  PAC das cidades históricas), relativamente a restauro de casas, praças e pouco mais, sem alguma ligação entre si. Me veio em mente que em novembro de 2009, uma relação parecida com essa, foi discutida no Cinema Olimpia. Eram as ações propostas para o PAC das Cidades Históricas e umas 100 pessoas estavam  presentes; eram de várias categorias e partidos, e muita polemica foi feita. 

Naquela ocasião, porém, como Civviva, entregamos a Fumbel, Iphan e Secult, componentes da mesa, uma relação com as ações  que pensávamos ser necessárias fazer no bairro mais antigo da cidade. Não se falava ainda  de 400 anos de Belém e ao fazer aquela relação, portanto, pensamos naquilo que diz a lei: O Poder Público Municipal promoverá , garantirá e incentivará a preservação, conservação, proteção, tombamento, fiscalização, execução de obras ou serviços visando a valorização do Patrimônio Cultural do Município de Belém. 

O tempo passou e, assim sendo, o que pedimos naquela ocasião, nós atualizamos um pouco e, hoje, podemos assim resumir o que seria interessante ter presente caso seja feito um projeto para os 400 anos da Cidade Velha:
- a restruturação da orla do Beco do Carmo, visto ter-se tornado uma área perigosíssima e seus moradores viverem de modo indigno. Não entendemos por que ninguém se preocupa com aquela margem de rio do Centro Histórico;
- Restauro e revitalização Mercado do Porto do Sal, abandonado a si mesmo há dezena de anos. Outro local aprazível jogado as baratas por tantas administrações e, praticamente vetado à cidadania pelo total abandono;
- Restruturação da praça República do Líbano (S.João) e seu entorno, com atenção as atividades (venda comida) que criam sujeira. Aquilo é o paraíso de advogados, juizes, promotores e, quem sabe, até de deputados, e ninguém nota o estrago que fazem naquela pracinha;
- Restruturação da Praça do Carmo de modo que seja usada como tal e não continue a ser campo de futebol , de skate, de criket, e sua parte  histórica, não continue sendo usada como motel ou sanitário.
- Proibição de concentração carnavalesca ou de eventos cuja altura das musicas provoque trepidação nas construções existentes no entorno de praças tombadas.
- Destinação de uso do Palacete Pinho, levando em consideração o fato de não ter estacionamento (ninguém de fato se preocupa com o que  a ocupação pode provocar naquela rua estreita). Pedimos isso encarecidamente pois o transito pode piorar muito mais se for uma escola para a classe média que abusa do estacionamento em filas duplas com a buzina funcionando;
- Recomposição, restauro e salvaguarda das calçadas de liós, cuja maior parte delas está escondida sob camadas de cimentos que aumentam a medida que cresce a altura do asfalto na rua;
- Iluminação adequada do bairro e possivelmente com os fios subterrâneos; as ruas estreitas e as calçadas ocupadas por postes, nos obrigam a andar pelo meio da rua como se fossemos cavalos.
- Bueiros: providências para que suas tampas não possam ser retiradas.
- Canal da Tamandaré: resolução do problema de alagamentos causados por maré alta e chuva;
- retorno aos paralelepípedos que estão sob camadas de asfalto, desse modo poderão aflorar as calçadas de liós.
- colocação de bastões iguais aos das calçadas da Praça D. Pedro II, nas ruas cujas calçadas são usadas como estacionamento, afim de garantir segurança e o direito dos pedestres. Principalmente ou ao menos na Dr. Assis, Dr. Malcher, Siqueira Mendes, Tomasia Perdigão, Joaquim Távora, Trav. Felix Rocque;
- que seja respeitado o direito de uso das calçadas pelo pedestre, evitando assim o uso das mesmas por parte de atividades que as ocupam (exposição de produtos a venda, lavagem de motores, deposito de areia/madeira /tijolo/telhas ou, mesas/cadeiras de bar, etc).
- Reposição das placas com nome das ruas, indicando:
a)  o q aconteceu na data  que denomina a rua;
b) quem foi a pessoa q dá nome a rua c/ data de nascimento e de morte.
- Questão de  lixo e lixões: resolução do problema, até com campanha na tv e nas escolas que também costumam por o lixo nas calçadas (estreitas) fora de horário.
- Questão da água: seja porque falta seja porque é barrenta (a que sai das torneiras) em todo o Centro Histórico. (Vocês sabem a quantidade de poços artesianos que existem na CV? A UFPa fez um estudo a respeito);
- Código do Transito: a) fazer, nas ruas, as  sinalizações previstas;
b) proibição de circulação de veículos superiores a 3,5 ton.
c) exigência de estacionamento para clientes de todas as  atividades autorizadas, incluindo escolas.
d) sinalização com faixas amarelas frente a entrada das igrejas, afim de evitar estacionamento;
e) proibição de atividades que possam aumentar o transito na Cidade Velha.
- em todas as concessões de licenças para localização de estabelecimentos comerciais, industriais e de prestação de serviço, a Prefeitura deve lembrar o art. 15 do CP, de modo especial relativamente ao:
II - o sossego, a saúde e a segurança da população na área; assim sendo, mesmo a distancia de monumentos tombados, exigimos sossego e segurança;
- Respeitar o  Art. 16 do CP o qual veda, no setor residencial, a localização de estabelecimento que, pela natureza de suas atividades que  produzam ruídos excessivos ou perturbem o sossego dos habitantes;
(Por falar nisso, atrás do Palacete Pinho deve ter uma moedora de café, q quando entra em função perfuma até a Sé, além de encher de pó os nossos móveis...imaginem o q acontece  com o Palacete Pinho).
- Remoção das atividades abusivas que ocuparam a rua e as calçadas na Tamandaré e entorno (Breves, Óbidos);
- verificar quanto tempo ainda o Bechara Matar vai ficar ali daquele jeito e que  seja lembrada a previsão de estacionamento para a atividade que um dia será exercida no local, caso não decidam pela implosão do mesmo;
- verificar onde estão os estacionamentos dos locais autorizados na Praça da Sé e seu entorno (restaurantes, bares e locais noturnos) até a Praça do Carmo e, se não existem, seria oportuno providenciar para poder sobrar lugar para os carros dos moradores, pois nós não podemos construir garagens porque  temos que salvaguardar o patrimônio assim como ele foi tombado;
- planejamento e implementação de campanhas educativas, permanentes e massivas a todos os níveis,  relativamente ao uso de praças e ruas, em geral, e de defesa do nosso patrimônio histórico. Regras básicas de cidadania e educação ambiental e patrimonial, começando pelos funcionários públicos.

Se vocês confrontarem o que nós pedimos, com o que foi em vez apresentado ao Ministério, agora, pela administração pública, vão ver que o que pedimos foi, tudo, praticamente ignorado.

Não somos consultados a priori, como prevê a lei e ainda somos ignorados como moradores nas opções e propostas que são feitas quando precisam de dinheiro.

Podemos entender que  as competências são de vários órgãos, mas, um projeto para os 400 anos da Cidade Velha, poderia e pode ser feito levando também em consideração  as necessidades dos moradores do bairro e não somente o que a nossa nova classe média e/ou possíveis turistas vão querer ver e encontrar onde NÓS moramos.

Com o tombamento de áreas da Cidade Velha e da Campina pelo IPHAN, incluimos agora, para completar o que  já tínhamos pedido, o adequamento do Código de Postura e do PDU a essa nova realidade. Que sejam estabelecidas distancias, altura do som, tipo de atividades e quanto mais seja necessária à uma verdadeira defesa e salvaguarda da nossa memória, do nosso patrimônio arquitetônico e ambiental.

Aliás, talvez fosse justo e oportuno que dentro das leis que governam o uso do território fosse introduzida uma parte especial so para o Centro histórico e área tombada, de modo que seja  clara a intenção do Poder Publico de proteção e preservação  da nossa memória através dos nosso patrimônio arquitetônico, ao menos.

Lembramos que a palavra ‘revitalização’ não está presente em  nenhuma das leis em vigor, mas é usada no documento mandado ao Ministério... A maior parte das coisas que nós pedimos, em vez, são previstas  em lei e não vemos a aplicação, talvez e principalmente, porque as leis que preveem isso não foram regulamentadas.

Me permitam dizer que é muito triste descobrir a má fé que se esconde em tal modo de agir. Sem regulamentação uma lei nem sempre pode ser obedecida, assim temos o Plano Diretor, o Código de Postura e tantas outras leis,     importantíssimas para a defesa do nosso território,  que vivem como letras mortas, e são totalmente inúteis.

Em nenhum ponto as leis falam em revitalização mas em recuperação, defesa, preservação e proteção. Então, encher as ruas da Cidade Velha de bares e restaurantes vai preservar ou defender a memória de quem? Afinal de contas somos NÓS que moramos ali, somos NÓS que votamos, que somos eleitores, não os turistas, e somos NÓS que não queremos viver num cenário de filme a ser vendido para enriquecer quem? Um cenário que, além de tudo, com certeza, nada tem a ver com nossa memória.

  Obrigada pela atenção.



  Dulce Rosa de Bacelar Rocque


Os quatro cavaleiros


Para quem não sabe: em alguns municípios do Apenino tosco-emiliano, na Itália, existem monumentos aos Pracinhas, a FEB. São agradecimentos pelo que eles fizeram durante a Segunda Guerra Mundial.

Quando la morei, tive a oportunidade de conhecer essa realidade. Descobri quanto eram lembrados com gratidão,  os brasileiros da FEB, os nossos 'pracinhas'. Visitei alguns dos lugares por onde eles passaram,  em  companhia  de Arnoaldo Berti, o  'proprietário'  de Monte Castelo.

Acho justo que vocês conheçam ao menos 4 pessoas que dedicaram suas vidas a não deixar seus con-cidadãos, italianos, esquecessem o que  os brasileiros fizeram por eles.

Agradecemo o SrLUIZ ROBERTO MARIN PISSUTTI, autor  do artigo abaixo, pela disponibilidade.

Dulce Rosa De Bacelar Rocque - Presidente Civviva

http://www.adiexitalia.org/37-editorial/64-os-quatro-cavaleiros

Os quatro cavaleiros


Tempos de guerra são tempos difíceis. Perdem-se princípios e valores. Esvaem-se resquícios de civilidade e morrem as mais primitivas crenças. A ética some e tudo passa a ser permitido.
Os efeitos do conflito mundial dentro da Itália podem ser encontrados em cada “comune” atingida. A Grande Guerra deixou sequelas no povo italiano. Porém, o horror e o desespero, aos poucos, foram cedendo lugar a histórias belíssimas, recheadas de conquistas heroicas, amores eternos, monumentos à memória e livros, dentre tantas outras maneiras que os habitantes da zona atingida encontraram para recordar a atuação dos aliados, especialmente dos “pracinhas brasileiros”, nos combates em que participaram.
Quase sete décadas após o término da Segunda Guerra Mundial existem na Itália pelo menos quatro homens que carregam nos ombros, como um modo de agradecimento, a responsabilidade de não deixar morrer a história gravada, indelevelmente, no tempo e no espaço, pela Força Expedicionária Brasileira.
Eles não são brasileiros, todavia são os atuais guardiões da História da FEB na Itália. Cada um deles com uma característica diversa. Todos os quatro com um desejo comum: manter viva a memória dos heróis que combateram entre o Apenino Tosco-Emiliano e o vale do Rio Pó, durante a Segunda Grande Guerra.
Eu os conheci muito bem, pois convivi com eles por mais de dois anos. Todos os quatro, com paixão, com delicadeza e com determinação, levam adiante os feitos dos combatentes brasileiros. Não deixam apagar da lembrança do povo italiano, particularmente da Toscana e da Emília Romanha, os inúmeros atos de heroísmo praticados.
Para ser mais exato, foi na cerimônia em homenagem à Tomada de Monte Castello, local de uma das mais árduas batalhas da FEB, que tive a oportunidade de aprender o quanto importante foram nossos “pracinhas” nos poucos meses que lutaram na Europa. Naquele dia cheguei à conclusão que a epopeia na Itália foi muito maior do que foi noticiada no Brasil.
Com o Monte Castello descortinado diante de meus olhos, num dia frio, de céu azul, mas cheio de neve, conheci os “quatro cavaleiros”: Fabio Gualandi, Giuliano Cappelli, Mario Pereira e Giovanni Sulla. Cada um deles com uma história a contar.

O primeiro “cavaleiro” chama-se Fabio Gualandi. Muito mais que contar a história, Fabio fez parte dela, pois naqueles anos de domínio nazifascista, também sentiu a dor e a indignação, como os que perderam pais, filhos, irmãos, parentes e amigos.
Fabio Gualandi tinha 14 anos de idade quando ajudava os soldados cozinheiros a preparar as refeições para os que combatiam em Gaggio Montano e em Montese. Assistiu cenas de guerra que não esqueceu nunca. Fez amizades inumeráveis. Ajudou e foi ajudado.
Quando conheci Fabio Gualandi, em fevereiro de 2006, ele portava um lábaro branco, com a insígnia da FEB, contendo a inscrição “MONTE CASTELLO – 21-2-1945”. Naquele momento tive a certeza de que aquele homem teria histórias incríveis a relatar. E passei a ouvi-lo.
Gualandi é um arquivo repleto de informações únicas. E suas vivências e belas histórias deram vida a um livro simples, mas cheio de significado: “Monumentos dedicados ao soldado brasileiro”, uma pequena mostra da sua eterna gratidão aos “pracinhas” da FEB. Seu testemunho enriquece, ainda mais, os feitos dos soldados brasileiros.

Encravada na Reserva Natural de Montefalcone, entre Santa Croce sull’Arno e Castelfranco di Sotto, Província de Pisa, uma rústica construção de pedra, que foi erguida pelos “pracinhas” da FEB, ficou durante quase 60 anos escondida debaixo de arbustos, árvores e ciprestes. A “capelinha dos soldados brasileiros”, como foi chamada pelos habitantes da região, destinada a celebrações religiosas, foi encontrada após um árduo trabalho de busca, do qual participou ativamente Giuliano Capelli, nosso segundo “cavaleiro”. É importante destacar que Cappelli é quem prepara, anualmente, a cerimônia junto à Marginetta di Staffoli”, pararecordar os atos de fé praticados pelos nossos “pracinhas”. Durante a cerimônia ganha destaque a aposição da imagem de Nossa Senhora de Lourdes na pequena gruta de pedra.
Em 7 de junho de 2003 foi “reinaugurada” a “capelinha”. Na ocasião, uma família de Staffoli entregou uma placa que foi conservada durante mais de meio século, cuja inscrição relata: “O 11º Batalhão do Depósito de Pessoal da Força Expedicionária Brasileira, que neste local esteve acampado durante a Grande Guerra Mundial, aqui deixa este marco, inspirado nas tradições católicas do povo brasileiro, solenemente inaugurado no dia 2 de março de 1945”.
Capelli, destacando-se pela forma diligente com que sempre tratou os temas afeitos à FEB, tendo uma fotografia da pequena gruta, em 2008, deu à “Marginetta” a forma original. Graças ao seu trabalho, hoje pode-se admirar a beleza rústica da capelinha.

O terceiro “cavaleiro” chama-se Mario Pereira. E como falar de Mario sem falar no Subtenente Miguel Pereira, seu pai? Miguel, após a decisão do Governo Brasileiro de entrar na guerra, voluntariou-se para partir com a Força Expedicionária Brasileira. Um dia, questionado sobre a sua participação na Campanha da Itália, respondeu: “...Eu era militar, vivia do Exército, era Sargento e senti o dever, o dever moral de partir...”. Em 1946, Miguel Pereira foi encarregado de zelar pelo Cemitério Brasileiro de Pistóia, onde repousavam os heróis tombados em solo italiano.
Inicialmente, Miguel e um grupo de soldados brasileiros tomaram conta do Cemitério, sendo que a partir de 1948, até 1960, Miguel foi o guardião do Cemitério de Guerra, sozinho. Em 1960, os restos mortais dos “pracinhas” foram trasladados para a cidade do Rio de Janeiro.
Nos anos seguintes foi construído no mesmo local do velho cemitério o Monumento Votivo Militar Brasileiro de Pistóia. Miguel Pereira permaneceu à frente do Monumento até sua morte, em 3 de fevereiro de 2003. O legado de manter acesa a chama do Monumento Votivo Militar Brasileiro de Pistóia passou para as mãos de seu filho, Mario Pereira.
Mario realiza um trabalho exemplar. Dedicado ao extremo à causa febiana, destaca-se como um “embaixador” da FEB em terras italianas. Conhecedor profundo da história de nossos “pracinhas”, desenvolve atividades que repercutem tanto na Itália como no Brasil.
Como guardião do Monumento Votivo Militar Brasileiro, nas cerimônias evocativas, Mario Pereira conduz o “Gonfalone da FEB”, estandarte criado em 2006 como símbolo representativo da Força Expedicionária Brasileira na Itália. O estandarte foi condecorado com algumas das mais altas honrarias, dentre as quais destacam-se a Ordem do Rio Branco, a Ordem do Mérito Militar e a Ordem do Mérito Aeronáutico.

O quarto cavaleiro é Giovanni Sulla, de Montese. “Giovannino”, para os mais íntimos, tem orgulho de viver na cidade onde a FEB encontrou pela frente a sua mais sangrenta batalha. Em Montese pereceram, dentre outros bravos soldados, o Sargento Max Wolff Filho, o Aspirante Francisco Mega e o Tenente Ary Rauen. Giovanni Sulla, em seus discursos, faz questão de enfatizar que na sua terra a FEB foi heróica. Sempre que possível lembra a todos que o sangue derramado pelos soldados brasileiros em Montese serviu para libertar o seu país. Sulla sabe tudo sobre o contingente militar brasileiro que combateu na Itália. Desde a mais simples história, até o mais complexo funcionamento de um armamento utilizado durante a campanha. Conhece os pormenores das encostas dominadas pelos inimigos para a defesa, bem como as posições de ataque das tropas empregadas em Montese.
É capaz de discorrer sobre a FEB dias e dias, sem repetir uma história sequer. Foi o idealizador de diversos monumentos em homenagem à participação brasileira na Segunda Guerra Mundial. Todos eles distribuídos em uma área plena de histórias de guerra. Publicou livros e participou de documentários.
Giovanni Sulla ama o que faz. No seu modo simples de ser, atrai para si a atenção de todos quando conta as histórias de um tempo em que não viveu. Mas parece ter participado da guerra, tal a riqueza de detalhes com que emoldura as aventuras brasileiras nos Apeninos. Possui em seu museu particular peças raríssimas, todas elas adquiridas nas feiras militares pelo mundo afora. Dentre elas, duas chamaram a minha atenção: um guardanapo, com a assinatura de todos os oficiais integrantes do estado-maior da FEB, e uma maca, que foi utilizada para o transporte de um “pracinha” ferido em combate. O sangue do herói brasileiro ainda mancha a lona verde-oliva, após quase 70 anos.
Falar sobre a FEB com Giovanni Sulla é ver seus olhos brilharem e emocioná-lo. Relembrar algum “pracinha” já falecido é provocar as suas lágrimas. Sulla é um homem dócil e querido por todos por onde passa. Não há como não identificá-lo. Criou o “seu pelotão” próprio, o Grupo “Fratelli sulla Montagna”, onde ele veste-se de 1º tenente, com uma farda da FEB. O lema do “seu pelotão” é “A COBRA VA SEMPRE FUMANDO”, numa criativa maneira de dizer que a História da Força Expedicionária Brasileira não será esquecida pelos italianos da Toscana e da Emília Romanha.

Nas participações em cerimônias evocativas conheci outros tantos italianos e italianas não menos importantes como Francesco Berti, Giancarlo Macciantelli e sua inseparável Bandeira Brasileira, Lauro Biagini, Moreno Costa, Gino Costantini, Giovanni Zaccanti, Giuliana Pereira, esposa do Subtenente Miguel Pereira, e Maria Barbieri. Também conheci prefeitos e administradores locais, todos eles envolvidos na manutenção de um histórico rico de eventos. Vi inteiras comunidades, escolas e entes públicos e privados participando de cerimônias evocativas. Ao ouvir os relatos de todos eles compreendi a importância do soldado brasileiro para o sofrido povo italiano, na II Grande Guerra Mundial.
Aqueles militares da FEB que escalaram as montanhas geladas da Itália, cumprindo os seus deveres de soldados, não serão esquecidos. As suas jornadas heroicas ficarão registradas nas páginas de velhos livros e na lembrança de quem, ainda hoje, mantém viva a história dos feitos notáveis de uma geração que soube lutar por um nobre ideal: o ideal de liberdade.



LUIZ ROBERTO MARIN PISSUTTI – 1º Tenente QAO – foi Auxiliar do Adido do Exército junto à Embaixada do Brasil na Itália, no período de março de 2006 a Julho de 2008.


quinta-feira, 30 de maio de 2013

SABE LA COM QUEM CASARAM?


Estamos em Belém, fins de 1800, exatamente  1892. Presente “O Doutor Geraldo de Souza Paes de  Andrade, Juiz de direito da segunda vara Civel na Jurisdição reciproca da de Orphãos da Comarca da Capital do Estado Confederado do Pará.”

Motivo:  o  registro da “...minha muito fiel e verdadeira Carta de Sentença Civel de Formal de Partilha extraída e fielmente resumida dos respectivos autos...”.

Trata-se de um documento de 70 folhas, escrito a mão de ambos os lados onde “se trataram, correram, e processaram, sendo finalmente sentenciados uns autos cives de inventario e partilhas, dos bens deixados pelos finados Doutor Carlos Alberto Quadros e sua mulher Dona Amelia de Miranda Quadros...”

Este particular ato tem inicio  quando no “Anno do Nascimento de Nosso Senhor Jesus Christo de mil oitocentos e noventa e um, aos nove dias do mez de Outubro, n’esta cidade de Belém do Pará, em meo Cartorio, autoei  portaria que segue, do que faço este autoamento.”

Eles tinham falecido, “o Doutor Carlos Alberto Quadros em Portugal no mês de Agosto próximo passado e Dona Amelia de Miranda Quadros em Paris, no corrente mez.”  ....” deixando duas filhas de nomes Umbelina de Miranda Quadros de dezesseis annos de idade e Amelia de Miranda Quadros de treze annos de idade...”

 Para inventariante dos bens deixados pelo casal foi indicada a mãe da falecida, ou seja  Dona Amelia Augusta  Mendes Chermont a qual nomeou “Aos onze dias do mez de Dezembro do anno do Nascimento do Nosso Senhor Jesus-Christo de mil oitocentos e noventa e um n’esta cidade de Belem do Estado do Pará...seu bastante procurador nos presentes autos o senhor Doutor Domingos Antonio Raiol, Barão de Guajará, para por ella outorgante na qualidade de inventariante dos bens deixados pelos seus finados genro e filha...”.

Prosseguindo a leitura do ato vimos a saber que a viúva, após a morte do marido, tinha providenciado  a “...nomeação de tutor testamentário  das órphãs...”  Isso acontecia “...aos trinta dias do mez de Setembro n’esta cidade de Lisboa e Hotel Borges rua Garret numero cento e oito, aonde eu tabelião vim, ...  Que pelo presente instrumento nomeia tutor das referidas suas duas filhas: em primeiro lugar o seo primo Doutor Pedro Chermont de  Miranda, ... actualmente  residente em Paris rua Euler numero  doze; em segundo lugar o senhor Doutor Domingos Antonio Raiol, Barão de Guajará, actualmente  residente na cidade de Belem no Pará, casado e, em terceiro lugar seo primo o doutor Vicente Chermont de Miranda...”.

Acontece que o primo “Pedro Chermont de Miranda, Bacharel em direito e capitão da Guarda Nacional” morava em Paris, assim sendo resolve constituir “...por meo procurador na cidade de Belem do Pará, ao doutor Domingos Antonio Raiol, Barão de Guajará, especialmente para, por mim, prestar juramento da tutoria das menores...”. As meninas-herdeiras, foram então chamadas no “Consulado Geral dos Estados Unidos do Brazil em França”, Paris, onde residiam,  para assinarem a relativa  procuração.

Essas informações estão contidas nas quinze primeiras paginas do ato em exame. Nas paginas seguintes vamos ver desfilar  outros sobrenomes famosos na história do Pará, como Gentil A. de Moraes Bittencourt, Aniceto Francisco  da Gama Malcher, além do diretor da Coletoria Municipal de Belém do Pará, João Malcher que certifica o pagamento de “decimas do segundo semestre’, e algumas vezes, multas, dos inúmeros prédios de propriedade da família.

A partir da pagina 81, começamos a encontrar  descrição de alguns imóveis. Começam com a “...casa de sobrado, sob numero nove pela numeração moderna sita a rua Conego Siqueira Mendes, canto da Vigia, medindo pela frente dezenove metros e de fundos  vinte e sete metros e  dez centimetros  limitando pela dita rua  com o prédio dos herdeiros de José Maria de Paiva Osorio e pela travessa com o sobrado fulano Magalhães...” e prosseguem descrevendo como era dividida a casa, seja embaixo que em cima; de que material era feita; onde as paredes e divisorias eram de pedra e cal e aquelas de enchimento de madeira e terra; a madeira do assoalho etc. Quem sabe é a atual Casa Rosada?

Outra “...casa de sobrado, sob numero cincoenta sita ao Largo do Carmo, com duas frentes, medindo treze metros e dez centímetros pelo lado do largo e trinta e seis metros pela travessa do mesmo nome...’ com todos os detalhes possíveis. Será o Forum Landi???

O mesmo fazem com o sobrado numero 42 do Largo do Carmo, com fundos em terreno de marinha e “...limitando por um lado com o predio  do padre José Pinheiro Lobato e por outro com o de dona Joaquina de Mattos Cunha..." . Depois uma casa sita na Frutuoso Guimarães sob numero 121; outra na Dr. Assis n. 79; outra casa térrea  na Trav. da Barroca n. 29; metade da “puchada do sobrado a Travessa dos Ferreira, sob numero trinta e trez...” alias, nesta travessa dos Ferreiros, inúmeras eram as casas de porta e janela de propriedade da família: numeros 35, 39, 41, 43, 45.

Esse detalhamento continua por várias paginas falando inclusive  ”... da Olaria Sant’Antonio da Pedreira,   situada a margem  direita do rio Guajará, com meia légua de terrenos de frente, a começar do igarapé Chermont até  o igarape   Tocunduva, com fundos até a sala que serve de hospital dos lázaros...”     
     
Para encerrar relacionamos os outros prédios resultantes da partilha e sitos na 15 de Novembro n.26;  Siqueira Mendes n. 9; Dr. Assis ns. 81 e 83;  rua d’Alfama, 17; Sant’Anna, 69; das Flores, 21; Dr. Malcher ns. 95. 97. 99, 101, 103, 105 e 107; trav. da Barroca 14 e 29; D’Atalaia 14; Dr. Frutuoso Guimarães 121; Tv. Dos Ferreiros ns. 21, 23, 25, 27, 28, 29, 31, 33,  37, alé das acima citadas; largo do Carmo ns. 6, 12 e 14, trav. 7 de setembro 5. Ainda o Capinzal da Estrada do Arsenal,  uma fazenda/sitio Cutrin situado na  freguesia de Santo Filomeno do Cutrin, na cidade de S.Luiz do Maranhão, entre os riachos dos Bebados e Cutrin...e várias dezenas de contos de reis nos bancos.

Vários argumentos podiam servir para discussão. Me limito, hoje,  a pensar como era a vida naquele tempo, para alguns...e como algumas coisas se repetem ainda hoje.

Pobres moças: quem sabe se tinha fila na frente da casa delas, para namora-las !!!
Quem sabe com quem casaram? 


segunda-feira, 27 de maio de 2013

O PAINEL DE MOSAICO DO AEROPORTO DE BELÉM



Em meados dos anos 50 Douglas Marques de Sá, artista musivo, recebeu  encomenda para fazer um painel d 60 metros para o novo aeroporto internacional de Belém.  Nesse período, principalmente em Copacabana, era de moda adornar as fachadas dos edifícios com painéis em mosaico.  Se tem conhecimento que, praticamente “toda a constelação modernista, de Di Cavalcanti a Portinari, de Carlos Bracher a Quirino e Hilda Campofiorito, de Antonio Carelli a Flávio Shiró, de Volpi a Clóvis Graciano, de Burle Marx a Calabrone” foi atraída pelo trabalho com mosaico.

A elaboração do painel de mosaico para o nosso aeroporto durou dois anos sendo concluído em 1957. Era todo ele em pastilhas de vidro e,  antes de sua entrega, foi  exposto no Museu Nacional de Belas Artes no Centro do Rio de Janeiro. O Diário de Noticias no dia 8/5/1957 publica a opinião da “nossa” Eneida a respeito: Vi o mural de Marques de Sá e fiquei contente. Lá estão nossas aves, nossas flores, um jacaré anuncia que não se brinca com os nossos rios, há um gavião tão real que já prepara seu vôo, e vai ser bonito quando o turista ou mesmo o natural do país chegar a Belém e tiver a saudá-lo no aeroporto nossa flora e fauna.

Em 1957 o painel de mosaico foi colocado na entrada do Aeroporto de Belém onde ficou até 1964. Uma bela manhã, depois do golpe militar, o painel foi encontrado no chão...demolido sem alguma motivação plausível.

O autor não fez fotos da obra, mas um “cartão postal” do painel já instalado no aeroporto de Belém, foi feito e colocado em venda em Belém por alguns anos. Sobraram porém os esboços originais da obra que H. Gougon, jornalista e mosaicólogo conseguiu trazer até nós.

Quem sabe algum colecionador tem o cartão postal  do painel do aeroporto? 


douglas3estudos.jpg

O Painel ganhou muitos estudos antes da forma final.

A obra foi destruída, mas os esboços permanecem intactos.

FONTE: http://mosaicosdobrasil.tripod.com/id17.html


sexta-feira, 10 de maio de 2013

O livro que não saiu


Relembrando a Mostra: COM EIRA, BEIRA E...RAMO DE MANGUEIRA

Minha avó, quando falava de alguém que considerava pobre e sem
origens, costumava enfatizar dizendo que era: sem eira, nem beira, nem
ramo de figueira. Hoje, a parte final deste ditado foi esquecida, mas,
quando parei de banalizar o olhar, ele me voltou em mente por inteiro.

Isso aconteceu quando decidimos fazer um livro de fotografias do nosso
patrimônio, onde a intenção era mostrar o que sobrou dos vários estilos
arquitetônicos existentes em nossos bairros. Além do colonial, queríamos
lembrar aqueles produzidos por aquela “nova elite” pertencente aos
setores privilegiados da população que aqui viveram no tempo da
borracha. Era nossa intenção, inclusive, resgatar elementos decorativos
de estilo barroco, rococó, eclético, até chegar ao muito mais recente “raio
que o parta”. Praticamente, queríamos mostrar algo do remanescente de
pouco menos de duzentos anos de arquitetura feita em Belém, que,
distraidamente, olhamos... não vendo.


A
s fotografias começaram a ser feitas e os problemas começaram a
aparecer. A impossibilidade de retratar alguns imóveis a causa de
publicidades e pichação em seus frontões se materializou concretamente.
Postes e fios elétricos eram outros inconvenientes que encontrávamos.
A medida que avançávamos na pesquisa, mais difícil se tornava o
nosso intento. Mesmo mudando de estilo e de bairro a situação não
melhorava. Seja no Reduto que na Campina ou na Cidade Velha, o
problema se apresentava igualmente, com pequena exceção para a
Avenida Nazaré.



A insensibilidade, a especulação imobiliária, a incúria,
reduzia, portanto, de muito nossas fotos. Até o clima não nos ajudava,
certamente. O Palacete Pinho, com seu restauro inacabado, já
apresentava um pé de apuizeiro no telhado.
Ao passar pela Rua XV de Novembro nossa ilusão se
dissipou definitivamente. Como a maior parte dos imóveis ainda é
“original”, ela tinha sido escolhida como uma das ruas para este
levantamento. Foi ali que ficou ainda mais do que claro a total
impossibilidade de fotografar a fachada inteira das casas a causa da
poluição visual: publicidades, poste e fios elétricos as cobriam,
praticamente, por inteiro.


Aquela rua, assim como a João Alfredo, a Santo Antonio e
outras ruas do comércio, ainda tinham muitos imóveis bonitos para
deixá-las de lado. Alí podia-se intuir como o Código de Postura
vigente na época da construção daquelas casas tinha sido seguido
a risca: as beiras estavam la presentes... muitos era ainda possível
reconhecer o estilo e até encontrar a beleza de alguns detalhes.
Resolvemos então nos preocupar em fotografar a parte de cima, os
andares superiores daqueles casarões onde postes e fios elétricos
não chegavam.


Começamos a evitar uma casa, a causa de um ramo de planta no
telhado, outra, pelas plantas que tinham na janela, outra ainda pela
grandeza da arvore que tinha se desenvolvido na parede lateral, e assim
por diante... não sobrava quase nada. Outro problema tinha se
materializado, pesadamente.




Aquelas casas não tinham sido construídas por pessoas sem eira
nem beira... como previa a concepção da minha avó. Algumas ainda
eram do tempo em que o Código de Postura previa aos habitantes da
cidade a obrigatoriedade de “fazerem limpar as testadas de suas
habitações sempre que estiverem sujas...” (1), triste e difícil, portanto,
retratá-las, sem demonstrar a situação de abandono em que se
encontrava aquela herança cultural, testemunha do nosso passado.
Não tivemos outra opção: vimo-nos assim obrigados a centrar nosso
foco de atenção na realidade, sem nada esconder. Se queríamos
fotografar nosso patrimônio, necessário era demonstrar em que
situação se encontrava.



 Como nunca tivemos a tradicional “eira”, ou seja, aquela área
externa mais ensolarada do terreno ao redor da casa e usada para
secar grãos, sementes, milho, etc., decidimos substituí-la,
imaginariamente, com nossas calçadas de lioz, na triste situação
em que se encontram hoje. E, como estamos em Belém, onde todas
essas casas tem beira, como pretendeu o Intendente Antonio
Lemos, em vez de ramo de figueira, e abusando da licença poética,
resolvemos unificar o tipo de vegetação encontrado . Nasce assim
o nome deste trabalho
.

É portanto com imensa tristeza que, além de poucos imóveis
bem tratados, apresentamos também alguns exemplares do que
sobrou do patrimônio arquitetônico do nosso centro histórico, na
situação em que se encontram:


com eira, beira... e ramo de mangueira.

Dulce Rosa de Bacelar Rocque
Presidente Associação Cidade Velha-Cidade Viva