sexta-feira, 8 de março de 2024

TRES MULHERES, TRES OPÇÕES... (3)

  

O Dia Interncional da Mulher chegou. Lembramos a vida de duas delas, as quais, com suas opções fizeram história e merecem ser recordadas.  Os campos de atuação de cada uma, envolvem todas nós mulheres, pois, sutilmente, ou perigosamente,  cada uma  abre uma estrada na vida que, em algum modo nos interessa

É o caso de lembrar que nenhuma das três tinha origens operárias. Ousarei dizer que eram de classe média alta, ou quase, ao menos ao nascer em três países diferentes... Uma americana, outra brasileira e agora, uma alemã... de família judia, onde incluímos sua filha pelas claras consequência de sua ori gem. Hoje  enfrentaremos uma questão política.

Poucos sabem quem foi Olga Benário, nascida dia  12 de fevereiro de 1908, na cidade de Munique, na Alemanha, filha de um advogado que passava parte do seu tempo a ajudar quem necessitasse e cuja mãe vinha de uma rica família judia.

Bem cedo Olga se destacou na organização clandestina Grupo Schwabing,... De fato aos 16 anos já estava em Berlim com o namorado e logo tornou-se secretária de Agitação e Propaganda da base operária do bairro de Neukölln. Em pouco tempo foi promovida à secretária de Agitação e Propaganda de Berlim.

Olga a 26 anos . Créditos da imagem: Commons


Nesse período a luta era contra o crescimento das milícias de extrema-direita – em especial, as nazistas. Em abril de 1928 prenderam seu namorado na prisão de Moabit e ela com seus companheiros consegue resgata-lo... Foi então considerada pela policia alemã  uma “traidora da pátria” e chegaram  a oferecer 5 mil marcos por informações que levassem à sua prisão. Esse o motivo pelo qual fugiu para a União Soviética em julho de 1928.

 Palalelamente, do outro lado do continente europeu, Luís Carlos Prestes, nascido dia 3 de janeiro de 1898, em Porto Alegre, Rio Grande do Sul,  conhecido no Brasil pela  ja famosa Coluna Prestes da década de 1920,  tinha continuado com  cerca de 1.500 homens, a percorrer o  Brasil ajudando os pobres e denunciando o governo autoritário de Artur Bernardes. Chegou  na Bolivia ja com o apelido de "Cavaleiro da Esperança",  onde tinham se transferido no final de1928,  a maioria dos integrantes da Coluna Miguel Costa-Prestes. Em 1931, mudou-se para a União Soviética a convite do país,e  trabalhou como engenheiro, dedicando-se inclusive a estudos marxistas-leninistas. Em 1934 o Partido Comunista Brasileiro (PCB) o aceita como filiado.

Nesse mesmo ano, Olga é incumbida pela  Internacional Comunista de cuidar da segurança de Luís Carlos Prestes durante no seu retorno ao Brasil. Ao chegar ao Rio, inicia sua luta e  em novembro de 1935  acontece a Intentona Comunista, que no entanto, fracassa, e Prestes passou a ser perseguido pela polícia. Os dois conseguiram viver na clandestinidade por mais alguns meses, mas acabaram sendo presos em 1936, assim como  outros companheiros, e muitos foram torturados pela polícia..

Nos inquéritos, Olga recusou-se a cooperar e não deu as  informações que  o governo pedia e isto levou a decidirem sua  deportação.  Na prisão, descobriu que estava grávida de Prestes. porém, mesmo assim, foi deportada para seu país de origem, a Alemanha. Essa deportação foi considerada ilegal pois ela estava grávida de um brasileiro, no entanto a ordem de deportação foi feita do mesmo jeito pelo Superior Tribunal Federal foi feita e em 23 de setembro de 1936, ela embarcou no navio La Coruña rumo a Hamburgo, na Alemanha. (1)  

Contam que “O empenho para enviar Olga para a Alemanha era tamanho que as autoridades brasileiras chegaram a determinar seu embarque à força, num navio cargueiro, contra a vontade do próprio comandante, que não queria transportar uma passageira em avançado estado de gravidez.”

Olga chegou em Hamburgo, no dia 18 de outubro de 1936 e foi recebida pela Gestapo (polícia secreta nazista) sendo  transferida para a prisão de Barminstrasse em Berlim, onde nasce  dia 27 de novembro de 1936. sua filha, Anita Leocádia Prestes, que ficaria em seu poder durante 14 meses, até o fim do período de amamentação. A intenção dos nazistas era  encaminhar  a criança para um orfanato. A senhora Leocádia, mãe de Prestes, porém, inicia uma campanha internacional para reaver a neta, conseguindo assim  que o governo alemão cedesse e  devolvesse a filha de Olga para a família. Ela, no entanto, continuou presa e foi transferida   diversas vezes para outros campos como o  de Lichtenburg, depois Ravensbrück e, por fim, Bernburg. Em todos era maltratada, como os demais, sendo  sujeita a frio, fome, interrogatórios constantes, trabalho escravo e torturas físicas.

A prisão de Olga  no Brasil e sua deportação para a Alemanha, teve como causa não somente o fato de  ser judia mas também por sua posição política. Tinha 34 anos de idade  quando foi  executada depois de seis anos de prisão ,em 23 de abril de 1942, com mais 199 prisioneiras, na câmara de gás. no campo de extermínio de Bernburg,.  O seu destino só foi descoberto pela família ao final da Segunda Guerra Mundial em 1945.

Sua filha Anita Leocadia cresceu com a avó no Brasil. Em 1964 se forma em Quimica Industrial pela Escola Nacional de Química hoje parte da UFRJ), e em 1966,  obtem o título de mestre em Química Orgânica.[1 Passou um período exilada na União Sovietica .e foi julgada a revelia a causa de sua militância politica em julho de 1973 e condenada  à pena de quatro anos e seis meses pelo Conselho Permanente de Justiça para o Exército. Em 1975 recebe o título de doutora em Economia e Filosofia pelo Instituto de Ciências Sociais de  Moscou.  Em 1979  baseados na Lei d Anistia a justiça extingue a punibilidade da sentença que a tinha condenado a prisão.

Em janeiro de 1990, com uma tese sobre Coluna Prestes, Anita Leocádia recebe o título de Doutora em História pela Universidade Federal Fluminense. Por meio de concurso público em 1992 ocupou  cargo de professora de história no Departamento de História da UFRJ   do qual se aposentou em 2007. É presidente do Instituto Luiz Carlos Prestes.

Seu pai, já residente no Brasil desde 1979,  falece dia 07 de março de 1990. Em 2004 é indenizada com R$100 mil pela Lei de Anistia, cifra que foi  doada ao Instituto Nacional de Câncer..[1

Estas mulheres, com suas histórias de vida-vivida no século XX, também devem fazer parte da nossa memória. Todas tentaram melhorar o mundo, seja através da moda, da cultura, ou da política. Todas fizeram em suas vidas algo que devemos recordar e quem sabe, até como mulher,  continuar defendendo... a começar pelo respeito das leis.

 FONTES: Internet/Facebook

- Biografia: OLGA de Fernando Morais 

- https://pt.wikipedia.org/wiki/Lu%C3%ADs_Carlos_Prestes

 Anita Leocádia Prestes – Wikipédia, a enciclopédia livre (wikipedia.org)

- 1)Mensagem parcial de Bruno Soeiro Vieira in facebook

A Sombra de Olga Benário sobre STF de Cármen Lúcia - 01 de Março de 2018.

...  O caso de .Olga Benário foi um exemplo: quando a mais alta corte de justiça do país -- então chamada de Suprema Corte dos Estados Unidos do Brasil -- teve o direito de examinar um pedido de habeas corpus e se manifestar a respeito. Porém, a decisão da Corte Suprema de 1936 foi errada e indefensável, fato que o decano do STF, ministro Celso de Mello, que presidiu a instituição entre 1997 e 1999, reconheceu com humildade

O erro primário foi não respeitar o artigo 134 da Constituição em vigor na época, que garantia o tratamento de brasileiros a filhos de pais brasileiros, como       ocorria com a criança que Olga Benário trazia em seu ventre -- a futura historiadora Anita Leocádia.

Ao expulsar Olga do país, decisão provocada por um alinhamento com a diplomacia do governo Vargas no período -- cujo mérito ou demérito não se discute aqui -- a Corte permitiu que uma cidadã em pleno gozo de seus direitos fosse entregue a um regime que reconhecidamente deixara de respeitar garantias fundamentais previstas em nossa Constituição.



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