quarta-feira, 26 de janeiro de 2022

VIBRAÇÕES EM FORMA DE ONDAS


Inúmeros são os rumores da cidade que passam desapercebidos à maioria das pessoas. Nos acostumamos a muitos deles, no entanto, apesar de  provocarem danos impensáveis não somente as pessoas.

Com a nota que abaixo  nosso amigo PhD Antonio Carlos Lobo Soares nos ajuda a entender os danos que as vibrações produzidas  pela construção civil "são percebidas, além dos humanos, por animais e vegetais."

Notaremos com ele, também, a passividade de quem mora no entorno, mas não somente, com problemas que todos deveriamos evitar... por sermos  a favor de um ambiente saudável pra se viver.

Boa leitura.

Bate-estaca: é preciso regulamentar! 26-01-2022

Antonio Carlos Lobo Soares*

Nesta semana um amigo me ligou para reclamar do barulho produzido por equipamento de inserção de estacas no solo, conhecido como bate-estaca, em uma obra perto de seu apartamento. Como ele se mudou para o meu bairro, informei que conhecia a situação, que já havia filmado, fotografado e gravado o som do equipamento funcionando.

O ponto de nossa conversa era o porquê da Belém do século XXI, cada dia mais urbanizada e verticalizada, com 1,5 milhão de habitantes, ainda não ter este tipo de equipamento, utilizado na construção civil, regulamentado por Lei.

Além do incômodo gerado por seu som intermitente e regular, um bate-estaca produz vibrações no solo em forma de ondas (mesmo efeito de um terremoto) passíveis de serem percebidas, além dos humanos, por animais e vegetais. Além disso, podem prejudicar as estruturas dos imóveis situados no entorno de sua aplicação.  

Um botânico amigo alertou para a possibilidade destas vibrações desagregarem as raízes das árvores altas. Em 2008, quando medi os sons no Parque Zoobotânico do Museu Goeldi e entrevistei seus visitantes, 100% deles perceberam e se queixaram do incômodo de um bate-estaca em uma obra na Conselheiro Furtado, a 350m de distância.

Nos anos 80, a operação de um bate-estaca em obra de edifício, a 50m na Av. Alcindo Cacela, levou os pirarucus (peixe que alcança até 3m de comprimento) a saltarem desesperadamente em seu ambiente aquático. Aliás, mesmo ambiente em que ocorreu, na década de 1940, a primeira reprodução em cativeiro destes “Gigantes da Amazônia”. 

No fim da década de 80, algumas serpentes (jiboias) de um ambiente no centro do Parque adoeceram e vieram a óbito quando a prefeitura liberou a circulação de ônibus (acima de 3,5 toneladas) na Tv. Nove de Janeiro. Estes répteis utilizam o maxilar para perceber as vibrações no solo causadas pelo movimento de suas presas.

A obra em questão, localizada em zona residencial, está há 3 meses na fundação e opera dentro do horário comercial. O ruído que produz funciona como um cartão de visita que a construtora apresenta à vizinhança. Calculo por baixo que alcança cerca de 10 mil pessoas em um raio de 500 metros em seu entorno, onde há cerca de 30 edifícios de 15 a 25 pavimentos e inúmeras casas de um a três pavimentos.

O que salta aos olhos é a passividade da população belemense e de nossos vereadores diante de uma prática incomodativa como esta, tendo em vista que há outras técnicas de cravar estacas no solo. Um exemplo é o uso de hélice contínua, que não gera ruído ou faz o solo vibrar, não causando, portanto, nenhum incômodo.

Não vou incluir na conta dos prejudicados no bairro da Cremação a população de pets, auditivamente mais sensível, que se faz presente em 50% dos apartamentos do edifício onde moro, representando já ¼ dos residentes. Ninguém é contra o “progresso”, mas somos todos a favor de um ambiente saudável pra se viver.


* Arquiteto PhD, Museólogo e Artista Plástico, Tecnologista Sênior do Museu Goeldi

PS; o autor acabou de publicar outras suas cronicas sobre "sonoridades" várias.

Aqui onde compra-lo:  https://www.amazon.com.br/dp/6587833462/ref=sr_1_2?__mk_pt_BR=%C3%85M%C3%85%C5%BD%C3%95%C3%91&keywords=Antonio+carlos+lobo+soares&qid=1638961537&s=books&sr=1-2

2 comentários:

  1. Excelente artigo. Já estava em tempo que alguem ou alguma entidade se manifetasse sobre o assunto. Resta-nos esperar para que algo seja feito.

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  2. Aí é o problema pode persistir, se continuarmos esperando que algo seja feito. Nós todos cidadãos temos que cobrar providências tempestivas dos agentes públicos responsáveis pela regulação das atividades em nosso estado.

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