terça-feira, 7 de setembro de 2021

COMO UM ABRAÇO... aos herdeiros.

 

Os primeiros tombamentos realizados em Belém, tiveram início nos anos 40 do século XX, e foram feitos pelo IPHAN (ver https://civviva-cidadevelha-cidadeviva.blogspot.com/2010/11/relacao-de-bens-culturais-tombados-pelo.html )

O tombamento feito pela Prefeitura Municipal de Belém da área considerada histórica, aconteceu bem mais tarde, com a Lei n° 7.709, de 18 de maio de 1994. Nela foi disposta a preservação e proteção do Patrimônio Histórico, Artístico, Ambiental e Cultural do Município: o Centro Histórico de Belém.

Às vésperas dos 400 anos de Belém, o IPHAN também tomba parte do bairro da Cidade Velha e a Campina, mais conhecida como Comércio. O Diário Oficial da União publicou no dia 10/05/2012, a portaria do Ministério da Cultura que homologava o tombamento do conjunto arquitetônico, urbanístico e paisagístico dos bairros da Cidade Velha e Campina, no centro histórico de Belém.

Sabemos que além da área tombada, o seu entorno também é importante, e vemos isso pelo interesse de comerciantes de vários ramos, mas é importante também para seus moradores... pelas consequencias que tal ato produz na gestão  de propriedades ali situadas. 

É o caso, porém,  de não confundir a área tombada pelo IPHAN, com a área tombada do Centro Histórico pela Prefeitura de Belém, pois é um pouco diferente, uma da outra. É lógico que o entorno também merece, porém, todo o nosso respeito e atenção. Quantos conhecem essa delimmitação?

A POLIGONAL DO ENTORNO DA AREA TOMBADA PELO IPHAN inicia “no ponto de intercessão do eixo da rua Dr. Assis com o eixo da Av. Almirante Tamandaré”.  Depois, dá uma volta passando pela trav. Padre Eutíquio, segue passando pela trav. Benjamin Constant, trav. Rui Barbosa, av. Nazaré, trav. Quintino Bocaiuva, rua Boaventura da Silva, av. Braz de Aguiar, trav. Dr, Morais, trav. Piedade, av. Marechal Hermes, av. Visconde de Souza Franco, até a intercessão com a linha distante 100m do litoral, paralela ao contorno da orla da Baia de Guajará...

E, paralelamente a orla da Baia de Guajará, lá na Av. Visconde de Souza Franco, sempre a uma distância de 100m seguindo o litoral, vai em frente até encontrar o prolongamento do eixo da av. Almirante Tamandaré, de onde segue até sua intercessão com a rua Dr. Assis.

O entorno da área tombada da Cidade Velha e da Campina, é esse aí:  está no Diário Oficial da União, nº 218, seção 3, do dia 16 de novembro de 2010. Como um abraço ou uma muralha que deveria defender, salvaguardar, proteger nosso patrimônio e nossa memória histórica, ... além dos herdeiros e de suas casas

Nota-se que a Praça Amazonas está fora disso.  Pena que o prédio do antigo Presidio São José, não tenha merecido o necessário cuidado  pelo poder público, para a sua salvaguarda, nem ao menos com um tombamento... talvez  a causa do que siginificava. Também segue sem tombamento o último casarão centenário de um  seringalista existente, ali perto, na Av. 16 de Novembro. Isso demonstra como " parcela significativa dos monumentos e bens de relevante valor histórico, artístico e arquitetônico ainda não se encontra devidamente documentada"  (*).

Segundo informa o portal do Jornal de Brasília, sobre o tombamento: “ ...os dois bairros, protegidos por elementos naturais como baía, igarapé e alagadiços, constituem, ainda hoje, um dos maiores e mais íntegros conjuntos urbanos do país,...

Você está contente com o resultado desse ato? Segundo a nossa Constituição é previsto no art. 216, V-1: “O Poder Público, com a colaboração da comunidade, promoverá e protegera o patrimônio cultural brasileiro.”  Você está fazendo a sua parte, o seu dever em tal senso?

Os proprietários de casas nessa área, porém, é que sofreram, pois perderam direitos sobre sua propriedade em troca de nada. Poucos deles tem 100% de isenção do IPTU, o que NÃO BASTA nem para dar uma mão de cal na fachada da propriedade antes de cada Círio, como se fazia antigamente.

- A maior parte desses proprietários teve que instalar poço artesiano no seu quintal, pois, a rede de água potável ainda conserva tubos de ferro, o que, entre outros motivos, faz com que a água saia nas torneiras com a cor completamente marrom. Lavar a roupa branca era um problema e uma despesa a mais. Nos últimos anos, muitas ruas tiveram os tubos de ferro substituídos, sobrando poucas casas sem poço, onde a água continua saindo na cor marrom.

- As calçadas de lioz, são também um problema, para todos. Não somente por terem sido sobrepostas por calçadas de alvenaria, para tentar evitar que a agua da chuva entrasse nas lojas, depois do aumento da altura do asfalto, mas  também, retiradas para ajudar os carros a terem acesso aos porões transformados em garagens. Neste caso, a calçada quem paga é o dono da casa, mesmo na área tombada, não a municipalidade... e quem perde são todos os outros cidadãos. Ninguem notou isso?

- A passagem de veiculos pesados, como carretas de até trinta metros, pode ser a causa  da trepidação e da destruição de muitas casas que vemos em péssimo estado nessa área. A chuva ainda vem ajudar, introduzindo-se nas fendas criadas nas paredes e tetos das casas, a piorar a situação, facilitando desabamentos, como vimos poucos meses atras. Poderiamos incluir a poluição sonora e os danos que causa ao patrimônio e as pessoas. Fica o lembrete.

- A “situação fundiária” das casas na área tombada é outro problema, que veio à tona, somente após a criação do Programa Monumenta, quando da exigência aos candidatos ao financiamento de apresentação dos documentos dos imóveis. Poucos tem conhecimento que, expressiva parte das casas continuam em nome de avós. Esse foi o motivo que levou os 50 concorrentes da Cidade Velha a não terem direito ao financiamento  para reforma/restauro de suas casas. Somente uma família teve acesso ao financiamento na Cidade Velha, entre os outros seis que tiveram essa sorte, alguns, inclusive de origem estrangeira, tinham comprado as casas recentemente. Quem carregava a memória do bairro ficou de fora por não ser efetivo proprietário, mas ... herdeiro, somente.

A passagem de propriedade de um bem custa um dinheirão, e atualmente os herdeiros não estão na mesma privilegiada situação financeira de seus antepassados...

Que tal um mutirão para resolver esse problema???? Ou um plano para resolver todos os outros problemas dessa área tombada, que nem turista é incentivado a visita-la.


(*)  Frase retirada do “Volume 7 - A Documentação como Ferramenta de Preservação da Memória: Cadastro, Fotografia Vol, Fotogrametria e Arqueologia”  do  artigo " http://portal.iphan.gov.br/publicacoes/lista?categoria=29&busca=

 


3 comentários:

  1. Muito bem colocado, a situação dos imóveis nas áreas tombadas precisa ser revista , se quisermos ter alguma memória da nossa herança histórica.

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  2. Excelente e esclarecedor,seu artigo é um alerta importante e aponta para a necessidade de se renovar as estratégias de tombamento de nosso patrimônio histórico!

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  3. Artigo bastante completo, um documento para tantos que não dominam o tema. Importante a citação das leis e por fim a identificação de problemas nas casas das áreas dos tombamentos e as sugestões de soluções e melhoramentos para os moradores. Muito util esse artigo.

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