sexta-feira, 12 de outubro de 2018

A SEMANA DO CIRIO


NO TEMPO DO MEU PAI... a festa acabava depois de quinze dias da procissão do Cirio.
Falo da animação que Felix Rocque promovia na Quinzena Nazarena, dos anos 40/50 do seculo XX. Ele trazia artistas de todo tipo e para todos os gostos e distribuia pelos teatros que abria nos quatros cantos do Largo de Nazaré.

1870 Largo de Nazaré





















Largo de Nazaré

Anos depois dessas fotos,  no periodo do Cirio, o Largo de Nazaré se enchia de barraquinhas vendendo nossas comidas tipicas. Essas barracas eram dirigidas pelas familias ricas da cidade e se misturavam com os brinquedos - cavalhinhos, roda gigante, sputnik, etc- que ficavam no centro do largo.















Do lado da igreja de Nazaré tinha a Barraca da Santa, que mudava de dono diariamente. As familias ricas que não tinham ficado com uma das barracas do Largo, se revesavam durante os quinze dias naquela maior. Todos os responsaveis pelas barracas faziam convite as familias amigas, as quais, primeiro iam ao teatro (um deles) e apos dar uma volta no Largo, jantavam numa das citadas barrquinhas. Depois, podiam, inclusive ir provocar a sorte no Casino que ficava no Grande Hotel


Com todos os teatros que  meu pai conseguia abrir nesse periodo de festas, programas diferentes para sair de casa e ir ao Largo jantar,  tinha a vontade. Saindo do teatro a volta que davam no Largo, não era somente para saudar os amigos que estavam nas barracas, mas também para mostrar as roupas novas... Nessa época tinha quem fazia o enxoval do Cirio, de modo que não  tivesse que repetir seus  vestidos durante a quinzena. Lógico isso era para uma determinada classe.


Meu pai morreu em 1958. Meu irmão Carlos Rocque ainda tentou, por uns dois anos, levar em frente essa atividade, mas preferiu continuar a ser jornalista e escritor, assim essa usança acabou.

Hoje, a semana que antecede a procissão é plena de atividades culturais. Se somam aos lançamentos de livros, peças teatrais, o Auto do Cirio e o Araial do Pavulagem.  Estes dois ultimos eventos que acontecem sexta a noite e sabado depois da Romaria Fluvial -criada por Carlos Rocque - chamam uma quantidade enorme de pessoas para a Cidade Velha. Depois esse frenesi acaba, alias é muito mais brando, na verdade.

Na Praça do Carmo, sempre na semana que antecede o Cirio, temos ainda os ensaios e outras passagens de grupo culturais com suas propostas, muitas vezes extremamente rumorosas...e agora vamos falar dos problemas que geram.

Estamos falando de área tombada,onde se encontra a maior parte das igrejas mais antigas de Belém as quais deveriam ser salvaguardadas, protegidas, preservadas, conservadas, defendidas... Em  vez, durante o ano, temos uma media de cerca de cinco casamentos por semana nessas igrejas durante os quais agora é de moda usar fogos de artificio como no Cirio, ... Façam as contas para ver quantas noites de poluição sonora essa área tem que suportar, apesar da legisliação em vigor a respeito disso...


Nessa área tombada também acontece o carnaval, a partir do dia primeiro de janeiro de cada ano e, nos ultimos dez anos, com a introdução de trios elétricos e abadás, a coisa piorou. Vamos fazer as contas, novamente, de quantos dias o patrimonio sofre a agressão da poluição sonora, sem nenhum controle sério.

Temos também as festas dos Santos, e não somente a quadra junina, mas todas as outras e o Cirio também. Muitas vezes os fogos começam as seis da manhã, e os dos casamentos, até depois das 22h, além do tambres que podem ser tocados até as duas da manhã. Vamos somar a quantidade de dias que o patrimônio historico sofre esses abusos?

Na Cidade Velha, o foguetório acontece, também  em todos os órgãos onde a N. Sra. de Nazaré vem em visita. E, no meio de tanta gente culta que a recebe, ninguém pensa no dano que estão fazendo ao Patrimônio Histórico?...ao menos.

Temos, também, as manifestações não somente politico-partidarias na frente da Assembleia Legislativa. Além dos falantes em alto volume, temos também musica e fogos bem barulhentos que conseguem até  derrubar os estuques do Museu do Estado -MEP, além de não dar sossego aos anciães que vivem no entorno.

IGNORAM, JUNTAMENTE COM OS OUTROS FREQUENTADORES DESSA ÁREA OS DANOS QUE, NÃO SOMENTE A POLUIÇÃO SONORA, CAUSAM AO NOSSO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E AS PESSOAS.

Um balanço desses danos, ninguem faz... nem dos pássaros e outros animais que se unem aos humanos que sofrem essa agressão sonora juntamente com os prédios tombados.

Tem razão Otto Lara Rezende quando diz: De tanto ver, a gente banaliza o olhar - vê... não vendo. ... o que acontece ao patrimônio durante o ano inteiro.


PS: A LEGISLAÇÃO COMPLETA A RESPEITO DA POLUIÇAO SONORA é:  no âmbito Federal: Art. 225. Da Constituição Federal, Lei n. 6.938/81, que dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, o Decreto n. 99.274/90, que regulamenta a Lei n. 6.938/81, a Resolução  do CONAMA n. 01, que estabelece critérios e padrões para emissão de ruídos em decorrências de quaisquer atividades industriais, Resolução n. 02, que instituição o Programa Nacional de Educação e Controle de Poluição Sonora-Silencio, e as Normas Técnicas de na. 10.151 E 10.152 da Associação Brasileira de Normas Técnicas -ABNT

PS2 :- https://civviva-cidadevelha-cidadeviva.blogspot.com/2017/09/as-mudancas-no-cirio.html


Dulce Rosa de Bacelar Rocque.

Nenhum comentário:

Postar um comentário