sábado, 8 de novembro de 2025

COLONIALISMO CULTURAL


Ontem tive a oportunidade de participar de uma reunião da COP30 na UFPa.

Não sei dizer exatamente onde me encontrava, mas era perto da Reitoria.  Na porta da sala, nenhuma indicação, e nem me preocupei pois estava apenas acompanhando uma amiga professora.

Quando eu  entrei na faculdade de Economia da UFPa, ainda não existia  essa área na beira do rio.  Entrei em fevereiro de 1964 e a faculdade se  encontrava em dois prédios na Av. Nazaré, um em frente ao outro, antes do palacete Faciola. O ultimo ano, em vez, o fiz em 1967 na casa onde meu pai tinha morado e morrido em 08.08.1959, na antiga S.Jeronimo. Portanto nenhuma intimidade com a área  que  reuniu os estudantes depois do golpe de 64, num lugar so.

O Conjunto Universitário Pioneiro, situado às margens do Rio Guamá, foi inaugurado em 13 de agosto de 1968... eu já estava trabalhando como economista com os Prof. Wilton Brito e Henrique Osaki.  No ano seguinte, em 1969 fui embora estudar no exterior, assim nem cheguei a conhecer aquela estrutura. Fui vista-la, já no ano  2004,depois de ter voltado a morar aqui e estranhei logo o fato de não ter calçadas...nem alguma indicações dos prédios existentes....e ontem, continuei procurando indicações que não encontrei.

Por isso não  sei o local onde me encontrava nem o que se discutia ali. Numa sala com  capienza  para umas 50 pessoas, no máximo, não chegávamos a ser 30. No fundo da sala passavam um vídeo em inglês...sem tradução. Quando o video acabou continuaram a falar em inglês... Quando tive oportunidade pedi a palavra e perguntei porque naõ tinha tradução. Educadamente uma senhora que imaginei ser a responsável do evento, me explicou que o público tinha decidido o uso do ingles, mas que  tinha uma tradutora a minha disposição.  A moça veio, sentou-se ao meu lado, mas eu declinei a ajuda, e disse que entre as 4 linguas que eu falava, tinha o inglês, também. Falaram por mais uma meia hora e depois interromperam  para fazer uma  merendinha .

Sabemos que a Bacia Amazônica é composta pelo Brasil, Colômbia, Peru, Bolívia, Equador, Venezuela, Guiana e Suriname e juntas essas nações abrigam 60% das florestas tropicais do planeta. Francamente pensei que portugues e espanhol também fossem as linguas oficiais.

Não posso dizer que o colonialismo cultural se apresentou sutuilmente porque o público presente optou pelo uso do ingles e não a do país que hospedava o evento. Para a comunicação global era o ingles a  lingua oficial principal, mesmo se naquela sala  so tinha um estrangeiro, pelo que notei. Afinal de contas o organizador principal dese mega evento era a entidade da ONU ,UNFCCC.

Uma pessoa, la do outro lado do mundo que seguia o vídeo  e que tinha ouvido a minha reclamação disse: se eu estivesse no Brasil ia falar em brasileiro.

O fulano que tinha acabado de falar em inglês, disse que podia até falar em espanhol, mas que deveriam providenciar tradutor, pois seus ouvintes eram franceses... Enquanto isso as pessoas tinham se levantado para  o café e eu pensava no que ouvi... dai pedi meu direito de resposta e disse:  no Pará  nós falamos, português; brasileiro se fala no sul do Brasil... Pra que, as mulheres presente se ofenderam  e o demonstravam ineducadamente. Decidiram que eu tinha ofendido o professor que era o equivalente francês do presidente do IBGE de lá... Maleducada, me chamaram.

Não nego a necessidade de terem salas adequadas a eventos em línguas estrangeiras, mas se vê que a UFPa não estava preparada para tanta procura, o certo é que ali não tinha esse equipamento.  E se aproxima de mim o professor/dirigente frances e me pergunta quais línguas eu falava e respondi: russo e italiano, também. Dai ele me perguntou em russo se eu falava russo... e veio uma mulher e falou uma frase  em italiano...errada, e eu corrigi... O nível estava baixando muito.

Pude apenas constatar que o colonialismo cultural era evidente, de ambos os lados:  compreensivel que a lingua oficial do evento fosse o ingles, mas... e fui embora, admirada do fato  que presenciei e pensando que, se todas aquelas pessoas ali presente, realmente falavam ingles, era ja algo de muito positivo, mesmo se  quem estava comigo não falava.

Me informaram hoje, que propuseram a criação  de uma moeda... ecológica.


                  A foto do evento,  que recebi hoje. Esses eram os ouvintes... Não notei a presença de nenhum indio ou ribeirinho... além de mim e da minha amiga, que moramos  na beira do rio Guamá.


Um comentário:

  1. É indiscutível a necessidade de fluência em outros idiomas, especialmente o inglês; para facilitar a comunicação, inclusive no ambiente acadêmico. Mesmo em eventos internacionais realizados no Brasil, é perfeitamente compreensível que algumas exposições e discussões sejam em outro idioma que não o português. Nesse contexto, é fundamental que sempre haja tradução simultânea para o português; e também, o máximo cuidado para que não se configure uma situação de subserviência ao colonialismo cultural; como tem sido bastante frequente em certos segmentos empresariais, notadamente, na escolha de títulos para estabel3cimentos comerciais e condomínios imobiliários.

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