AGRADECIMENTO AO L’UNITÁ
Cheguei na Italia, mais precisamente em Piacenza, em agosto de 1971. Era pleno verão. A cidade ficava a beira do rio Pó, o maior da Italia com pouco mais de 600km. Ali começava a região Emilia Romagna, com capital em Bolonha. Do lado de lá estava a região Lombardia, cuja capital era Milão.
A poucos minutos da cidade num descampado, uma
festa de interior se realizava, era o tal de festival do L’Unitá, o jornal do
Partido Comunista Italiano. Ias la para comer, dançar e fazer política.
Parecia o Arraial de Nazaré da minha infância, so
faltavam os teatros do meu pai. As comidas que vendiam eram todas regionais e
feitas pelas senhoras das várias sessões que se juntavam para recolher dinheiro
para ajudar o Jornal. Tinha pescaria; casinhas numeradas onde os coelhos deviam
entrar; brinquedos para crianças e música ao vivo para os mais velhos: polca,
valsa e mazurca, herança do período austríaco. Esses ritmos eram chamados de
‘liscio’, ou seja: liso.
Era tempo da guerra fria e dos governos da
Democracia Cristã na Italia. Publicidade, bem poucos faziam no jornal
comunista, necessária, era, portanto, muita solidariedade para manter em pé o
jornal que defendia os trabalhadores.
Durante o verão, todas as sessões do PCI se
movimentavam para fazer sua festa; para ajudar o partido, seu jornal. Todos
trabalhavam de graça e quem produzia vinho oferecia parte da produção para a
festa. O pão era feito em casa pelas camponesas, assim como as salsichas e a
copa.
Do lado de la das barraquinhas de comida, tinham
outras destinadas a difusão de livros, revistas, discos, k7 e artesanato.
Dependendo do tamanho da cidade, essas áreas aumentavam e ofereciam mais
coisas. Nas capitais de província a festa durava de dez a quinze dias.
Aos poucos, indo naqueles maiores, descobri a área
internacional, onde cada barraquinha era dedicada a um país que precisava de
ajuda, e aí comecei a levar os problemas do Brasil para as festas do L’Unitá:
era o tempo da ditadura.
Comecei a procurar material para difundir
informações, mas era difícil. A censura evitava que o mundo conhecesse a nossa
realidade, coisa que até quem morava aqui desconhecia. Foram documentos da
Igreja católica que me salvaram. As denúncias DE PRISÕES, ASSASSINATOS E
EXPULSÔES DE PADRES, MAS NÃO SOMENTE, levavam tempo para chegar, e eu as
traduzia e ciclostilava nas sessões do PCI.
Durante dez anos passei minhas férias girando a
Italia de costa a costa, nesses festivais do L’Unitá denunciando a ditadura e
recebendo todo apoio necessária a luta que travava.
Dulce Rosa de Bacelar Rocque (Márcia ou Mapcua)
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