domingo, 12 de janeiro de 2020

404 ANOS DE BELÉM DO PARÁ


VALDEMIRO GOMES é um caro amigo da CIVVIVA. Hoje vive em Lisboa, mas sua ligação com Belém, não acabou com essa mudança.
Aqui uma lembrança de outro aniversario de Belém... porque condividimos seus sonhos.

Belém ( vai mudar)
(publicado há 24 anos)

Após escrever sobre nosso Pará, sobre o Brasil e nossa aldeia global, hoje falarei sobre nossa querida Belém, maltratada e mal amada .

Santo Tomás dizia que a qualidade da cidade depende da qualidade do cidadão, donde é impossível termos uma cidade boa se seus cidadãos não forem virtuosos. O cidadão será sempre maior que a cidade e esta será sempre o retrato de seus filhos.

Nossa ex - Mairi ou ex - Lusitânia, sempre Santa Maria de Belém do Grão-Pará, que em 1788, ou seja, nos tempos de nossos bisavós, tinha 10.620 habitantes e hoje ultrapassa os 1.300.000, já teve seus momentos de glória, progresso e bem - estar, dos quais destacamos o período daquele que foi o maior dos administradores de Belém, Antônio Lemos. Mercado de Ferro, bondes elétricos, calçadas em granito, construção de redes de esgoto, asilos para velhos e pobres, avenidas que ainda hoje são as melhores de nossa cidade, nos fazem repensar na situação caótica e de total desprezo na qual vegeta a cidade .

Não sou somente eu que assim julga esquecida nossa cidade das mangueiras. O jornal Folha de S.Paulo dizia em uma de suas reportagens: A péssima infra-estrutura de Belém afugenta os turistas. Belém está um lixo. Belém fede. Muito mais, Belém destrói seu passado quando permite vender um Palacete Pinho para ser depósito de geladeira; quando manda demolir a caixa dágua, nossa torre Eiffel; quando assiste o Palacete Bolonha se tornar ruínas e as ruínas do Murucutu se perderem por ignorância . 

Nós cidadãos, que fazemos nossa urbe, temos que mudar e exigir mudanças.
Vejo Belém, amanhã, como a Veneza dos trópicos, em que nossos igarapés, caminhos naturais criados por ELE, não mais serão simples esgotos a céu aberto e, através do ressuscitar da esquecida macrodrenagem, se integrarão a um sistema rodo-fluvial, onde os abandonados galpões 1,2 & 3, Mosqueiro - Soure, poderão ser transformados no principal terminal de passageiros, abrindo a cidade ao rio e permitindo que a população descubra e frua do maior de nossos encantos, nossas maravilhosas e misteriosas ilhas, voltando a trazer vida à vida do belenense. Será o abrir das janelas, onde o sol, a brisa, entrarão em nosso dia a dia.

Nossa cidade velha e seus lendários casarios renascerão com novas calçadas e novas ruas de poliedro ou pedra, terminando com um dos drenos do dinheiro público, quando entra ano sai ano, ou melhor, entra prefeito sai prefeito, se pinta de asfalto nossas ruas, num total desconhecimento de nossos solos e desprezo ao conforto ambiental do cidadão .
 Não conheço outra cidade que tenha o nível da rua mais alto até 30 cm acima do meio fio, comprovando o despreparo dos nossos administradores. Minhas desculpas aos administradores , pois administrador é o que Belém não tem há já algum tempo.

Nosso Ver-o-Peso , que hoje fede, como fede a principal praça da cidade, voltará a ser ponto de encontro, de namoro e cartão de visita. O lixeiro cumprirá sua missão de limpar e não de sujar como atualmente acontece. Hoje, vejo o homem animal em Belém defecando em plena luz do dia, em praça pública, quando cidades conheço que obrigam os donos de cachorros recolherem dejetos que os mesmos deixam nas vias públicas. As lixeiras , os abrigos de ônibus , os telefones públicos, a limpeza dos muros, voltarão a ser de interesse público e preservados, penalizando, e não incentivando, o vandalismo.

Os ônibus voltarão a ser obrigados a trafegar em seus limites, e não mais em fila dupla e até tripla, como hoje acontece, nas barbas de nossas autoridades, e respeitarão as ciclovias, que a cidade terá que ganhar, atendendo às necessidades e anseios da maioria de seus cidadãos. Por que nossas crianças não podem ir para a escola de bicicleta, assim como o operário para a fábrica ? Bangcok , Pequim, Hongkong e mesmo cidades do primeiro mundo, como Holanda , Bélgica , posem servir de exemplo .
O orçamento participativo permitirá que possamos iniciar uma nova era, que chamarei de era do amor por Belém, onde não o rei, mas o cidadão possa apresentar novas idéias, como adequar espaços mortos, transformando, por exemplo, o abandonado cemitério da Soledade em um parque da Meditação e Paz, revitalizando o Reduto e o Arcebispado , urbanizando o Utinga e as nossas ilhas para o lazer, enfim, criando a engenharia social em vez da fria engenharia civil , encerrando o ciclo dos governantes de placas, ou melhor, de emblemas.

Belém vai mudar . (hoje pergunto-me quando?)


VALDEMIRO GOMES

Um comentário:

  1. Obrigado pela referência. Deixei de semear, talvez pela idade. Contudo hoje rego as sementes que não germinaram. Namaste

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