domingo, 31 de maio de 2015

Outra poesia para Belém


Gosto de Ti Belém

Há muito contigo convivo
Mas de seis décadas aqui vivo
Adormeço e desperto no teu colo
Aqui colho alegrias e até tropeço
Tua evolução ou revolução vejo e ouço
Acompanho tudo do meu domicilio e endereço
Meu lar é aqui com todo apreço
Sob tua ramagem colhi o fruto saboroso
No chão nu ou sobre o paralelepido
E também sobre o negro asfalto
Tranquilo o saboreei de graça, sem preço
Na madrugada com luar sem chuva
Ou na vesperal, sob intenso toró
Daquele de furar guarda chuva sem dó
Tudo era paz com inocente folguedo
Violência! Só da manga caindo na cabeça
Ah! Cidade Morena, o que contigo se passa?
A erva daninha te ameaça o carinhoso título
A incúria pública destroe formosura
Não há seriedade nem a noite e nem de dia
Cidade das Mangueiras será item da historia
Em algum compendio naquela livraria
Cidade pacata já é realidade do passado
Lambuzar-se com manga também é ilusão
Pois em cada esquina te espreita e há destruição
O trânsito vai tudo estrangular em absoluta paralisação
Nem precisa ser craque em adivinhação
Logo mais todos estaremos a pé
As vias públicas serão uma grande garagem a céu aberto
Pois ninguém sai de primeira e nem de ré
O homem público há muito fechou os olhos
A politicagem entupiu seus ouvido ao clamor
Do belemense reclamando em função do seu amor
Por está Linda Morena há muita sofredora
Pelo desleixo e retórica da tribuna, oradora
Faz que tudo vêem mas, só exclamam: égua!
E dizem pai d´égua para a destruição
E cada hora tudo arruína, piorá
Até o açaí está indo embora daqui
A preço de ouro foi ser vendido bem ali
Seu preço nem com farinha ou frito camarão
Com açúcar e um brutal susto de maldição
Que faz muito mal e enfarta o coração
Mas, quem sabe possamos mudar
Antes da ruína absoluta tudo alcançar
E assim teremos de volta a Cidade Morena
Bela Menina Guajarina e faceira
Nossa Linda Belém do Pará


Lúcio Reis
Belém do Pará
31/05/15.

domingo, 17 de maio de 2015

POESIA PARA A CIDADE VELHA

                     

           RUA SIQUEIRA MENDES   



Caminho pela Siqueira Mendes
tropeçando em séculos.
Parece que na rua de hoje
fervilham memórias
na forma de gente, de carros,
bondes,charretes.

Vão-se pioneiros rudes, descamisados
domando a terra, os nativos.
Vão-se bêbados contando bravatas,
vão-se remadores da madrugada singrar o rio.
Vão-se as damas dos seringais
engomadas em Paris.
Vão-se as putas para o porto,
lambusarem-se no gozo dos outros.
Vão-se os ladrões,  as velhas Marias,
as crianças ,o Zé Melodia.

A Igreja do Carmo imponente
protegendo a todos Nossa Senhora.
E na contradição mundana
lá na esquina da Dr.Assis
desponta um falo exuberante do varão.

A primeira rua guarda pedras de lioz
com vestígios do mar ibérico.
Conchas,cavalos-marinhos
pisoteados a tanto, por tantos
ainda hoje em delicados desenhos
estão expostos, despercebidos.

Foi nos primórdios rua do Norte.
margeando o rio até a floresta.
Depois Siqueira Mendes
que a cidade não sabe quem foi.
Padre de Cametá. Ensinava latim
e Teologia nos seminários Carmelitas.

Deputado e Senador do Império.
Virou lei a estátua em sua homenagem.
E como se fora para registrar
a importância das leis, nessas plagas,
nunca o governo a construiu.

Quanta coisa aconteceu nessa rua.
Quanta virgindade se perdeu,
quantas cabeças esbranquiçaram
e na maturidade se descobriram
infelizes e sem tempo .

Quantas vezes
essas paredes foram pintadas?
Quantos pintores morreram
e juntos com eles suas marcas?

Quantas casas caíram
e foram reconstruídas e repovoadas
e perderam seu sentido e
não têm mais história?
Tiraram da rua o rio.
Não há frestas sequer.

Só descendo a Felix Roque.
Vão-se em descidas e subidas
os marujos num vai e vem
de coisas e gentes.

Vêm os fantasmas todos
a esse festejo da memória.
Mas há um quê de sombrio
nas máquinas paradas
da fábrica Bitar.

Ali parou o tempo
dos seringais roubados.
Ali vive soturna a decadência
de outrora a insistir-se
como registro indelével.


  De um ilustre personagem, desconhecido porém, como poeta, ao menos para nós:
  Prefeito Zenaldo Coutinho
Escrita no dia que embargou as obra da ex trav. da Vigia.
Abril 2015
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