sexta-feira, 12 de maio de 2023

2 - JARDIM BOTÂNICO DE BELÉM DO PARÁ

ANTES DA AVENIDA 16 DE NOVEMBRO  ser criada em 1902, ali existiu algo bem diferente... Algo a respeito escrevemos em 2015:

 = https://laboratoriodemocraciaurbana.blogspot.com/2015/11/uma-homenagem-av-16-de-novembro.html = agora completaremos detalhadamente para os estudiosos se informarem melhor.

Esta a fonte Dicionário Histórico-Biográfico das Ciências da Saúde no Brasil (1832-1930)

Casa de Oswaldo Cruz / Fiocruz 

(http://www.dichistoriasaude.coc.fiocruz.br)

Como é muito longo, dividiremos em três partes: a pre-historia; -  o nascimento; - e a morte.

JARDIM BOTÂNICO DE BELÉM DO PARÁ (1798)

2- NASCIMENTO... FINS DE 1800

A Capitania do Pará, especificamente, possuía particularidades que despertavam uma atenção maior de Portugal; a diversidade de sua fauna e flora renderia muitos frutos à economia portuguesa. Desde meados do século XVIII, a Amazônia era intensamente solicitada para incrementar parques e jardins da Europa, mas desde os tempos das atividades de reconhecimento das drogas do sertão já era objeto de exploração botânico/zoológica por parte da metrópole. Assim, a criação de um jardim botânico em Belém era conveniente a Portugal e ainda serviria de modelo para a implantação de recintos botânicos em outras partes do país, fato este que apareceu numa carta do Conde de Linhares a D. Francisco Inocêncio:

"(...) Sua Majestade não só aprova(...)mas espera, que V. S. faça que esse Jardim sirva de modelo a todos os outros, que se devem estabelecer nas outras Capitanias do Brasil e que lhe dê uma extensão, que do mesmo possam ir para as outras Capitanias, as Plantas exóticas, e indígenas, que V. S. tem cultivado " (Códice 676, seção manuscritos da B.A. Paraense. Apud, REIS, 1946, p. 7).

 

 



Tudo indica também que o bom funcionamento do Jardim Botânico de Belém do Pará nos primeiros anos de existência ajudou a servir como exemplo na edificação de outros locais de manutenção de espécies. Uma correspondência entre D. Maria I e o governador da capitania retrata o objetivo da Coroa:

"(...)Ordena Sua Alteza Real, que V. S. deixe disposto o modo porque se hão de ir sempre aumentando particularmente as espécies preciosas, quais Árvores de Pão, Caneleiras, Pimenteiras, Cravo da Índia, Árvores de Café, Árvores de construção: e como desses viveiros se hão de ir distribuindo para as outras Capitanias, V. S. deve oferecê-las aos seus respectivos Governadores logo que as tenha em maior abundância."( Códice 676, seção manuscritos da B.A. Paraense. Apud, REIS, 1946, p.10)

 

 





Através das correspondências entre Francisco Inocêncio de Sousa Coutinho e Rodrigo de Sousa Coutinho (Conde de Linhares), foram obtidas informações acerca da aquisição de plantas, assim como do desenvolvimento destas ao longo dos tempos. Duas dessas cartas tratam do assunto:

"(...)Horto Botânico se não tem aumentado em extensão tem ganho em intenção pelas muitas mais Plantas que contêm, além das que vem vindo. Do Cravo da Índia tem morrido alguns pés, e quase todos os que dei a Particulares mas os que prometem vigorar. As Caneleiras e as Árvores de Pão tem vingado que parece não o foram mais vigorosamente onde são naturais."

"(...)As plantas de Cravo da Índia são mais vagarosas, tem morrido muitas, mas temos ainda bastantes, vigorosas que prometem vingar. As do cravo da terra, e de Oucheri são também importantes, e melindrosas, mas as de casca preciosa, e de salsa parrilha vingam sem maior trabalho.(....) " (Códice 676, seção manuscritos da B.A. Paraense Apud, REIS, 1946, p.9.)

 

 

 

 




Com a chegada da Família Real ao Brasil, em 1808, o plano de criação de outros hortos botânicos no restante do território brasileiro ganhou força, principalmente com o êxito obtido no Pará. O sucesso de Belém representava a continuidade de uma política econômica que visava o cultivo de vegetais exóticos para fins lucrativos na Europa. No início do século XIX já havia sido criado o Real Horto e o Horto D´El Rey em Olinda (Pernambuco). Ambos foram estruturados de acordo com o modelo traçado em Belém, tendo recebido de lá, inclusive, várias plantas para cultivo e aclimação.

O ano de 1809 foi bastante próspero para o Jardim Botânico de Belém do Pará. Com a tomada de Caiena pelas tropas joaninas, Portugal ganhou a posse do jardim de aclimação da Guiana, chamado La Gabrielle. Isso facilitou bastante o desenvolvimento do horto botânico do Pará, pois se podia adquirir plantas exóticas a qualquer instante, sem mais precisar agir na clandestinidade. De lá os portugueses trouxeram a cana-caiana, a noz-moscada, o cravo, a fruta-pão, e talvez a carambola e a fruta-do-conde.

O primeiro envio de espécies para Belém foi realizado no final de 1809. Joseph Martin, administrador de La Gabrielle, assinou a lista de plantas e as instruções para o plantio. No total, 82 espécies foram embarcadas em seis caixas.

Com a criação do Real Horto, em 1808, no Rio de Janeiro, e a instalação, em 1811, do Horto em Olinda, consolidou-se a rota de remessas de plantas que eram enviadas de Caiena para o Pará, e daí para os demais hortos da América Portuguesa. Essas remessas de plantas eram bens econômicos extremamente valiosos, tendo em vista sua cotação no mercado.

João Severiano Maciel da Costa, Intendente Geral de Caiena, teve um papel extremamente importante na supervisão da administração de La Gabrielle, adotando medidas que tinham por objetivo proteger o cultivo e o comércio das especiarias. Junto com D. Rodrigo de Souza Coutinho, ele organizou a transferência de mudas para Belém, Olinda e Rio de Janeiro.

Entre 1803 e 1806, a Capitania do Pará foi dirigida por D. Marcos de Noronha e Brito, o oitavo Conde dos Arcos que realizou uma reforma urbanística na capital. Consta que o governador criou, na estrada que conduzia ao Jardim Botânico, um passeio público que tinha a estrutura de um largo circular (chamou-se Largo do Redondo) e se destinava à venda de hortaliças para o consumo público. O Passeio estava localizado ao leste de Belém, num trecho de terreno devoluto, drenado por meio de covas e onde existiam belas árvores, dentre elas mangueiras, sumaumeiras, árvores-do-pão e mombins que propiciavam uma sombra aprazível e onde, inclusive, haviam sido instaladas algumas chácaras. O plantio realizado pelo Conde dos Arcos fez com que Belém lucrasse em salubridade e afastasse, assim, surtos endêmicos. Uma outra reforma urbanística foi feita na região do Piri, que também era conhecida como Alagadiço de Juçara; nela foram traçadas estradas de passeio arborizadas, onde se encontrava um horto, no qual eram cultivadas espécies trazidas de Caiena, dentre elas as caneleiras. O local foi então denominado Jardim das Caneleiras. Portanto, o conjunto urbanístico da cidade abrangia o Jardim Botânico, o Passeio Público e o Jardim das Caneleiras.

No ano de 1817, mais precisamente em novembro, foi assinado um acordo entre Portugal e França, que restituía a Guiana à sua antiga metrópole. A partir deste momento, o Jardim Botânico do Pará desvinculou-se de La Gabrielle.

Em 1818, assumiu a direção do Jardim Botânico o médico e naturalista Antônio Corrêa de Lacerda, nomeado pelo último Capitão General no Grão-Pará, Conde de Villa Flor. Dentre todos os inspetores do jardim paraense, foi ele quem deu maior organização à instituição, uma vez que contava com o trabalho de um assistente, de escravos e dos degredados mantidos no quartel ao lado do jardim. Corrêa de Lacerda realizou experimentos agrícolas, renovou a plantação de caneleiras e a produção de canela e iniciou a catalogação e a classificação botânica das espécies cultivadas. Esse trabalho deu origem à sua obra mais importante, a "Flora Paraensis".

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