sábado, 18 de julho de 2020

CONSERVAÇÃO E RESTAURO



Numa das viagens da Dra. Marinella Pigozzi(*) a Belém, ela me presenteou alguns livros, em agradecimento por tê-la acompanhado pela parte histórica da cidade. Entre eles estava “Ricerca umanistica e diagnóstica per il restauro” que ela coordenou.

Nesse livro, vários especialistas refletem, analisam e diagnosticam modos  de trabalho, que, apesar de ser para um caso concreto, é validíssimo aplica-lo ao “geral” contribuindo assim para o conhecimento e a salvação de bens históricos.

Diz ela que “ se uma cidade quer conhecer os próprios bens, tutelá-los, conserva-los e valoriza-los, deve vigia-los para que o patrimônio não venha cancelado ou danificado. Deve monitora-los com continuidade e sistematicamente, sem se permitir de relaxar a vigilância ”.  O que não acontece aqui entre nós. 

No livro em questão a Dra.  Rossana Gabrielli escreveu sobre o seu  percurso de método” por ocasião de trabalhos de “conservação e  restauro” e fiquei pensando se isso acontece em Belém por ocasião de “trabalhos” em prédios e monumentos históricos, mesmo se não tombados.

Ela assinala a necessidade “Para uma correta salvaguarda do nosso patrimônio artístico, a tutela e o conhecimento dos bens culturais e histórico são atividades fundamentais  e estreitamente correlatas entre si.”

Como tutelar sem conhecer? Esse, de fato, deve ser o primeiro passo de uma série de intervenções necessárias para a conservação dos bens culturais. Quem trabalha com ‘patrimônios’ deve levar em consideração essa necessidade. 

Diz ela que: A análise dos materiais usados nas várias fases da vida de um bem, permitem obter informações seja sobre a vida histórico-arquitetônica, seja sobre o estado de conservação  dos materiais e da obra em geral. Essas analises devem, necessariamente, ser correlatas com o estudo histórico, documentário, arquivistico e artístico, única possibilidade para ter um conhecimento especifico, seja cronológico que estilístico afim de inserir o bem, no mais amplo sistema do nosso patrimônio cultural.

Reconhece ela que o momento mais traumático entre as atividades de conservação de um bem, o  restauro é aquele preponderante.  Nessa ocasião são inevitáveis ações destrutivas, porém,  tendo-se um profundo conhecimento sobre o bem, com as técnicas e o material adequado é possível limitar esse aspecto.

Insiste em dizer que: O conhecimento cientifico da  obra em estudo, se obtém com a interação de várias figuras profissionais  quais : o arquiteto, o restaurador, o histórico, o geólogo, o arqueólogo, o químico, o engenheiro e outras figuras necessárias...segundo o tipo de intervenção em ato...

Ela reconhece como essencial a arqueologia da arquitetura para definir um modus operandi e como coordenação da obra das várias figuras profissionais envolvidas no trabalho de conservação inclusive, da memória nacional.

Com esse sistema se evitaria ver nossos prédios e monumentos mudarem de cor e aspecto toda vez que os restauram, revitalizam e/ou os requalificam .

Certo que os países com uma longuíssima história, tendo acumulado um patrimônio histórico invejável   que atrai turistas e estudiosos do mundo inteiro, não podem se permitir tais modifcações. Paralelamente, de fato,  se desenvolveu pouco a pouco, uma vasta e diversificada especialização em materia de 'antiguidades', seja interna que externamente que dialogam entre si, trocando conhecimentos... e mantendo a memória o mais próximo aquela original.

A Grécia, a  Italia o Egito e poucos outros mais, estão entre os países mais procurados por turistas pela sua antiquissima história e as lembranças que tutelam. Para manter o fluxo de turistas  e as consequentes entradas econômicas necessárias a nação, devem manter em pé seus monumentos e prédios e atualizar continuamente os metodos de defesa desse patrimônio.

No Brasil a incidência do turismo histórico no balanço da nação por ser bem inferior,  não deve, porém,  ser motivo para uma menor atenção na defesa e salvaguarda do nosso patrimônio que vemos se esvair pela falta da devida vigilância e de comprometimento com a memória da nação.


(*)       Titular da cátedra de “ insegnamenti di Storia della critica d’arte e de Museologia” na  Universidade de Bolonha. Seus interesses oscilam entre a história da crítica, a museologia e a história da arte moderna



Um comentário:

  1. Aqui no Brasil, ainda que haja muitos profissionais altamente preparados academicamente em segmentos como história, arquitetura e urbanismo.
    Infelizmente, a nomeação para gestão de entidades públicas responsáveis pela conservação do patrimônio atende mais a determinantes políticas do que de formação acadêmica.

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