NO TEMPO DOS MEUS AVÓS
(na década de 1910 )
O Largo do Carmo
Na Cidade Velha
Era a moradia mais chique
Da cidade de Belém
Nos Tempos Dos Meus Avós
Na era de Ouro da Borracha
Lá os dias pareciam
Amanhecer em festa
E quando a tarde chegava
Senhoras de meia idade
Vinham às suas janelas
Ao ouvirem o som
Do velho realejo a tocar
Com os olhos razos d'água
Mãos postadas sobre o peito
Suspiram por seus amados
Em juras eternas de amor
Em saudades do tempo
Que ja se foi mas
Que um dia foi todo seu
O realejo tocava
Em todo final de tarde
valsinhas do coração
Enquanto o petiz da intendência
Vinha acender os lampiões
Clareando a praça do Carmo
Meninas direitas não recebiam
Seus pretendentes
À sombra dos lampiões
Apenas as sirigaitas
Preferidas de certos rapazes
O faziam às escondidas
Sob os olheres vigilantes
E altamente repreensores
Das senhoras em suas janelas
"Um rapaz de boa familia
Não se expõe às claras
Com certas serigaitas
Para não ficar
Mal falado também"
Diziam as velhas senhoras
Alertando seus meninos
Nos dias de festas
Nas quermesses da paróquia
Da Igreja do Carmo
O Largo ficava coberto
De bandeirinhas multi coloridas
Dando cores novas
Às cores da velha pracinha
A Banda marcial
Da policia militar nunca se furtava
De tocar seus dobrados
No quiosque do Centro da praça
Todos aplaudiam e vibravam
E quando o Maestro ordenava
Musicas para dançar
Um longo e unissono ôôôhhh...
Era ouvido à longa distância
Velhos e bigodudos senhores
Verdadeiros pés de valsa
Quando jovens
Tomavam suas senhoras nos braços
Exibiam seus melhores passos
Dançando felizes e exibidos
Como nos melhores dias
Das suas juventudes
Outro longo e choroso suspiro
Era ouvido sob aplausos
Quando o Maestro sentìndo
A hora grande chegar
Ordenava aos músicos
A Valsa da Despedida
Nesses dias de festa
A intendência municipal
Permitia que os lampeões
So fossem apagados
A uma hora da madrugada
E foi assim que um dia
muito distante
Um garboso e bigodudo rapaz
Veio a conhecer
Essa que viria a ser
A minha querida vovó Linda
Claralinda era seu nome
E desde então
quantas festas se passaram
E quanto tempo se viveu
Mas a pracinha centenária
continua lá
Os lampeões foram trocados
O velho reslejo cedeu seu lugar
A alegres violeiros em noites de luar
Muita coisa mudou
Mas o velho Largo do Carmo
Continua no mesmo lugar
Do mesmo jeitinho
De tempos atrás
E com o mesmo espirito festeiro (1)
Do tempo dos nossos avós
Hoje eu ja sou avô
E por lá eu nunca morei
São tantas as estórias
Que eu ouvi contar
Que eu chego a sentir saudades
De um tempo que eu não conheci
Mas que parece tão real para mim
Que eu chego a duvidar
E questionar a mim mesmo:
Se em vidas passadas...
Será que eu viví por lá?
No mesmo
Tempo dos Meus Avós?
Em 21/03/2024 Hernan SouzaFilho
(1) quanto ao "espirito festeiro" de hoje, é importado de outras periferias,
sem alguna atenção as leis hoje vigentes, e esse desrespeito a todas as normas
civis, não é gradito pelos moradores... que não vendem cerveja.
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