O Arquivo Guilherme de La Penha, da Biblioteca Domingos Soares Ferreira Penna, do Museu Emilio Goeldi, não fica na Av. Nazaré ou no seu entorno, fica longe a beça.... mas vale a pena uma visita, guiada, preferivelmente.
Até onde ele fica é dificil de saber, mas aqui vai o endereço:
Campus de Pesquisa do Museu Paraense Emílio Goeldi
Av. Perimetral, 1901, Terra-Firme,
A Biblioteca em vez, é uma construção nova, moderna, arejada, bonita, e também não é bem ali... Passando por um jardim entramos num salão amplo, com alguns livros a mostra. Foram buscar as chaves e me introduziram numa primeira sala, onde logo notei uns aparelhos de cerca um metro e meio de altura: será que eram os responsáveis pela umidificação do ambiente... exultei, mesmo sem ter certeza que eram.
A quantidade de livros antigos é o que logo chama atenção,
encadernados, muitos deles, ainda com capa de pele. A maior parte é em língua
estrangeira e talvez por isso, os
visitantes brasileiros são poucos. Importante, porém, é a qualidade dos livros,
seus autores e... a época deles. Toda essa antiguidade requer mais atenção a
eles e, muito mais dinheiro para mantê-los.
Logo que o prefeito Duciomar inaugurou o Palacete Pinho
iniciei uma campanha para transforma-lo numa biblioteca monumental. Hospede da
UFPa, uma professora bolonhesa expert em
matéria, me desaconselhou a fazer tal campanha vista a quantidade de agua no
entorno do palacete, além daquela que caia do céu.
No nosso clima, tão úmido, manter uma biblioteca com livros
centenários leva a aumentar a despesa, muito mais do que podemos imaginar. O
desumidificador, por exemplo, deve
trabalhar o tempo todo. Melhor ficar
mais distante de rios e igarapés, ao menos. Com toda essa umidade, portanto ali
as despesas de manutenção dos livros seria muito maior. Me convenci que seria
muito dispendioso e parei. Pior ainda
seria perto da feira do Açai..., segundo ela.
Continuei minha visita. Não bastava olhar os títulos dos livros, alguns deviam ser abertos e com toda a atenção possível. Até luvas são necessárias ao ter que manusear alguns deles. Os mapas são um caso especial. Ver como era Cusco no século XVI, ou como viam o nordeste do Brasil durante a vigência do tratado de Tordesilhas... Ver aquela tapera com duas redes atadas, será que esperavam clientes naquela época, ou era uma oferta para os ...brancos? Deduções várias podemos fazer olhando aqueles mapas.
É tudo bem moderno: desde as portas, as escadas e
os elevadores entre os corredores de livros, a iluminação, enfim, bem atual...
mas não vi viva alma, no período de tempo que estive la. Quanta gente sabe de
sua existência?
Interessante que na saída quiseram olhar o bagageiro do
carro... e poderíamos ter trazido
conosco dentro do carro, em vez, até
aquele livro antiquíssimo, mas ninguém tentou nem olhar dentro do carro...Falo do
livro “Delle navigationi et viaggi” compilado por Giovanni Battista Ramusio (1485
- 1557) na gráfica Giunti. Eram três volumes e tratavam das descobertas marítimas
de século XVI. O volume 3 – Novo Mundo tem relatos de Cristovão Colombo,
Fernando Cortes e Gonçalo Oviedo e outros conquistadores.
As folhas desse livro são feitas em papel artesanal em trapos de algodão. É uma edição Aldina (os três livros foram impressos em Veneza entre 1494- 1584 por Aldo Manucio e seus seguidores) com capas em madeira e lombadas em couro, e gravuras em xilografia. É uma das mais importantes obras publicada SOBRE AS DESCOBERTAS MARITMAS. É um dos tesouros da Biblioteca do Museu Emilio Goeldi. Roubavel...
Em 2003, estive no Arcebispado de Bolonha, na Itália,
procurando algo sobre bolonhes Antonio Giuseppe Landi. Disse o que queria e me levaram
para uma sala com algumas mesas e cadeiras e umas três pessoas consultando
livros... Entrei com as mãos abanando pois tive que deixar bolsa e pacotes num armário.
Sentei em frente a uma mesa e logo chegou alguém com um
livro/caderno enorme de cerca um metro de comprimento e uns 15cm de altura...
Ali era escrito a mão tudo o que acontecia na cidade: quem nascia, quem morria,
quando mudavam de casa, ou enviuvavam e até que os empregados da família Landi
mudavam com frequência, diversamente de outras famílias onde nasciam e morriam,
ali mesmo.
De repente, leio que na casa da família Landi tinha nascido
um rebento a quem deram o nome de Antonio Giuseppe Landi. Dei um grito...os
presentes se voltaram com os olhos arregalados. Naquele lugar o silencio era de
tumba... Pedimos para fotografar aquela pagina, mas eles levaram o livro e
trouxeram a foto... Tinham um gabinete só
para isso.
Hoje, não precisei pedir ajuda, fotografei
algumas páginas, capas e mapas que achei interessante... pena que, por culpa
minha ou do celular, as mais interessantes não saíram muito bem, mas só notei
em casa. Quem sabe a emoção, também, teve parte da culpa.
Queria passar mais tempo olhando títulos de livros e abrindo alguns mais, mas o principal, aquele livro, praticamente da idade do Brasil, tinha olhado bem. A visita vale até so por causa dele e seus mapas xilogravados e um outro mapa com as linguas indigenas feito por, nada mais nada menos de Curt Nimuendajú.
Queria ver o italiano que usavam, era dialeto de onde? Naquela época a Italia não existia
ainda e falavam bem uns 8 mil dialetos na peninsula italica. Não me parecia latim. Acho que eu vou
voltar la, so para ver isso...
Sai de lá feliz por saber que temos algo desse nível, e ao mesmo tempo triste, por
descobrir que é pouco frequentada... Quanta coisa interessante descobririam
lendo aqueles originais, ou olhando os mapas.
Vou dar de presente três livros para eles, pois acho que estarão melhor lá, do que na minha
casa...
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