domingo, 2 de abril de 2023

VERDADE E MEMÓRIA DO PARÁ

 

No dia 31 de março de 2023, na sede da Assembleia Legislativa do Pará,  foi dado a cidadania o direito de saber algo bem concreto sobre o que foi a ditadura aqui no nosso estado. 














Trata-se do trabalho da Comissão Estadual da VERDADE E MEMÓRIA DO PARÁ – Relatório Paulo Fonteles Filho, dedicado a memoria do Dr. Egidio Sales.  Os organizadores foram: Angelina Anjos. Ismael Machado, Marcelo Zelic, Marco Polo e Carlos Bordalo.

São três tomos com cerca de 1470 páginas cheias de informações chocantes, muitas vezes. Presentes ao lançamento de tal estudo, muitas autoridades e público variado.

Fui convidada a falar a respeito daquele período em nome de exilados e outros brasileiros que ficaram aqui sofrendo e optei por falar, principalmente, do que se fazia no exterior para denunciar a ditadura, nos anos 70. Depois de um preambulo sobre a minha experiência fora de Belém, cheguei ao argumento: o  que os outros faziam para ajudar o Brasil.


“... A parte Portugal e Espanha que ainda estavam sob ditadura, países como França, Alemanha (as 2), Dinamarca etc, publicavam denúncias a respeito do que acontecia por aqui. Nada porém com muita frequência e isso era um problema para fazer o jornalzinho que tinha iniciado a ciclostilar para distribuir entre amigos.  Até q começamos a ouvir falar do Tribunal Russel nascido nos anos 60 para denunciar os crimes e abusos americanos no Vietnam.

 Bertrand Russel, anos antes, reuniu em Londres 15 personalidades da cultura, universalmente  conhecidos como homens livres de compromisso com qualquer forma de poder e com eles constituiu o primeiro Tribunal.  Ele era o presidente Honorario; o efetivo era Jean Paul Sartre; o presidente das reuniões era  Vladimir Dedijer e o relator final Lelio Basso.  Todos famosos e respeitados em seus países. Fizeram duas reuniões uma em Estocolmo outra em Roskild (Dinamarca) para através de relatores e  testemunhos, julgarem os delitos americanos no Vietnam. Tudo com provas.  (De Gaule não permitiu a entrada na França  das testemunhas pois declarou que aquela ação somente os estados podiam fazer...e não aos membros daquele Tribunal.)

 Dia 1/12/67 saiu a comprovação dos delitos americanos e a declaração final de que através da sua obra o Tribunal demonstrou a necessidade de mais consciência humana...e examinaria, qualquer outro problema relativos a crimes internacionais... O tribunal, mesmo não tendo uma validade jurídica, atuou come um tribunal de consciência popular contra o crime do silencio.

No meio tempo no Brasil as coisas pioravam  e o AI5 produzia seus efeitos. Em outubro de 1971 alguns refugiados brasileiros  no Chile de Allende reunidos no Comitê unitario de denuncia da repressão no Brasil  (CDRB) apresentaram a Lelio Basso um pedido que fizesse algo para abrir os olhos do mundo sobre a situação do que estava acontecendo no Brasil, de modo que sob pressão da opinião pública as autoridade brasileiras fossem obrigadas a tomar alguma providência... aquele silencio era demais.

O pedido foi levado a Fundação Russel, mesmo se seu fundador já tinha morrido. Paralelamente, é feito pelos exilados brasileiros nos Estados  Unidos a Dedjer  o mesmo pedido.  Sartre é convidado a participar do Tribunal Russel II para o Brasil. O comitê do Tribunal se reune em Santiago em agosto de 73... POUCOS DIAS DEPOIS acontece o golpe no Chile, matam Allende e ninguem sabia onde foram parar os membros do tribunal ali reunidos. O golpe chileno coincidiu com os últimos preparativos para a constituição oficial em Bruxelas do Tribunal sobre o Brasil.

Um grupo de intelectuais latino-americanos reunidos na Colombia no Comite de defesa do prisioneiros do continente, mandaram um apelo ao tribunal, que, juntamente com todos os comitês de apoio na Italia e fora dela,  pediam a  inclusão do Chile...

Os membros do juri reunidos em Bruxelas, decidiram dia 6 de novembro 1973, que  a crueldade e a violência do golpe chileno merecia o  alargamento de sua dimensão. Além do Brasil, Chile e America Latina fariam parte dos estudos. Estes s membros do Juri.

Contei isso para demonstrar a importância da solidariedade que tivemos a partir daquela ocasião. Não somente que o mundo tentava ajudar o Brasil e outros países, defendendo os direitos Humanos com denúncias documentadas, mas o quanto essa ação foi importante na formação de uma consciência.

Recolher dados e documentos e qualquer tipo de informação (escondida) que demonstrem  a realidade de fatos concretos, nocivos ao cidadão, de  violação de direitos e torna-los público  é um modo civil e necessário para salvar nossa memória histórica, criando uma consciência a respeito.

Esta documentação recolhida em Belém, deve servir a isso: SALVAGUARDAR A MEMÓRIA POPULAR SOBRE ESSE PERIODO TRISTE DA NOSSA HSTÓRIA FORMANDO UMA CONSCIENCIA. Os remanescentes daquele período poderiam ser usados nas escolas no período como este, de “aniversario” explicando as crianças e adolescentes o que pode ser uma ditadura...

                                                   PARA NUNCA MAIS.

Que tal aproveitar essa publicação para ativar o  tribunal de consciência popular contra o crime do silencio ... em todas as direções e sentidos.


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