No dia 31 de março de 2023, na sede da Assembleia Legislativa do Pará, foi dado a cidadania o direito de saber algo bem concreto sobre o que foi a ditadura aqui no nosso estado.
Trata-se do trabalho da Comissão Estadual da VERDADE E MEMÓRIA DO PARÁ – Relatório Paulo Fonteles Filho, dedicado a memoria do Dr. Egidio Sales. Os organizadores foram: Angelina Anjos. Ismael Machado, Marcelo Zelic, Marco Polo e Carlos Bordalo.
São três tomos com cerca de 1470 páginas cheias de informações chocantes, muitas vezes. Presentes ao lançamento de tal estudo, muitas autoridades e público variado.
Fui convidada a falar a respeito daquele período em nome de exilados e outros brasileiros que ficaram aqui sofrendo e optei por falar, principalmente, do que se fazia no exterior para denunciar a ditadura, nos anos 70. Depois de um preambulo sobre a minha experiência fora de Belém, cheguei ao argumento: o que os outros faziam para ajudar o Brasil.
Bertrand Russel, anos antes, reuniu em Londres 15
personalidades da cultura, universalmente
conhecidos como homens livres de compromisso com qualquer forma de poder
e com eles constituiu o primeiro Tribunal.
Ele era o presidente Honorario; o efetivo era Jean Paul Sartre; o
presidente das reuniões era Vladimir
Dedijer e o relator final Lelio Basso.
Todos famosos e respeitados em seus países. Fizeram duas reuniões uma em
Estocolmo outra em Roskild (Dinamarca) para através de relatores e testemunhos, julgarem os delitos americanos no
Vietnam. Tudo com provas. (De Gaule não
permitiu a entrada na França das testemunhas
pois declarou que aquela ação somente os estados podiam fazer...e não aos
membros daquele Tribunal.)
Dia 1/12/67 saiu a comprovação dos delitos americanos e a declaração final de que através da sua obra o
Tribunal demonstrou a necessidade de mais
consciência humana...e examinaria, qualquer outro problema relativos a
crimes internacionais... O tribunal, mesmo não tendo uma validade jurídica, atuou come um tribunal de consciência popular contra o crime do silencio.
No
meio tempo no Brasil as coisas pioravam
e o AI5 produzia seus efeitos. Em outubro de 1971 alguns refugiados
brasileiros no Chile de Allende reunidos
no Comitê unitario de denuncia da repressão no Brasil (CDRB) apresentaram a Lelio Basso um pedido
que fizesse algo para abrir os olhos do mundo sobre a situação do que estava
acontecendo no Brasil, de modo que sob pressão da opinião pública as autoridade
brasileiras fossem obrigadas a tomar alguma providência... aquele silencio era demais.
O
pedido foi levado a Fundação Russel, mesmo se seu fundador já tinha morrido. Paralelamente,
é feito pelos exilados brasileiros nos Estados
Unidos a Dedjer o mesmo
pedido. Sartre é convidado a participar
do Tribunal Russel II para o Brasil. O comitê do Tribunal se reune em Santiago
em agosto de 73... POUCOS DIAS DEPOIS acontece o golpe no Chile, matam Allende e
ninguem sabia onde foram parar os membros do tribunal ali reunidos. O golpe
chileno coincidiu com os últimos preparativos para a constituição oficial em
Bruxelas do Tribunal sobre o Brasil.
Um
grupo de intelectuais latino-americanos reunidos na Colombia no Comite de
defesa do prisioneiros do continente, mandaram um apelo ao tribunal, que, juntamente com todos os comitês de apoio na Italia e fora dela, pediam a inclusão do
Chile...
Os membros do juri reunidos em Bruxelas, decidiram dia 6 de novembro 1973, que a crueldade e a violência do golpe chileno merecia o alargamento de sua dimensão. Além do Brasil, Chile e America Latina fariam parte dos estudos. Estes s membros do Juri.
Contei isso para demonstrar a importância da solidariedade
que tivemos a partir daquela ocasião. Não somente que o mundo tentava ajudar o
Brasil e outros países, defendendo os direitos Humanos com denúncias documentadas,
mas o quanto essa ação foi importante na
formação de uma consciência.
Recolher dados e documentos e qualquer tipo de informação
(escondida) que demonstrem a realidade
de fatos concretos, nocivos ao cidadão, de
violação de direitos e torna-los
público é um modo civil e necessário
para salvar nossa memória histórica, criando
uma consciência a respeito.
Esta documentação recolhida em Belém, deve servir a isso:
SALVAGUARDAR A MEMÓRIA POPULAR SOBRE
ESSE PERIODO TRISTE DA NOSSA HSTÓRIA FORMANDO UMA CONSCIENCIA. Os
remanescentes daquele período poderiam ser usados nas escolas no período como
este, de “aniversario” explicando as crianças e adolescentes o que pode ser uma
ditadura...
PARA NUNCA MAIS.
Que tal aproveitar essa publicação para ativar o tribunal de consciência popular contra o crime do silencio ... em todas as direções e sentidos.
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