Passeando pelas ruas da Cidade
Velha encontramos alguns anúncios de venda de casas na área tombada. Não são
todas, porém, tem muito mais casas
desocupadas e disponíveis para serem vendidas, sem alguma placa.
Essas placas acabam se transformando em chamariz de
‘invasões”, nem sempre para morar, mas para depredar o imóvel, roubando desde
as telhas até tacos/portas/janelas/privadas/azulejos, etc. por isso nem todas
são sinalizadas.
Temos impressão que a
tentativa de especulação mobiliaria tem base na vontade de gentificar essa
área... enquanto as leis falam de “defesa, proteção, salvaguarda” da nossa memória
histórica.
Nem todas as casas vendidas
vão ser habitadas por famílias. A venda de casas ainda com gente dentro, acaba empurrando os moradores
tradicionais para regiões mais periféricas da cidade. Aquela casa é capaz de
virar um restaurante...sem estacionamento para seus clientes, por exemplo.
Que se chame “gentrificação”? Que se trate da recuperação de bairros históricos e populares por parte da classe
media emergente? Consequentemente veremos a transformação da tipologia dos
moradores o que levará, ao mesmo tempo,
seja a modificação da identidade urbanística que ao aumento de preço dos
alugueis dos imóveis.
Na maior parte das cidades
europeias onde isso aconteceu, a zona portuária e a do meretrício foram as que
chamaram mais atenção e tiveram sua realidade modificada. Foram quase que
totalmente ”requalificadas”. Nada a ver com o turismo, mesmo o sexual, quem chegou
ali foram os novos ricos, os emergentes.
Não se fala de “áreas
tombadas”, mas se trata, muitas vezes de entorno delas ou da proximidade de
áreas bem populosas e de universidades. E os artistas foram os primeiros a
instalar galerias em casas antigas
abrindo a estrada a bares e restaurantes.
De fato, no primeiro mundo os
efeitos da gentrificação são fáceis de reconhecer: aumento de bares
minimalistas e de restaurantes com
muitas “estrelas”, ao redor das galerias. Depois chegam as boutiques, as
barbearias estilo hipster ou cocktail bar de moda....e os preços das casas,
para venda ou aluguel, começam a
aumentar.
Serviços necessários aos moradores, ninguém leva em
consideração...nem aos clientes. Em algumas cidades o Plano Diretor estabelece
a necessidade de prever
vagas/estacionamento para ao menos 70% dos possíveis clientes e preveem
multas e colocam muita fiscalização.
No nosso caso, o Plano Diretor
praticamente sem atualização faz tempo, nem do tombamento feito pelo Iphan
cerca de dez anos atrás, tomou conhecimento. Tomara que o novo,
salvaguarde com normas especificas a defesa da área tombada, porque tem gente
cheia de dinheiro, de olho nos nossos prédios ‘velhos’ e a especulação edilícia
é muito ... poderosa.
A autorização ao término da
derrubada daquele prédio escorado há anos e coberto de vegetação, na Assis de
Vasconcelos, abre um precedente perigoso, pois outros, na mesma situação (ver
antiga zona do meretrício) vão querer essa autorização também. Depois o que vão
fazer com o terreno???
Será que a gentrificação já está
em ato? Caso não seja mais de moda defender nossa memoria histórica, não se pode "destombar" essa área tão desprezada?
O que está acontecendo na região de Alter do Chão é chocante e deve funcionar como um ALERTA,
para nós. Nem podemos dizer que aconteceu na calada noite, pois é visível a
olhos nus há algum tempo, o inicio da devastação de uma região considerada um dos maiores polos turísticos
do Brasil... e ninguém fez nada, tanto que chegaram a ponto de tentar leilo-a-la.
Na cidade nem tudo levará a gentificação, mas a desatenção a área tombada, sim, vemos quão é evidente.
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