Em novembro de 2006, moradores, empresários estabelecidos e
amigos do bairro da Cidade Velha, irmanados pelo consenso da necessidade de
conter e reverter o processo de sua deterioração, uniram-se e decidiram fundar
a Associação Cidade Velha-Cidade Viva (CiVViva).
Nos apresentamos ao Prefeito, a Governadora e outras
autoridades de Belém e, sem entrar em muitos detalhes, elencamos alguns dos principais problemas do
bairro, e paramos por aí, pois se continuássemos a enumerá-los, todos os órgãos
da Prefeitura seriam chamados em causa.
Recebemos resposta do Prefeito e da Governadora, e algo
começou a acontecer. Pouco a pouco, porém, notamos que muito do que víamos de
errado, era fruto da desatenção as leis. Um exemplo: como falar de segurança, trânsito e preservação
do patrimônio, quando víamos que continuavam a fornecer licenças para
localização (Alvará) de empresas sem os requisitos previstos pelas leis e que
nem sempre se enquadravam no perfil urbanístico da Cidade Velha.
Bastaram poucos meses de vida da Civviva para que
entendêssemos que quanto mais se ignorava as leis da convivência, mais havia
conivência com situações irregulares, que depois tornavam-se hábitos/costumes
difíceis de serem modificados. Exemplos dessa constatação, eram evidentes em
toda a cidade... e começamos a mudar.
O fato de termos passado a chamar atenção dos órgãos
públicos sobre as leis ignoradas por todos, aparentemente, nos transformou em
"PERSONA NON GRATA" para a ADMINISTRÇÃO PÚBLICA. De fato, talvez
sejamos a única associação de moradores da área tombada, regularmente
constituída em Belém, mas não fazemos parte de nenhum Conselho Municipal que se
ocupa de patrimônio histórico, apesar do nível de ensino e da qualificação de
vários de nossos associados.
Enfrentar o problema da transparência com os órgãos públicos
também não foi fácil..., principalmente com a Ouvidoria do Ministério Público
Estadual. Ademais, toda a gestão da Transparência e da Lei de Acesso a
Informação era e é dificultada por todos os órgãos públicos... Responder dentro
de trinta dias é outra norma ignorada.
É dever dos órgãos públicos o cumprimento da transparência
prevista em lei, mas, essa transparência deveria ser mais detalhada e efetiva,
inclusive e principalmente, quanto aos programas, ações, projetos e atividades
implementadas pela Prefeitura, além do Estado, e também por órgãos como MPPA e MPF.
Todos continuam desatendendo as normas que falam de ‘’gestão
democrática” na promoção e proteção do patrimônio cultural brasileiro. As Associações legalmente constituidas continuam sendo ignoradas por todos os órgãos e em todos os níveis.
A antipatia causada pela
denúncia de abusos às leis em vigor, vem também daqueles “cidadãos” que
ocupam mesas colocadas nas calçadas... mesmo se a lei diz que “calçada é para
pedestres” e não “terrace” de bar ou restaurante, como propôs um Decreto que
“modificou” uma Lei: o Código de Posturas.
Aqueles que adoram poluir o ambiente com sons altos, sejam
musicais ou de fogos de artifício, também, começaram a torcer o nariz a nosso
respeito. A palavra “decibéis”, por exemplo, continua sendo ignorada até por
universidades públicas. Além da inércia dos órgãos que deveriam coibir tais
atos ilegais.
Isolados e, às vezes, até cansados, a CIVVIVA continua a ver e viver ações desrespeitosas e atos de
prepotências, apesar das tutelas fornecidas por leis ignoradas. A
“requalificação” de três praças tombadas da Cidade Velha, depois de tantos anos
de reclamações, são provas da dificuldade em obter resultados. Um exemplo está aqui https://civviva-cidadevelha-cidadeviva.blogspot.com/2009/03/chuva-na-praca-do-carmo.html. Foi preciso esperar dez anos e um PAC
(Programa de Aceleração do Crescimento) para tirá-las do ostracismo...
parcialmente porém, porque, não se ouve falar de “segurança” após a entrega das
mesmas à cidadania...
Quando a comunidade começa a tentar incidir na solução dos
problemas, e “atrapalhar“, com suas ações, atos, interpretações e pretensões,
começam os problemas. De fato, em nenhum momento a comunidade ou suas
associações representativas foram chamadas para participar da formulação,
execução e acompanhamento de planos, programas e projetos relativos ao
desenvolvimento urbano. Tudo é feito sem alguma informação, de forma irregular
e, muitas vezes até ignorando as leis vigentes. A colaboração da comunidade, é algo tão mal visto
pelas várias administrações a ponto de não informarem nem as datas de eventos ou de inaugurações de obras de interesse coletivo.
Esse desrespeito a democracia é um exemplo negativo que
exige correções imediatas. Até o povo já percebeu esse desvio de conduta na
gestão pública. Alias, em várias ocasiões, tem se tornado evidente que muitos
gestores nem conhecem a existência dessas normas; mas, por ocasião da
inauguração da Praça do Carmo, no dia 26 de novembro último, sem que nenhum
aviso ou convite fosse dirigido a Associação de Moradores, nem aos moradores do
bairro da Cidade Velha, vimos uma reação. No início do ato de inauguração da
Praça do Carmo, somente quando o cerimonialista começou a falar é que todos
tomaram conhecimento do que estava acontecendo. Os moradores se desinteressaram
pelo ato imediatamente mas, o Padre que dirige o Colégio do Carmo, foi ao local onde estavam
os convidados. Passou entre eles, e sendo ignorado por todos, voltou para o
colégio. Rezaram sozinhos.
Enfim, depois de conviver nove meses com a praça vedada por
tapumes, ninguém, nem da Igreja nem do Colégio ao menos, tinha sido informado da sua próxima reabertura, muito menos
convidados para a inauguração de uma obra pública que tinha custado mais de um
milhão e trezentos mil reais. A Associação que há anos defende o patrimônio
histórico dessa área tombada, transformada em "PERSONA NON GRATA",
por pretender o respeito das leis, também foi ignorada na gestão de todas as
ações relativas a “requalificação” das praças situadas na área tombada da
Cidade Velha, incluído a inauguração de ontem.
Esse comportamento, desprezível em tempos de democracia,
precisa ser repensado. Perderam a
oportunidade de falar com os moradores da praça e do entorno e dizer que “a
praça“ é deles; que deveriam cuidar dela; defendê-la dos vândalos...já que
avisaram que não haverá policiamento. Afinal, de quem são as praças? Não são feitas so para serem admiradas, mas o seu uso também deve ser levado em consideração, e aqui entra, inclusive, a questão da educação: não são campos de futebol... mas precisam ter bancos, por exemplo.
É mais que hora de pensarem e realizarem um processo
educativo sério, o qual deveria ser implementado pelo poder público (os três
níveis), de forma permanente e massiva, mesmo porque está previsto em lei. Somente com a Educação Patrimonial se pode demonstrar aos cidadãos e aos administradores, também, que as
leis não existem somente no papel, e que devem ser aplicadas e respeitadas por
todos. Teriamos melhores cidadãos, e com certeza, melhores administradores.
Bons exemplos servem... e não somente para jogar pedras.
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