sexta-feira, 18 de outubro de 2019

A Gente...e a poluição


Nos parece oportuno examinar a poluição de outro ponto de vista.
Existem profissões que, ainda hoje, tratam os trabalhadores como escravos... ou como animal de carga. De fato são 'gente', não cidadãos.

Além do mais, depois que descobrimos que muitos intelectuais pensam que so o'trio elétrico' causa danos ao patrimônio de segunda categoria (pois excluem os prédios históricos e tombados desse rol), decidimos publicar este fato concreto. Quem sabe mudam de opinião e comecem a respeitar o próximo e as leis... até em momentos lúdicos.

Motorista de ônibus em Belém
Antonio Carlos Lobo Soares *

Bento Soares é motorista de ônibus em Belém do Pará e nunca deixou faltar nada à sua família. Recentemente, entretanto, vem apresentando um mau humor e uma irritação, já percebidos pela família e o amigo João. 

Numa tarde chuvosa a pensar no amigo, seu João lembrou o que disse um técnico do Museu Goeldi sobre os efeitos subjetivos e psicofisiológicos do ruído, sobre uma atividade específica, a saúde e bem-estar humanos. Apurou que, com o nível de ruído em excesso, o organismo fica em estado de alerta, que o prepara contra um “inimigo invisível”. Há aceleração cerebral e fadiga muscular, aparentemente sem causa. Em consequência, outros sintomas cumulativos e secundários ocorrem, como dor de cabeça, náusea, diminuição das funções cardiovasculares, gastrointestinais e respiratórias e impotência sexual.

Com essa informação, seu João subiu disfarçado no ônibus dirigido pelo Bento, com os olhos e ouvidos bem atentos, e contou mais de 500 mudanças manuais de marcha, onde a embreagem é acionada com o pé, em cerca de 80 paradas em sinais e pontos pela cidade.

A temperatura em Belém era de 34°C e, dentro do ônibus, uns cinco graus mais alta. Cada passageiro que entrava, aumentava o calor e o odor de suor no veículo. O amigo Bento enxugava o rosto e o volante com uma flanela, enquanto controlava o tráfego e os passageiros através de quatro espelhos retrovisores. Com os vidros abertos, além do calor, o som do tráfego invadia o veículo, segundo o técnico do Museu com até 70 dB (decibéis), quando o CONAMA limita o nível sonoro de dia a 55 dB e à noite a 50 dB, para o bem-estar das pessoas.

Como se não bastasse, em uma só viagem Bento enfrentou pelo menos dois conflitos entre passageiros, devido ao uso de celular com som amplificado. Numa dessas situações quase parou o ônibus junto a um carro de polícia para denunciar os brigões que, sob ameaça, acalmaram-se e a viagem seguiu.

Seu João apurou que nove em cada dez pessoas no mundo respira ar poluído. Que os gases e as partículas em suspensão no ar já são responsáveis por 24% das mortes por doenças cardíacas, 25% por acidente vascular cerebral, 43% por doenças pulmonares obstrutivas crônicas e 29% decorrentes de câncer de pulmão.  

Só de observar os estímulos e o estresse que o amigo se submete em cinco viagens diárias, seu João ficou exausto. Compreendeu, finalmente, o motivo da irritação e mau humor do amigo Bento e pensou! Como Belém seria melhor se os ônibus tivessem ar-condicionado, janelas fechadas, mudança de marcha automática e motores elétricos? 

* Arquiteto PhD, Museólogo e Artista Plástico,
Tecnologista Sênior do Museu Goeldi.


PS: Obrigada, Antonio. Tomara que sirva para aumentar o conhecimento dos outros. Eu acrescentaria: Como Belém seria melhor se...respeitassem as leis. também.


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