domingo, 17 de maio de 2015

POESIA PARA A CIDADE VELHA

                     

           RUA SIQUEIRA MENDES   



Caminho pela Siqueira Mendes
tropeçando em séculos.
Parece que na rua de hoje
fervilham memórias
na forma de gente, de carros,
bondes,charretes.

Vão-se pioneiros rudes, descamisados
domando a terra, os nativos.
Vão-se bêbados contando bravatas,
vão-se remadores da madrugada singrar o rio.
Vão-se as damas dos seringais
engomadas em Paris.
Vão-se as putas para o porto,
lambusarem-se no gozo dos outros.
Vão-se os ladrões,  as velhas Marias,
as crianças ,o Zé Melodia.

A Igreja do Carmo imponente
protegendo a todos Nossa Senhora.
E na contradição mundana
lá na esquina da Dr.Assis
desponta um falo exuberante do varão.

A primeira rua guarda pedras de lioz
com vestígios do mar ibérico.
Conchas,cavalos-marinhos
pisoteados a tanto, por tantos
ainda hoje em delicados desenhos
estão expostos, despercebidos.

Foi nos primórdios rua do Norte.
margeando o rio até a floresta.
Depois Siqueira Mendes
que a cidade não sabe quem foi.
Padre de Cametá. Ensinava latim
e Teologia nos seminários Carmelitas.

Deputado e Senador do Império.
Virou lei a estátua em sua homenagem.
E como se fora para registrar
a importância das leis, nessas plagas,
nunca o governo a construiu.

Quanta coisa aconteceu nessa rua.
Quanta virgindade se perdeu,
quantas cabeças esbranquiçaram
e na maturidade se descobriram
infelizes e sem tempo .

Quantas vezes
essas paredes foram pintadas?
Quantos pintores morreram
e juntos com eles suas marcas?

Quantas casas caíram
e foram reconstruídas e repovoadas
e perderam seu sentido e
não têm mais história?
Tiraram da rua o rio.
Não há frestas sequer.

Só descendo a Felix Roque.
Vão-se em descidas e subidas
os marujos num vai e vem
de coisas e gentes.

Vêm os fantasmas todos
a esse festejo da memória.
Mas há um quê de sombrio
nas máquinas paradas
da fábrica Bitar.

Ali parou o tempo
dos seringais roubados.
Ali vive soturna a decadência
de outrora a insistir-se
como registro indelével.


  De um ilustre personagem, desconhecido porém, como poeta, ao menos para nós:
  Prefeito Zenaldo Coutinho
Escrita no dia que embargou as obra da ex trav. da Vigia.
Abril 2015
R

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