É TEMPO DE FÉRIAS!!!
Um documentário me fez lembrar de quando íamos de férias para o
Mosqueiro, nos anos ’50 do século passado. Quando, logo que acabavam as aulas,
em fins do mês de junho, irmãos e primos,
íamos para a casa do tio Aguiar, na praia do Chapéu Virado, no Mosqueiro. Ele
acolhia nós cinco, filhos de suas três cunhadas,
Suely, Marilia e Myriam, irmãs de sua mulher, a Tia Claudia.
A farra começava no momento de se preparar para ir pegar o
navio. Ia conosco uma ‘ama’, a Laura, e, algumas vezes, nossa avó, a 'mamãezinha'. O navio saía do primeiro galpão do porto cheio de famílias com filhos, netos empregadas. As bagagens eram colocadas ao redor das cadeiras,
onde parávamos somente poucos minutos. Nós queríamos era ir lá para fora. Fugíamos
ao controle da ‘ama’ que, afoita, corria a nossa procura e nos recolhia ao redor da mamãezinha.
Não se usava ainda calça comprida. Íamos com nossos vestidos de cambraia, de algodão, com folhos e laçarotes, e nos pés, sandálias ou sapatos com meias brancas. Ninguém pegava o navio de short, nem os homens.
A chegada era outra confusão, pois tínhamos que correr para pegar
lugar nos ônibus, que eram somente dois: velhos, mal cuidados, mas enfeitados com corôas de manjericão. Algumas vezes o tio Aguiar mandava o
caseiro nos esperar no porto, guardando
alguns lugares no ônibus pra nós, que nunca eram suficientes. Nós cinco crianças, de 5 a 12 anos, nem pensávamos
nas maletas, pacotes e caixas que iam
conosco, a nossa preocupação era sentar no ônibus...e lá íamos embora com gente pendurada por todos os cantos.
Passar pelo Hotel do Russo e a Igrejinha do Chapéu Virado
queria dizer que estávamos chegando. Mais uma parada e estaríamos em casa. Os tios
nos esperavam na porta daquela casa de estilo europeu, com sua caixa d’água
coberta por uma espécie de chapéu de bico... Nela vivia também um engenheiro de
origem austríaca, com suas duas filhas. Assim, com o Franklin, éramos 8 crianças/jovens de 5 a
15 anos, a correr e fazer zuada pela casa.
No dia seguinte era um corre-corre para tomar o café da
manhã e ir para a praia. O pãozinho do Mosqueiro e tapiocas no leite de côco
estavam nos esperando na mesa, onde tínhamos que sentar todos juntos, com os adultos. “Será que
a maré está cheia?” perguntávamos às empregadas.
A casa ficava na estrada que nos dividia da praia. De
fronte, mangueiras enormes nos separavam
da praia, onde, descendo, encontrávamos outras
duas mangueiras que dividiam a paisagem com dois coqueiros, um dos quase deitado na areia. Essa era a vista que tinhamos da janela de cima.
Iamos com as amas
para a praia. Pulávamos as ondas; brincávamos de jacaré; corríamos atrás dos
tralhotos e dos papagaios e curicas que caiam pras nossas bandas. ... As 11
horas, voltávamos pra casa para tomar banho, almoçar e descansar.. ou deixar
descansar os mais velhos.
Uma noite, logo no primeiro fim de semana chegou o “boi”,
para dançar para nós. Era a primeira vez
que o via. A sala de visita se comunicava com a sala de jantar, e ficaram cheias
de gente nessa ocasião. Meu tio convidava alguns poucos vizinhos para assistir
ao “BOI”. Os ‘grandes’ ficavam sentados
e nós, a criançada, se espalhava por trás dos sofás, cadeiras e batentes das
janelas para assistir a ‘peça’. Curiosos também chegaram apoiando-se do lado de fora nas janelas e na porta
apreciando a dança do ‘boi’.
Ao começarmos a entender a historia do ‘boi’,
começava a torcida, a gritaria e os ‘psius’
dos grandes... Depois, os nossos comentários; a nossa tristeza pela morte do boi; a nossa raiva do patrão; e quem ia ser a 'grávida'? já pensando em organizar o 'nosso boi'.
Num outro ano veio um ‘pássaro’ dançar para nós. A mesma algazarra do ano anterior, os mesmos
poucos convidados e as mesmas comidas e bebidas. Entre
nós surgiu a comparação com o ‘boi’. Qual era o mais bonito? O ‘boi’ diziam uns;
o ‘pássaro’, diziam outros, assim nos
dividimos em dois grupos: o do boi e
o do pássaro, e durante as
brincadeiras nos chamávamos de acordo com o grupo que pertencíamos: Hei, Boi Felix! Hei pássaro Julia...
Foi um documentário feito
por Stéfano Paixão, o qual, ao salvar a memória de sua terra, Baião,
me fez voltar atrás de algo que mudou no tempo e está quase desaparecendo. Me
fez lembrar as histórias que ouvíamos quando íamos para o ‘interior’. Me fez
pensar como ‘salvar a memória’ é importante.
Nós temos um PATRIMONIO’ enorme, não somente arquitetônico,
que devemos preservar, defender, e principalmente, nos orgulhar... o que nem
sempre acontece, e é uma pena".
Obrigada Stéfano por ter-me lembrado de tudo isso.
Obrigada Stéfano por ter-me lembrado de tudo isso.
Assistam: Velhos Baionaras - Tesouros Vivos
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