quarta-feira, 15 de agosto de 2018
A NOSSA FALSA 'ADESÃO'
HISTÓRIA E RESSENTIMENTO: o significado da adesão do Grão-Pará ao Império do Brasil em 1823.
Do historiador Aldrin Figueira - UFPA
"Quase um ano depois do grito do Ipiranga, o Grão-Pará permanecia alheio à Independência do Brasil.
O novo imperador do Brasil, Pedro I, mandou ao Pará um militar inglês de 23 anos, John Pascoe Grenfell com a missão de anexar essa província rebelde ao novo império do Brasil. No porto de Belém narrou que trazia uma esquadra de 23 navios e que a adesão havia que acontecer por bem ou por mal. Mentiu ou omitiu que a maior parte dos navios ficara pelo caminho em combates na Bahia, Pernambuco e Maranhão.
As elites paraenses, em sua maioria, desiludidas com a velha política da metrópole acabou por apoiar o imperador. O povo, no entanto, a soldadesca de baixa patente, pequenos trabalhadores, alguns chamados “patriotas” lutaram contra essa adesão forçada.
O motim aconteceu. Grenfell foi inclemente. Cinco líderes das tropas paraenses foram presos e mortos sem direito a julgamento.
Até o arcipreste da catedral da Sé de Belém, cônego João Batista Gonçalves Campos foi levado ao largo do Palácio do Governo e posicionado diante de um canhão para que confessasse sua participação como “cabeça” da revolução. Salvou-o uma petição pública da Junta de Governo, em que o bispo D. Romualdo Coelho lembrava que explodir sua cabeça seria dar um pernicioso exemplo às classes “inferiores”, especialmente os escravos africanos que viam tudo diante de seus olhos sedentos de liberdade.
A punição ao movimento não terminou com as cinco execuções. Mais de cem soldados foram conduzidos à cadeia, além de cerca de 300 civis suspeitos de envolvimento. Na noite de 19 de outubro, muitos presos tentaram arrombar a cadeia, e foi necessário assentar a artilharia em frente à prisão.
Em consequência disso, 256 homens foram transferidos para os porões do brigue Palhaço (o menor tipo de navio de guerra na época). Em questão de horas, estavam quase todos mortos. Dos quatro homens que saíram vivos do porão do Brigue, apenas o caboclo conhecido por João Tapuia sobreviveu.
Relatos da época registram a dor e ressentimento dos paraenses com esse episódio que ficou conhecido como a tragédia do Brigue Palhaço.
Cem anos depois do acontecido, em 1923, o jurista Augusto Meira comparou esse episódio com A guerra de Roma contra Cartago. Para ele, assim como os romanos tiveram que destruir a província rebelde, o Império do Brasil teve que reinventar sua "delenda est CaRthago" em pleno século XIX construindo uma falsa "adesão" a ferro, fogo e muito sangue."
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