Naquela época não tinham as duas áreas que agora tem la na Tamandaré, para jogar bola; não tinham cadeiras nas calçadas, impedindo o vaievem dos pedestres; poucos eram os carros que estacionavam nas calçadas, enfim, mal ou bem, a cidade era mais cuidada. Hoje, até os advogados ignoram as normas quando viram Secretários Municipais, funcionários do Ministério Público, da Alepa...
AO LARGO DO
CARMO – Max Reis – 07.09.14
" Parece que toda praça é um reduto
acolhedor, porém a do Carmo, na Cidade Velha, era de um aconchego tal que o
calor das duas da tarde nem incomodava. A chuva geralmente dava uma passada por
lá nesse horário, deixando um rastro de sono de sesta. Nessa época, criança não
trabalhava, pelo menos na capital. No início da década de sessenta, quando
aportei no Beco do Cardoso vindo de Abaetetuba, fui morar ali, no Largo do
Carmo. Não se dizia Praça do Carmo.
Ruas estreitíssimas e os altos
casarões emolduravam aquele pequeno átrio que me faziam lembrar os castelos
medievais europeus vistos nos filmes de guerra que os padres passavam nas
noites de sábado. Somente do alto das mangueiras ou das torres da igreja
podia-se notar um cálice e uma hóstia traçados no chão gramado da praça. A bola
rolava nesse divino assoalho esverdeado sob a proteção de um busto de Dom
Bosco. Às vezes a tutoria falhava e dois bombeiros “Cosme e Damião” apareciam —
como aparecem as visagens — na esquina da travessa Joaquim Távora. Um grito,
não sei se de gente, ecoava de cima para baixo, talvez do alto de um sobrado:
—
Polícia!!!!
Com a bola Pelé debaixo do braço
corríamos para o refúgio da igreja —
quase sempre aberta — ou para o beco
que varava no Porto do Sal. Era proibido pisar na grama. Não há quem me faça
compreender essa proibição numa região onde o que não falta é grama. Se a
estragamos pelo uso em uma estação, planta-se na outra. Afinal, para que serve
uma praça de gramíneas fofas senão para nos tentar a sentar, deitar, rolar,
correr, brincar, enfim, tatear o natural tapete amazônico? Feitas somente para
olhar e o coração não sentir?
O jeito era jogar pião, peteca e
ferrinho em espaços sem grama. A prefeitura não pagava adicional noturno e os
guardas não davam as caras ao cair da noite. Assim, o gramado era nosso e das
brincadeiras de pira-cola, bandeirinha e bang-bang.
No tempo de manga, a do tipo
bacalhau tinha a minha preferência por ser pequena e doce. O caroço cabia
inteiro na boca, o que me deixava com as mãos livres para certos jogos, mesmo
com a bochecha intumescida. Importava era sorver a manguinha até o último
fiapo. Assim como um show, aquele júbilo não podia parar. Se não maduras,
fatias de manga verde com sal davam uma boa merenda.
É certo que a falta d’água era
constante. Um bom motivo para sair feito bala em direção à sede náutica do
Paysandu, tomar um banho rápido na baía de Guajará que o portão do colégio do
Carmo fechava pontualmente às treze e trinta. Era só atravessar o Largo, mas
parecia uma eternidade chegar à sala de aula e ainda mais assim, tuíra.
Não necessitava de esperanças nem de
expectativas. Tudo estava ali pertinho, girando naquele quadrado do Largo do
Carmo: a felicidade ao redor e uma leve alegria em mim."
*******
PS: Outro dia, um Guarda Municipal me disse que as boladas das crianças não faziam nada nas casas, por isso ele nunca as proibiria de jogar na praça...
Agorinha, uma bolada dessas acabou de quebrar a grade do jardim da minha casa. Fui até a janela individuar a razão do barulho de ferro caindo. As 'crianças' me olharam e uma por uma foi embora para o Beco.
O que fazer???? Quem vai pagar o dano? A PM ou a GM?
Meia hora depois chegaram os adultos para jogar e as boladas continuaram a bater na grade do jardim.
- por que a senhora não põe uma rede de proteção? foi a resposta que me deram, quando reclamei.
Pode?
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