Foi com profundo pesar que tomamos conhecimento da
aprovação por parte do IPHAN, da proposta de novo uso do edifício do Bechara Mattar que se encontra
na entrada da Cidade Velha.
Sabemos que o IPHAN, “como
instituição federal tem por atribuição
identificar, preservar e promover o patrimônio cultural brasileiro”. Foi próprio por partilhar dessa
consideração que nos admiramos de tão solerte aprovação sem nem ao menos
sugerir algumas defesas do nosso Centro Histórico. Sabemos que a análise lá, não considera a questão
normativa de cunho urbanístico, mas algumas sugestões podiam ser dadas, ou não seria
ético?
Há
já algum tempo que, como Associação de moradores, lutamos para resolver o problema
do estacionamento na Cidade Velha, onde calçadas tombadas são usadas como estacionamento
de veículos de toda sorte de tamanho e peso; onde proprietários perderem o
direito de fazer garagens em suas casas para salvar nossa memória histórica;
onde atividades lúdicas economicamente muito rentáveis continuam a serem autorizadas no entorno de bens históricos sem estacionamento
para clientes, ignorando desde o Código de Postura até outras leis de maior ou
menor importância ... e temos que ver calados a chegada de um shopping sem estacionamento em área tombada? Isso é um
insulto a cidadania, é uma prepotência, além de um péssimo exemplo de uso das
nossas normas jurídica, do valor que deveria ter um Plano Diretor, pior, de ‘defesa’
dessa área tombada.
Há
anos o caos provocado pelo transito desordenado nesta área da cidade é conhecido
por quem trabalha e/ou passa habitualmente por ali. O ‘aparecimento” de vans e
kombis que desconhecem o Código do Transito, não veio certo melhorar a situação
da Cidade Velha... e se autoriza um shopping sem estacionamento? E o “Estudos de Vizinhança” (para conhecer
essa realidade) foi feito ou pedido por
alguém antes de aprovar esse projeto?
Autorizar
mais um restaurante chic, onde, num raio de poucos metros, encontramos já outros,
onde bem poucos cidadãos paraenses tem acesso....e também sem estacionamento para
seus clientes, pode ser considerado outro absurdo. Engraçado, restaurantes esses
para quem tem carro, não para quem anda de ônibus, e não lembraram de prever um
estacionamento...
A
necessidade de um restaurante popular naquela área é evidente. Alguém já se
perguntou onde comem os funcionários de
museus, lojas, bancos, órgãos públicos, taxistas, comerciantes e comerciários vários, que gravitam naquele
entorno? A maior parte dessas pessoas usa
ônibus, e não iria, portanto, poluir o
ar ou ocupar calçadas na hora do almoço. Eles também tem direito de ver Belém
do alto das copas das mangueiras... ou essa opção foi uma forma de defesa
daquelas pessoas que vendem comida nas calçadas sem respeitar as mais elementares regras de saúde pública?
Sabemos
que as ‘autorizações’ são dadas por órgãos da Prefeitura e que não é um
problema do IPHAN, mas permitir que a situação do Centro Histórico piore sem
nem ao menos solicitar atenção para o que tal empreendimento irá provocar,
podia ser lembrado.
Não
conseguimos ver de que forma este projeto, esta solução contemporânea, dialoga
“com elementos formais do passado”. Isto não nos parece um
dialogo, mas uma ‘agressão’. Agressão não somente a nossa inteligência,
mas ao bom senso e ao bom gosto.
Podemos
até ter “ bons
exemplos no Brasil e no exterior, de soluções contemporâneas em
áreas históricas que são internacionalmente reconhecidas como
bem resolvidas”, mas isto não se aplica ao caso em exame, pois parece
mais um tapa na cara de quem defende o nosso patrimônio. Nos faz perder a
confiança num futuro diferente; nos faz desacreditar na democracia.
Desse
jeito, a ‘profecia’ do Mosaico de Ravenna vai aos
poucos, e prepotentemente, se realizando... Então perguntamos: por que tombaram
a Cidade Velha se o interesse não é defende-la?
Dulce
Rosa de Bacelar Rocque.
Cidadã
da Cidade Velha.
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