terça-feira, 15 de abril de 2025

MARCO TEMPORAL DO PATRIMÔNIO...

 

Ultimamente ouvimos falar muito em Marco Temporal relativamente a demarcação de terras indígenas. De quem eram as terras antes da Constituição de 88?... eu acho que eram dos índios, mas aqui quero alargar o âmbito do Marco Temporal a outro argumento.

   Prédio do atual Forum Landi antes da modificação da fachada com o fechamento de suas portas

A defesa do nosso patrimônio histórico, principalmente àquele “construído”, começa quando? Ele já existia antes do tombamento e o que notamos? Que é depois das várias leis de tombamento, que vimos as contradições acontecerem, dirigidas pelos vários Masters e PHDs que se apoderaram do argumento. Desse jeito só ajudam a destruir/modificar mais ainda nossa memória histórica.

Usando um exemplo recente: o tombamento de parte da Cidade Velha pelo IPHAN em 2012. Os prédios, as praças e as ruas dessa pequena área deveriam ser salvaguardados e defendidos para proteger nossa memória histórica. De que jeito? Nenhum advogado ou legislador entrou em detalhes depois do ato do Iphan.


                                                       Praça do Caarmo, anos 50.

Acontece que os proprietários e moradores começaram a notar opiniões e decisões diversas relativamente a modificação das casas, incluindo a cor das mesmas. Durante as discussões sobre o uso do dinheiro do PAC das Cidades históricas, a superintendente do IPHAN definiu o tombamento como a manutenção da área como se encontrava no momento do tombamento. Tipo uma fotografia de então.

Todos entendemos que não se poderia modificar a frente das casas, por exemplo, mas dentro também, tinha quem assim decidiu... mas não escreveu. As buzinas não foram proibidas assim como a poluição sonora, o asfaltamento dos paralelepípedos, e a cor das casas, idem. Nada desses detalhes estava escrito em algum ato posterior a data do tombamento, assim cada um dizia e fazia a seu modo.

Ex travessa da Vigia,hoje Felix Rocque

A nossa memória começou a mudar e ficar colorida pois a cor das casas começaram a mudar tendo como referência um arco íris de cores fortes... Os termos “salvaguarda, defesa, proteção” foram ignorados com a desculpa dada por um  Master de que: “não tinha lei que proibisse”. O sentido dessas palavras foram totalmente ignorados e o carnaval de cores na Cidade Vellha começou a se alastrar, assim como as buzinas, os fogos de artificio e a poluição sonora.

Como pensavam essas pessoas que autorizavam opróbios nessa área tombada, de defender e salvaguardar nossa memória histórica? Como podiam se lembrar de casas coloridas do lado das casas azulejadas, se eram todas de cores tênues e principalmente amarelas...


      Calçada da rua Dr.Assis, com degraus para evitar a entrada da chuva, nas lojas.

A falta da cultura do “direito” como matéria de estudo, é um dano enorme para com a defesa do nosso patrimônio. A falta de conhecimento do valor das palavras é outro indício de despreparo, superficialidade e/ou incompetência. As leis não falam de embelezamento das áreas tombadas...como alguns arquitetos fizeram.

Na falta de uma lei complementar ao tombamento, uma explicação do sentido ao menos das palavras salvaguarda, defesa, proteção, conservação, preservação,  podia ser feita criando um marco temporal para as áreas tombadas.  Ficaria assim bem claro, que, depois de um tombamento, todas as construções da área tombada devem receber o mesmo tratamento, sejam elas do poder público ou propriedades privadas. Assim sendo se evitaria, inclusive, o carnaval de cores onde nunca existiram.

Tal Marco Temporal do Patrimônio ou do tombamento, serviria para deixar claro  à sociedade  uma data de referência para que a preservação seja feita  de forma mais correta, justa, ordeira, ética e coerente com a intenção que levou ao tombamento: resguardar nossa memória histórica.

 

P.S. No inicio da atividade do Forum Landi foram feitas fotografias de todas as casas da area tombada da Cidade Velha. Não sei se a cores ou em branco e preto, mas devem existir nos arquivos.

 

2 comentários:

  1. Com o advento da COP30 já comentei com um amigo sobre a Cidade Velha. Vou enviar esse texto para ele.

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  2. Obrigada, Célio Barun: Manda este também, https://laboratoriodemocraciaurbana.blogspot.com/2025/01/para-quem-nao-foi-sabatinado.html

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