Os arquitetos mais sérios, com certeza, gostariam de estar
no meu lugar neste momento, seguindo os trabalhos de restauro de uma “villetta”
anos 20, ou seja de cem anos atrás, construída em Roma. Trata-se de uma
construção tipo “Barocchetto Romano” a ser salvaguardada, num bairro onde
muitas outras ainda estão de pé, bem conservadas.
Este prédio depende da “Soprintendenza Speciale Archeologia Belle Arti e Paesaggio di Roma” que tem como atividade a tutela, conservação e valorização dos bens imóveis ou moveis de interesse artístico, histórico, arqueologico, demoetnoantropologico, arquitetonico e paisagistico pertencentes a orgãos públicos ou institutos legalmente reconhecidos.
É o equivalente ao nosso IPHAN, na Itália, e sua atividade
abranje também,os bens pertencentes a privados cidadãos, se declarados de
interesse particularmente importante e notificados de forma administrativa aos
proprietários como previsto no Decreto Ministerial emanado de acordo com a lei 1 de
junho de 1939, n. 1089 (em vigor até 2004) ou através de quanto estabelecido no D.Lei. 22 de
janeiro de 2004, n. 42: Codice
dei Beni Culturali e del Paesaggio.
Em toda Italia são 43
esses órgãos e dependem do Ministério da Cultura. Cuidam da catalogação dos
bens de interesse cultural presentes no território de sua competência,
indispensavel para a formulação de ações orgânicas de tutela dos mesmos. Com ato do superintendente,
autorizam a execução de obras e trabalhos de qualquer gênero nos bens culturais;
seja para os bens de propriedade pública, seja aqueles de propriedade privada já com declaração de interesse. O pedido é
feito pelo proprietário do bem cultural e autorizado entro 120 dias.
Vamos abrir um parentese: para quem faz um pedido, esperar 120 dias é chato, mas se pensarmos na quantidade de prédios e monumentos que tem em Roma, com toda a história que carrega nas costas... Um absurdo seria pretender tanto em Belém, para o tão pouco que temos para salvaguardar...
O bairro onde se encontra o prédio em exame é Città Giardino, que, mesmo se acabou de completar 100 anos, mantém uma forte identidade histórica e arquitetonica tendo no seu entorno ruas movimentadas como a Nomentana. A Praça Sempione foi o centro das festas desse centenário e, até uns anos depois da Segunda Guerra Mundial, era ainda rodeada de villette como esta em exame.
A parte externa das obras, são aquelas mais controladas pela Superintendencia em questão. Internamente, o proprietário do bem, tem maior liberdade de ação. No caso em exame o assoalho, na maior parte da casa é de ladrilho tipo marmorite, e pode até ser mantido, como antes. As telhas devem ser as tradicionais: teto solar é proibido. No momento de escolher a cor do prédio o proprietário deve fazer duas propostas ao ente que vai decidir a cor... O arco íris não está em exame: ao redor, todos os prédios são de tonalidades amarela, bem claras e dessa gama devem sair as tonalidades a serem escolhidas para os muros externos.
Mesmo viajando por países com história antiga, os turistas brasileiros nem
notam esses detalhes. A parte a Grecia onde em suas ilhas o branco é dominante,
nas cidades históricas europeias, as cores das casas variam de acordo com a
tonalidades das pedras ou da queima do tijolos, usados durante a construção. Na
Italia, Bolonha, chamada “la rossa” (vermelha).é conhecida assim pela
tonalidade da queima dos tijolos, quando não faziam ainda o reboco... e não, por ter sido governada por comunistas durante 50 anos... Ali se encontram todas as tonalidades da queima dos tijolos do amarelo pálido ao vermelho sangue de boi... e não é um erro, é a realidade em tantos anos de história. Agora, roxo ou verde bandeira, em Belém, da onde vem é que não sabemos....
Sabem o que notam os nossos turistas no exterior? Que os bares usam as calçadas... sem notar se passam carros, onibus e, pior, sem saber o custo que é para o dono do bar aquele uso... cobrado ao turista, depois. Lá se paga, em muitos casos, o uso da calçada que é pública, para pedestres. Aqui é de graça esse abuso que tira um direito ao cidadão, em troca de nada... Na nossa lei está escrito "calçada é para pedestre", mas, la vem a história de conhecer a lingua... ou, a de respeitar a lei. E ainda se acham "civilizados".
Ao viajar, olhar o entorno com mais atenção, seria interessante para descobrir como defender nossa memória sem exageros, superficialidades, distrações ou... se deixar levar pelas pretensões de categorias economicas.
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